O ex-governador de São Paulo e ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), afirmou que a redução da taxa básica de juros (Selic), que hoje está em 13,75%, abriria espaço para investimento público, gerando “mais obra e mais emprego”.
“Cada vez que você reduz 1% do juro, você coloca R$ 60 bilhões a mais em possibilidades de gasto para o governo. Isso significa mais obra, mais emprego”, apontou o ministro em entrevista ao jornal O Globo.
“Do nosso ponto de vista, os acertos econômicos são tão densos que fica um pouco difícil defender uma posição tão radical de manutenção do juro alto”, completou França, criticando o juro alto mantido pelo BC.
O Conselho de Política Monetária (Copom) do BC, banco presidido por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro, manteve a taxa básica em 13,75%, deixando o Brasil com a maior taxa de juros real (descontada a inflação) do planeta. O ano de 2022 fechou a taxa de juros real em 8,15%, a maior do mundo.
Sobre as críticas ao presidente do BC, Campos Neto, Márcio França disse que “à medida que a pessoa se dispõe a estar num mandato que é independente, tem que saber que também está sujeito a críticas”.
“E se eles [integrantes do Copom] estiverem errados? Porque quando a gente erra, não se elege. Quando eles erram, qual é a punição?”, questionou.
As taxas básicas de juros praticadas pelo Banco Central têm sido criticadas pelo presidente Lula, por empresários e por economistas, que denunciam o estrangulamento de todo o setor produtivo que é gerado.
A empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, afirmou que “não existe justificativa para termos a taxa de juros mais alta do mundo em um momento em que a inflação está controlada e a economia do país precisa crescer”.
“Essa postura só faz diminuir o crédito e inibir o consumo, o que só gera mais desemprego em todos os setores da economia”, acrescentou.
“Um país como o nosso vive de renda e de crédito, a renda vem do emprego e o emprego vem da venda. O crédito com 13,75% não tem cabimento, ninguém pode comprar produto a prazo”, explicou Trajano.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que a autonomia do Banco Central “subiu para a cabeça” de Roberto Campos. “Salve-se a especulação e dane-se a Nação”, escreveu.
DIÁLOGO
Na entrevista ao Globo, França comentou sobre o diálogo que o governo tem estabelecido com setores que não compõem formalmente a base aliada para a discussão de projetos no Congresso Nacional.
Márcio França destacou a participação do vice-presidente Geraldo Alckmin, de quem foi vice-governador de São Paulo.
“Como o Alckmin foi também escolhido para ser ministro, ele tem uma interlocução com setores em que muitos não optaram pela gente na eleição. O Alckmin acaba sendo uma ponte para a volta dessas pessoas que querem retomar o relacionamento com o governo”, disse.
O ministro dos Portos e Aeroportos falou que o governo federal está dialogando e criando articulações políticas, sendo uma prova disso a aprovação da PEC da Transição, antes mesmo da posse do presidente Lula.
“O governo tem base, mas não é mais aquele antigo formato de base, numérico. Os partidos não têm mais aquela configuração”.