Jair Bolsonaro anunciou, na quarta-feira (9), a demissão de Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo, com o objetivo de entregar o cargo para partidos do “centrão”, representado, entre outros, por Ciro Nogueira (PP) e Roberto Jefferson (PTB), ambos envolvidos em esquemas de corrupção e com os quais Bolsonaro vem se aliando nos últimos tempos.
O ex-ministro também está sendo investigado por chefiar um esquema de desvio do fundo eleitoral do PSL de Minas Gerais em 2018.
A saída de Marcelo do Ministério já era dada como certa, mas uma briga entre ele e Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, no grupo de Whatsapp dos ministros do governo Bolsonaro, acabou por antecipá-la.
Ele escreveu no grupo de WhatsApp formado por ministros: “Não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR (presidente) pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados”.
Marcelo Álvaro acusou Ramos de estar articulando sua saída do Ministério. O conflito foi confirmado por três fontes da revista Veja, que também comentaram que o atrito entre seus subordinados teria revoltado Bolsonaro. Um dia depois, foi confirmada a demissão.
Numa mensagem, o ex-ministro disse que Ramos é incapaz na articulação política e o chamou de desleal. “ Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor”, disse o então ministro do Turismo, na mensagem que lhe custou o cargo.
Após a demissão, o ex-ministro afinou e pediu desculpas: “Como disse o próprio Ministro Ramos a (sic) pouco e pessoalmente comigo, a forma mais adequada seria procurá-lo e relatar o ocorrido. Mas creio que todos nós em algum momento da vida agimos erroneamente, foi o meu caso. Ministro Ramos, sei que o Sr. é um homem honrado. Mais uma vez peço que me perdoe pelo ato injusto e impensado da minha parte. Um abraço fraterno!”, escreveu Álvaro Antônio.
O ministro Eduardo Ramos não aceitou suas desculpas.
Ao demitir Álvaro Antônio, Bolsonaro lhe disse que o WhatsApp não era o melhor canal para expor divergências e que elas deveriam ser resolvidas ao vivo, mas não em público.
O ex-ministro é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa por conta de um esquema que chefiou em 2018, quando foi presidente estadual do PSL de Minas Gerais. As penas são de cinco, seis e três anos de prisão, respectivamente.
O esquema envolvia pelo menos quatro candidaturas laranja, todas de mulheres, que deveriam gastar parte do dinheiro do fundo eleitoral em empresas ligadas a assessores de Marcelo Álvaro Antônio.
As ex-candidatas Lilian Bernardino, Milla Fernandes, Débora Gomes e Naftali Tamar receberam, juntas, R$ 279 mil para realizar suas campanhas, mas receberam apenas 2.084 votos.
Do dinheiro repassado, ao menos R$ 85.000 foram para as contas de quatro empresas de assessores, conhecidos ou parentes de Marcelo Álvaro.
Uma planilha encontrada pela Polícia Federal em uma das gráficas contratadas pelos candidatos do PSL em 2018 corrobora com a versão do assessor. A planilha, nomeada como “MarceloAlvaro.xlsx”, divide os valores entre “NF” (Nota Fiscal) e “out” (fora, em inglês).
De acordo com o depoimento de um dos assessores do ex-ministro, Haissander Souza de Paula, o dinheiro desviado das candidaturas laranjas foi usado na campanha de Marcelo Antônio a deputado federal, que não chegou a exercer o mandato por ter sido nomeado para o Ministério.
Bolsonaro nomeou Gilson Machado, ex-diretor-presidente da Embratur, para o lugar de Marcelo Álvaro Antonio, e confirmou Carlos Alberto de Gomes Brito para o lugar de Gilson na Embratur.