
O ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou na última segunda-feira (1º) o mandado de prisão preventiva contra o bicheiro Rogério de Andrade, alvo da Operação Calígula, de maio deste ano, em que foram presos os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém. Rogério está foragido da justiça desde então.
Nunes Marques deferiu uma medida cautelar pedida pela defesa do bicheiro em uma reclamação ao STF, anulando a ordem de prendê-lo expedida pela 1ª Vara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça do Rio.
Os advogados de Rogério alegaram que o pedido de prisão, feito pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), foi baseado na apreensão de um celular em 2019.
A defesa sustentou não haver fato novo que o justificasse.
OPERAÇÃO CALÍGULA
A “Operação Calígula”, deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) no dia 10 de maio, teve mais de 30 denunciados, 14 presos e Gustavo e Rogério como foragidos. O nome de Rogério chegou a constar da lista dos mais procurados da Interpol.
Segundo a denúncia do MPRJ que embasou a “Operação Calígula”, Rogério Andrade expandia seus negócios de exploração de jogos de azar em vasta área geográfica, mediante a imposição de domínio territorial com violência, além da prática reiterada e sistêmica dos crimes de corrupção ativa, homicídio, lavagem de dinheiro, extorsão, ameaça, dentre outros.
Rogério seria o chefe da organização criminosa que contava ainda com o miliciano Ronnie Lessa, assassino da vereadora carioca Marielle Franco, além de delegados de polícia que facilitavam as ações do grupo.
Segundo as investigações da força-tarefa do MPRJ sobre o atentado à vereadora, Rogério e Ronnie abriram casas de apostas e bingos em diversos estados pelo menos desde 2018.
O MPRJ afirma que a quadrilha “estabeleceu acertos de corrupção estáveis com agentes públicos, principalmente ligados à segurança pública, incluindo tanto agentes da Polícia Civil, quanto da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro”.
“Nesta esfera, integrantes da quadrilha, membros da Polícia Civil, mantinham contatos permanentes com outros policiais corruptos, pactuando o pagamento de propinas em contrapartida ao favorecimento dos interesses do grupo de Rogério”, destacam os promotores.
“Oficiais da PM serviam de elo entre o grupo e batalhões de polícia, que recebiam valores mensais para permitir o livre funcionamento das casas de aposta do grupo”.
Em um destes episódios, o delegado Marcos Cipriano intermediou encontro entre Ronnie Lessa, Adriana Belém, então titular da 16ª DP (Barra), e o inspetor Jorge Luiz Camillo Alves, braço direito de Adriana.
Na reunião, segundo o MPRJ, acertaram a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em uma casa de apostas, mediante propina paga por Rogério.
Os promotores sustentam que para viabilizar o “nefasto plano criminoso”, foram imprescindíveis a participação de Adriana Belém e Jorge Luiz.
RELAÇÃO ANTIGA
“A parceria entre Rogério e Ronnie para a prática de ações criminosas é apontada nas denúncias como antiga”, afirma o MPRJ. “Há elementos de prova de sua existência ao menos desde 2009, quando Ronnie, indicado como um dos seguranças de Rogério, perdeu uma perna em atentado a bomba”, descrevem os promotores.
“Em 2018, ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, os dois denunciados se reaproximaram e abriram uma casa de apostas no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, havendo elementos indicando a previsão de inauguração de outras casas na Zona Oeste”.
Dois delegados também foram presos, incluindo Adriana Belém, na casa de quem foram encontrados quase R$ 2 milhões em espécie.
Ela foi detida na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. “O gigantesco valor em espécie arrecadado na posse da acusada, que é Delegada de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, aliado aos gravíssimos fatos ventilados na presente ação penal, têm-se sérios e sólidos indicativos de que a ré apresenta um grau exacerbado de comprometimento com a organização criminosa e/ou com a prática de atividade corruptiva (capaz de gerar vantagens que correspondem a cifras milionárias)”, diz a decisão do juiz Bruno Monteiro Ruliere.