“Devemos atirar para matar”, declarou o ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, referindo-se aos palestinos que, em manifestações desde o mês de março, se aproximam da cerca levantada por Israel na fronteira exigindo o fim do bloqueio à Faixa de Gaza.
Diante da declaração, o entrevistador, da rádio Ondas do Exército (Galei Tzahal) perguntou: “Inclusive as crianças?”
“Não são crianças, são terroristas. Não vão nos fazer de bobos”, foi a resposta do ministro.
A entrevista com Bennett, que integra o Gabinete de Segurança do governo de Bibi Netanyahu, se deu no bojo de uma divergência deste com o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, sob cujo comando já morreram 140 manifestantes palestinos e mais mil ficaram feridos, desde que as manifestações denominadas “Grande Marcha do Retorno” tiveram início em março.
Para Bennett, que diverge “em tudo de Lieberman”, o exército de Israel estaria sendo suave demais. Uma das medidas ‘educativas’ sugeridas pelo ministro seria a destruição sumária das casas dos tais ‘terroristas’ mortos nas manifestações, o que serviria de lição aos familiares, mais de 100, que ficariam sem teto da noite para o dia.
Depois que as manifestações foram reprimidas com munição viva e as mortes começaram a se avolumar, os palestinos de Gaza avançaram na disposição de resistir de forma mais efetiva lançando pipas em fogo, coquetéis molotov sobre os soldados israelenses e pneus em chamas na direção da cerca que isola Gaza do mundo. Uma fustigação que tem mais de simbolismo, de que os israelenses , entre os mais bem armados do mundo, não terão a paz enquanto a ocupação permanecer.
É o pretexto suficiente para o regime de apartheid israelense denominar de ‘terroristas’ os palestinos que resistem – com os meios que podem – ao terror e à ocupação israelense em territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia, lembrando que Israel ocupa ainda territórios árabes ao sul do Líbano e no alto do Golã, sírio.
Para Bennett, os soldados israelenses devem seguir matando palestinos, “como temos feito [desde março] só que com juros”.
O ministro disse também que a Autoridade Nacional Palestina deveria ser proibida de fornecer (como faz atualmente) ajuda de custo para os palestinos encarcerados por Israel, por resistirem à ocupação e que contam mais de 3.000 hoje.
A Grande Marcha teve início quando Trump decidiu transferir a embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, premiando a anexação da Jerusalém Oriental (árabe) a Israel, passando por cima de todos os acordos entre Israel e Palestina e do entendimento internacional sobre o destino compartilhado de Jersualém, capital histórica da Palestina.
Enquanto isso, o massacre, que o ministro do regime de usurpação e apartheid de Israel (país tão idolatrado por Bolsonaro e seu séquito) acha pequeno, tirou a vida de mais 14 palestinos, incluindo 4 crianças, somente no período das manifestações de 23 de setembro a 6 de outubro, de acordo com o informe da Organização Mundial de Saúde, que tem acompanhado e registrado os números desta mais recente tragédia palestina.
O informe revela que do dia 30 de março, até 6 de outubro, 205 palestinos foram mortos, 1434 feridos, dos quais 737 foram hospitalizados, incluindo 150 crianças e 32 mulheres. Destes, 12 estão em condição crítica. Entre os feridos houve 81 amputações, incluindo 15 crianças.
Na matéria abaixo, de Leonardo Severo, temos o testemunho da agressão que atingiu os olhos das crianças palestinas no período do levante palestino, há 20 anos. De lá para cá, a sanha do regime de apartheid só aumentou, os tiros são com munição viva e há elementos como Bennet que querem mais sangue sobre o solo palestino.
NATHANIEL BRAIA