O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou-se surpreso com as recentes declarações de Bolsonaro, atacando a família e o presidente nacional do OAB, Felipe Santa Cruz.
“Tempos estranhos. Aonde vamos parar?”, indagou o ministro.
Questionado pelo blog de Tales Faria sobre o que fazer para acabar com essas declarações, o ministro Marco Aurélio Mello, entre outras coisas, propôs:
“No mais, apenas criando um aparelho de mordaça”.
Outro ministro se pronunciou pedindo para ficar no anonimato:
“O pior de tudo é o mau exemplo, a associação do sucesso político ou qualquer outro à incivilidade e à grosseria. Por outro lado, acho que pode ser um marco de como as pessoas não devem ser. A repugnância tem sido geral.”
Irritado com a OAB por causa da decisão judicial que declarou Adélio Bispo, o autor da facada que ele sofreu durante a campanha eleitoral no ano passado, Bolsonaro atacou a entidade e seu dirigente, Felipe Santa Cruz: “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia se o presidente da OAB [Felipe Santa Cruz] quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”.
“Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar às conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco, e veio a desaparecer no Rio de Janeiro”, acrescentou Bolsonaro.
Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, desapareceu, aos 26 anos, ao ir a um encontro, no Rio de Janeiro, em 1974, com um colega, Eduardo Collier Filho. Os dois foram presos em Copacabana, no dia 23 de fevereiro daquele ano, como relata o livro “Direito à Memória e à Verdade”, produzido pelo governo federal.
Felipe tinha dois anos quando o pai desapareceu.
Diante dos protestos, mais tarde Bolsonaro afirmou que Fernando Santa Cruz teria sido morto pela própria organização na qual militava. Documentos da Aeronáutica desmentem essa declaração e relatam a prisão do jovem militante da Ação Popular.
A agressão de Bolsonaro ao presidente da OAB e à sua família gerou inúmeros protestos de vários setores no país.
O jurista Miguel Reale Jr afirmou que “é um fato gravíssimo” o que Bolsonaro disse. “Há mais de um ano, disse que quem fosse democrata não deveria votar no Bolsonaro”, lembrou. “Estamos, realmente, em um quadro de insanidade da mais absoluta. Não é mais caso de impeachment, mas de interdição”, disse Reale.
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, declarou que o ataque de Bolsonaro a Felipe Santa Cruz, ao falar sobre seu pai desaparecido político no período da ditadura militar, foi “desrespeitoso, abusivo e lamentável”, pois Bolsonaro não tem o poder de reescrever a história.
Para o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o presidente da OAB foi “violentamente agredido, por palavras que não são apenas grosseiras, são desumanas”.
A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva também se solidarizou com Felipe Santa Cruz e contra as aberrações ditas por Bolsonaro: “Falta ao presidente sentido de dignidade e compostura em relação ao cargo que ocupa. Brinca com uma situação dolorosa na vida de um filho que perdeu o pai durante a ditadura. É ultrajante! Depois de atacar a imprensa livre, atenta contra a advocacia, outro pilar da democracia”.
A Anistia Internacional, em nota, pediu que o caso seja levado à justiça.
“É terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no país, declarações tão duras”, afirmou a diretora-executiva da Anistia no Brasil, Jurema Werneck.
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