A missão lunar não-tripulada da Índia decolou na segunda-feira (22) do centro espacial Satish Dhawan, no estado de Andhra Pradesh, com o objetivo de colocar na superfície da Lua um jipe robótico – que prospectará a presença de gelo -, façanha que tornará o país o quarto a pousar naves no satélite da Terra, depois de Rússia/União Soviética, EUA e China, e o primeiro a fazê-lo no pólo sul.
Se tudo correr como programado, a missão não-tripulada Chandrayaan-2 (veículo lunar, em sânscrito) irá pousar na Lua no dia 7 de setembro de 2019, após manobras meticulosamente planejadas e depois de percorrer a distância de 384.000 km, que separa a Terra de nosso satélite.
De projeto genuinamente indiano, tecnologia nacional indiana, a Chandrayaan-2 pesa quase 4 toneladas e inclui um módulo orbital, um módulo de descida, que foi batizado em homenagem ao pai do programa espacial indiano, Vikram Sarabhai, e um jipe robótico, o Pragyan. O lançamento ocorreu dois dias depois dos 50 anos do homem na Lua.
Desde que chegou ao poder em 2014, o primeiro-ministro Narendra Modi já aumentou a verba para o programa espacial em 75%, para US$ 1,8 bilhão (124 bilhões de rúpias) no orçamento 2019/20 da Índia.
“Esta missão vai oferecer novos conhecimentos sobre a Lua”, postou Modi, elogiando o trabalho dos cientistas indianos. “O lançamento de # Chandrayaan2 ilustra a destreza de nossos cientistas e a determinação de 1,3 bilhão de indianos para escalar novas fronteiras da ciência”, registrou. O programa espacial indiano foi iniciado em 1947 pelo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru, logo após a independência, e recebeu apoio soviético e, depois, russo.
CHANDRAYAAN-2 A CAMINHO
Por toda a Índia foi aplaudido o lançamento, que chegou a ser adiado por uma semana por um problema técnico. A Chandrayaan-2 partiu a bordo de um foguete Mark III de 14 andares, com os técnicos da agência espacial indiana (Isro) comemorando com apertos de mão e abraços o sucesso do lançamento e entrada em órbita da Terra vinte minutos depois.
“Chandrayaan 2 é única porque estudará o polo sul da superfície lunar, que ainda não foi explorado, e do qual não se recolheram amostras em nenhuma das missões anteriores”, comentou Modi, via Twitter.
Os objetivos primários da missão indiana são demonstrar a habilidade para a alunissagem controlada e para a operação do jipe robótico na superfície. As metas científicas incluem o estudo da topografia lunar, mineralogia, abundância de elementos, exosfera lunar e traços de hidroxila e gelo. Também irá buscar, nas crateras e na superfície lunar, indícios que ajudem a elucidar a história do sistema solar.
O módulo orbital mapeará a superfície lunar e ajudará a preparar mapas 3D. O radar a bordo também mapeará a superfície, ao mesmo tempo em que estudará o gelo na região polar sul e a espessura do regolito lunar [o material solto, que cobre as rochas] na superfície. Também informará a localização e abundância de água lunar, visando uma base futura.
Este ano, é a terceira tentativa de alcançar a Lua, depois da bem sucedida missão chinesa – e do módulo israelense Beresheet ter se esborrachado no solo.
“É um momento de orgulho para todos os indianos”, afirmou o presidente Ram Nath Kovid, que acrescentou esperar que a agência espacial indiana continue “a dominar novas tecnologias e conquistar novos patamares”.
GELO NO POLO SUL
A presença de gelo na Lua foi confirmada no ano passado por estudos a partir dos dados obtidos pela missão não-tripulada Chandrayaan-1, que em 2008 orbitou em torno da Lua, e está sendo considerada essencial para a criação de bases na Lua.
“Foram os instrumentos utilizados no Chandrayaan-1 que ajudaram a descobrir não apenas a presença de moléculas de água e moléculas de OH (hidroxila), mas também o processo de formação dessas moléculas. Vamos agora acompanhar as atividades do Chandrayaan-1 com o nosso próprio Chandrayaan-2, que estará aprimorando o que identificamos e tornando-o mais concreto tanto em termos de presença quanto de distribuição de água na Lua”, disse o ex-presidente da agência, AS Kiran Kumar.
Um dispositivo a bordo do Chandrayaan-1 media como as moléculas absorvem a luz infravermelha, possibilitando distinguir entre líquido, vapor e gelo. A maior parte do gelo está localizada entre as crateras dos polos, onde as temperaturas não passam dos – 150ºC. Devido à inclinação da Lua, a luz solar nunca atinge essa parte da superfície.
A descoberta de gelo na Lua – o que já era suspeitado, mas até então sem confirmação – facilita enormemente os projetos de estabelecimento de bases na Lua, para a exploração do nosso satélite e como apoio para ida a Marte.
DESAFIOS
Nos próximos 47 dias, o centro espacial indiano terá que fazer o Chandrayaan-2 executar 15 manobras cruciais, até finalmente entrar em órbita ao redor da Lua. Depois, a colocação, no solo lunar, do jipe robótico: o dia D.
“Vamos experimentar 15 minutos de terror, para garantir que a alunissagem seja feita com segurança perto do polo sul”, acrescentou o presidente da agência espacial indiana, K. Sivan. A descida é a etapa mais delicada e complexa da missão, em decorrência de problemas como variações na gravidade lunar, terreno íngreme e poeira.
A Índia tem também planos para uma missão espacial tripulada até 2022 e também de missões para estudar Vênus e o Sol.
Na área da defesa, em março deste ano, a Índia abateu um de seus próprios satélites para demonstrar suas capacidades anti-satélite, com Modi fazendo um anúncio público do evento e saudando a chegada da Índia à condição de potência espacial.
Os contratempos no lançamento da Chandrayaan-2 também serviram para demonstrar a crescente capacidade técnica do programa espacial indiano. Depois de um vazamento no sistema propulsor do foguete ter sido detectado 53 minutos antes do lançamento planejado para 15 de julho, a equipe da agência indiana conseguiu identificar a causa da pane – uma válvula com defeito – e trazer o veículo de volta à normalidade, tudo em 24 horas. “O trabalho feito para trazer o veículo de volta ao normal foi espantoso. É o começo de uma jornada histórica da Índia em direção à Lua”, ressaltou Sivan.