Ele disse à PF que não tinha nenhuma relação com o senador capixaba, mas não explicou porque se reuniu com ele e Daniel Silveira num domingo no Palácio da Alvorada pouco antes da diplomação de Lula
O depoimento de Jair Bolsonaro (PL) na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, nesta quarta-feira (12), é a quarta oitiva do ex-presidente sobre investigações de seus possíveis crimes. Ele já é investigado em outros três inquéritos por tentativa de se apoderar ilicitamente das joias árabes, por fraudes em registros de vacinação contra a Covid-19 e incitamento ao terrorismo no dia 8 de janeiro.
Agora, ele foi obrigado a se explicar sobre mais uma trama golpista. Desta vez o relato foi feito por um de seus seguidores, o senador Marcos do Val (Podemos-ES). Em fevereiro deste ano, o senador procurou a imprensa para denunciar que foi coagido por Bolsonaro e pelo ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) “a participar de um golpe”.
O senador resolveu contar em fevereiro sobre uma conversa que teria tido em dezembro com Bolsonaro e Daniel Silveira. A proposta discutida pelos três envolvia a gravação por parte do senador de uma conversa dele com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. O plano, segundo o senador bolsonarista, seria instigar o ministro do STF e do TSE a admitir que estava extrapolando os limites constitucionais.
Apesar de sua baixa credibilidade – o senador depois desmentiu a cronologia que resultaria na decretação do “Estado de Defesa” no TSE, descrito no roteiro do golpe encontrado no celular de Mauro Cid, os fortes indícios reforçam a versão do parlamentar e desmentem a de Bolsonaro, que disse não conhecer Do Val.
O relatório da PF concluiu que Do Val, Silveira e Bolsonaro realmente se encontraram em dezembro, antes da diplomação de Lula. O relatório também ratificou que Moraes havia recebido o senador para uma audiência no Salão Branco do STF em 7 de dezembro do ano passado.
Em seguida, Do Val se encontrou com Jair Bolsonaro e Daniel Silveira em 8 de dezembro e relatou a reunião a Alexandre de Moraes na noite de 9 de dezembro por mensagem. O plano era fazer parecer que o ministro que presidia o TSE estaria perseguindo um dos candidatos.
Com a gravação nas mãos, que ele conseguiria junto ao ministro, segundo Do Val, o plano golpista seria colocado em prática. Os detalhes foram encontrados no celular do “faz-tudo” de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Pela trama, aliados do ex-presidente solicitariam a prisão de Moraes e a anulação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Assim que o caso veio à tona, em fevereiro, pela boca do próprio senador, quando este percebeu que Bolsonaro, nos EUA, estaria planejando tirar o corpo fora, Alexandre de Moraes abriu um inquérito policial para investigar os três, Do Val, Bolsonaro e Daniel Silveira. Do Val desdisse o que havia relatado. Este era mais um sinal de que havia um golpe em preparação antes da posse de Lula.
Bolsonaro disse em entrevista nesta quarta-feira (12) que confirmou no depoimento à PF ter se reunido com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e com o ex-deputado federal Daniel Silveira, em 8 de dezembro do ano passado. Eles se encontraram, mas Bolsonaro disse não ter aventado planos de gravar o ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente diz que a reunião com Do Val durou cerca de 20 minutos e foi convocada por Daniel Silveira. A reunião aconteceu foi no Palácio da Alvorada, mas quem convidou foi Daniel Silveira.
Na entrevista, Bolsonaro não explicou porque eles marcaram a reunião já que ele afirmou no depoimento não ter relação nenhuma com Do Val. Ele disse à PF que “dia 9 ou 10 de dezembro logo após aquela reunião comigo, eu respondi para ele – Marcos do Val – “coisa de maluco”. Não tinha nenhum vínculo com sr. Marcos do Val. Nada foi tratado. Não tinha nenhum plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes”, disse.
O “mito” disse que Do Val quis demonstrar que tinha algum grau de amizade com Moraes. “Tudo começou por aí. Houve o contato de Daniel Silveira, que do Val queria falar comigo assunto importante. O Daniel Silveira queria que o Marcos do Val falasse alguma coisa, mas ele não falou nada. Não sei qual foi o contato do Daniel com do Val. O que eu tinha de conhecimento é que eles não tinham relacionamento”, acrescentou.
Apesar de dizer que não tinha relação com Do Val, Bolsonaro confirmou que a reunião com Silveira e com o senador foi realizada no Palácio da Alvorada pouco dias antes da diplomação de Lula.