De acordo com o Ibre, o resultado é explicado, pela ótica da oferta, por quedas nas três grandes atividades econômicas (agropecuária, indústria e serviços) e, pela ótica da demanda, por recuos no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo
Em julho deste ano, a atividade econômica brasileira recuou -0,3% ante ao mês anterior, segundo o Monitor do PIB apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), divulgado na última quarta-feira (20).
Em nota, a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece, afirmou que “a retração de 0,3% da economia brasileira em julho é explicada, pela ótica da oferta, por quedas nas três grandes atividades econômicas (agropecuária, indústria e serviços) e, pela ótica da demanda, por recuos no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo”.
“Destaca-se”, seguiu a economista, “que a retração do consumo das famílias é a primeira após cinco meses consecutivos de crescimento e ocorreu de forma disseminada entre os tipos de consumo. Embora a economia tenha apresentado resiliência do crescimento no primeiro semestre do ano, o resultado de julho, acende alerta sobre a sustentabilidade do mesmo patamar de crescimento no restante de 2023”.
No trimestre móvel encerrado em julho, o consumo das famílias cresceu 2,6%. Juliana Trece ressalta que “desde o final de 2022 há uma tendência de desaceleração do crescimento do consumo das famílias explicada, principalmente, pela redução do crescimento do consumo de serviços”.
Por outro lado, os investimentos em máquinas e equipamentos, construção e outros – medidos pela Formação bruta de capital fixo (FBCF) – recuaram -3,2% no trimestre móvel findo em julho. “O segmento de máquinas e equipamentos, que tem apresentado quedas desde o trimestre findo em janeiro, segue ampliando sua retração e registrou queda de 9,4% no trimestre móvel encerrado em julho”, ressaltou Juliana Trece.
Desde o 2º trimestre deste ano, o PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil, vem apresentando enfraquecimento. A queda de 0,3% do PIB em julho está de acordo com o movimento de contração econômica que está proposto pelo Banco Central (BC), por meio dos seus juros (Selic) em níveis escorchantes.
Em julho, a taxa de juros Selic ainda estava em 13,75% ao ano – fixada desde agosto de 2022. Hoje, após dois cortes de 0,5 pontos percentuais – que só foi possível pela pressão social contra os juros – a taxa encontra-se encontra em 12,75%, mas ainda mantém o seu potencial de aleijar os investimentos, o consumo de bens e serviços e o mercado de trabalho.
“Temos complicadores na economia. Os juros estão elevados, as famílias estão endividadas”, apontou Juliana Trece, em entrevista ao Valor Econômico, ressaltando que “a economia tem sido bastante resiliente apesar disso”.
“Mesmo com o bônus da agropecuária super significativo no primeiro semestre, estamos vendo que o setor de serviços está conseguindo ser resiliente”, declarou. “É normal que o segundo semestre sinta mais os efeitos da política monetária [do Banco Central], porque a agropecuária não vai ter tanta interferência assim. Então é um movimento normal de ter um segundo semestre mais tímido comparado ao primeiro”, acrescentou a economista, que avalia que, mesmo com o fraco ritmo da economia brasileira, o PIB deve crescer 3% este ano.
“A questão da agropecuária e da extrativa mascaram um pouco a nossa condição. Obviamente é número bom crescer 3%, mas temos problema estrutural de taxa de investimento baixo. A indústria mostra sinais de enfraquecimento. Enquanto não conseguirmos resolver a taxa de investimento, vai ser difícil crescer um pouco mais forte”, disse Trece.
O Monitor do PIB-FGV é considerado uma “prévia” do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, calculado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deve ser divulgado nos próximos dias.
Nesta semana, o Banco Central (BC) divulgou que a atividade econômica subiu 0,44% em julho em relação a junho, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), de responsabilidade da autoridade monetária. O IBC-Br também é considerado uma prévia do PIB, mas com metodologia de avaliação diferente do Monitor do PIB-FGV, cujo a análise é mais ampla, o que faz os seus resultados se aproximarem dos números oficiais divulgados pelo IBGE.