Juros altos e redução da colheita da soja derrubaram a economia no mês
A atividade econômica caiu 3,0% em maio na comparação com abril, segundo o Monitor do PIB-FGV, divulgado nesta quarta-feira (19), considerando dados com ajuste sazonal. As elevadas taxas de juros impostas pelo Banco Central contribuíram para explicar a forte desaceleração da economia.
“O forte recuo da atividade econômica em maio reflete o fim dos principais meses de colheita da safra de soja. O expressivo crescimento do PIB no primeiro trimestre, sendo influenciado pelo desempenho da colheita de soja, elevou a base de comparação nos primeiros meses do ano e, em maio, com a redução da colheita deste produto, a atividade econômica retraiu”, segundo Juliana Trece, coordenadora da pesquisa.
“Apesar da queda do PIB ser majoritariamente explicada pelas particularidades da agropecuária, cabe ressaltar que também foram registradas retrações na indústria e nos serviços em maio, embora em magnitudes distintas da agropecuária (-0,1%, em ambas as atividades). Os juros elevados contribuíram para as pequenas quedas nestas atividades, o que ajuda a explicar a dificuldade da economia crescer de forma mais robusta e menos dependente da agropecuária”, completou a especialista.
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o último trimestre do ano passado, devido a “um dinamismo bastante concentrado na agropecuária” e, muito disso, “graças à safra da soja”, destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi),
O PIB da agropecuária teve alta de 21,6% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado, já descontados os efeitos sazonais, enquanto o PIB da indústria de transformação recuou -0,6% no período.
“Mais uma vez vemos que uma forte expansão da agropecuária não basta para dinamizar nossa economia interna. Faz falta ao país ter sua indústria em rota de crescimento”, afirmou o Iedi sobre o resultado do PIB do primeiro trimestre.
CONSUMO DAS FAMÍLIAS DESACELERA
Os juros elevados atingem também o consumo das famílias, que enfrentam um elevado grau de endividamento e de inadimplência. Segundo o Monitor do PIB, apesar do crescimento de 2,9% no consumo das famílias verificado no trimestre encerrado em maio, “há uma tendência de redução desta taxa do consumo desde o final de 2022”. E destaca que o consumo de serviços é o principal componente a explicar essa tendência declinante. “Enquanto em 2022 apresentou crescimento médio trimestral em torno de 7,0%, no trimestre móvel encerrado em maio de 2023 cresceu apenas 3,2%”.
INVESTIMENTOS EM QUEDA
A Formação bruta de capital fixo (FBCF) retraiu 0,8% no trimestre findo em maio, com destaque para o segmento de máquinas e equipamentos que caiu pelo quinto trimestre móvel consecutivo. Embora outros segmentos tenham crescido, como da construção e de outros da FBCF, “não foram em magnitude suficiente para compensar a perda ocasionada pelas máquinas e equipamentos”.
Na comparação interanual a economia cresceu 1,8% em maio e 3,5% no trimestre móvel findo em maio.
De acordo com a Fundação Getulio Vargas, as estimativas do Monitor do PIB-FGV antecedem as Contas Nacionais Trimestrais do IBGE nos meses em que este é divulgado e, nos meses em que não há divulgação, representando uma antecipação para as tendências do PIB e seus componentes.