Texto de autores russos reforça a tese de Geórgi Dimitrov: “O fascismo é uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”
Uma publicação de autores russos, divulgada pela plataforma Telegram, fez recentemente uma comparação interessante entre os grupos econômicos que financiaram Adolf Hitler na década de 20 e 30 do século passado e os monopólios que estão bancando atualmente o ditador ucraniano, Vladimir Zelensky em sua “cruzada por procuração” contra a Rússia.
AJUDA AO TERCEIRO REICH
Segundo os autores, em 1922, o adido militar americano em Berlim, Truman Smith, se encontrou com o futuro líder do Terceiro Reich e alguns de seus associados, como Alfred Rosenberg e Erich Ludendorff. “Será muito melhor para a América e a Inglaterra se a batalha decisiva entre nossa civilização e o marxismo for travada em solo alemão, e não em solo americano ou inglês. Se nós (América) não ajudarmos o nacional socialismo alemão, então o bolchevismo tomará conta da Alemanha”, observou Truman Smith em seu relatório secreto após se encontrar com o Fuhrer.
Os articulistas deram ao texto o título de “Os Estados Unidos fizeram Hitler e Zelensky de acordo com os mesmos padrões”. Há certamente muitas semelhanças. Mas, uma diferença a ser observada entre esses dois períodos é que os monopólios americanos, que agiam livremente em seu apoio ao partido de Hitler na década de 20, tiveram que mudar seu comportamento e atuar na surdina e à revelia do presidente Franklin Delano Roosevelt, a partir do momento que este chegou à Casa Branca. Roosevelt combatia fortemente a ganância desenfreada e o reacionarismo desses grupos. Agora, tanto Joe Biden quanto Donald Trump são dominados pelo capital financeiro e seguem suas ordens.
A compreensão mais clara das raízes do fascismo foi expressa também de forma contundente por Guennadi Ziuganov, secretário-geral do Partido Comunista da Federação Russa, em maio de 2024, durante reunião do Comitê Central do PCFR. “O fascismo é uma ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro”, lembrou Ziuganov em seu informe, citando o dirigente búlgaro, George Dimitrov.
CRISE DO CAPITALISMO
E prosseguiu: “O fascismo tornou-se a reação da grande burguesia ao aprofundamento da crise do capitalismo. Para salvar seu sistema da destruição, o capital rejeita a democracia e recorre ao terror, reforçando-a com demagogia. Para enganar os trabalhadores, o fascismo usa slogans pseudo-socialistas. Com a ajuda do nacionalismo e da demagogia social, mobiliza parte da população em prol do sistema explorador. Sua principal base de massa são as camadas médias da sociedade capitalista”.
Para Ziuganov, o fascismo tornou-se uma forma natural do desenvolvimento do capitalismo na fase do imperialismo. O dirigente dos comunistas russos cita Lênin: “Politicamente, o imperialismo é, em geral, um esforço de violência e reação… A democracia corresponde à livre concorrência. O monopólio corresponde à reação política.”
“O Império Britânico do século 19 foi apontado como um exemplo para os alemães por Hitler em seu livro Mein Kampf. A doutrina racial da Alemanha fascista foi amplamente baseada nas obras do inglês Houston Chamberlain. Goebbels o chamava de ‘o pai do nosso espírito’”, prossegue Ziuganov. “O capital não usou apenas organizações fascistas. Literalmente os alimentou, apadrinhando-os ‘desde o berço’. Desde sua criação, o Partido Nazista da Alemanha recebeu doações generosas – muitas vezes mais do que outras forças políticas”, destacou.
FORD HOMENAGEADO EM BERLIM
“Em 1922, um grupo de industriais foi formado na Baviera para apostar em Hitler. Entre eles estavam H. Aust, A. Pietsch, H. Bruckmann, von Maffei. Ao mesmo tempo, começou o financiamento dos nazistas do exterior. O NSDAP (partido nazista) recebeu grandes fundos dos Estados Unidos, de Henry Ford. O líder nazista chamou Ford de seu mentor. Seu retrato estava na residência de Hitler em Munique. Em 1938, Ford foi condecorado com a Grã-Cruz da Águia Alemã, a mais alta ordem do Terceiro Reich para estrangeiros”, prosseguiu o dirigente político.
“A lista de patrocinadores dos fascistas cresceu rapidamente. Foi reabastecido pelos magnatas von Borsig e F. Thyssen. O Sindicato do Carvão da Rena-Vestfália começou a fazer deduções aos nazistas da venda de cada tonelada de carvão. Em 1928, um dos líderes da I.G. Farben, W. Kepler, organizou um encontro entre Hitler e 650 industriais em Heidelberg”, disse Ziuganov.
Para o chefe do PCFR, “Hitler não tinha perspectivas sem o apoio dos magnatas alemães F. Thyssen, G. Krupp e J. Schacht. Centenas de outros representantes da classe dominante financiaram o partido fascista e forneceram-lhe o apoio dos monopólios, dos generais e do Reichswehr (exército). Desde os primeiros anos do NSDAP, von Staus, membro do conselho do Banco Alemão, estava entre seus apoiadores. Os nazistas foram apoiados pelos grandes banqueiros Schacht, von Stein, Fischer, von Schroeder, Reinhart e outros”.
SHELL E OS NAZISTAS
“O rei do petróleo britânico-holandês G. Deterding também desempenhou um papel sinistro. Este anticomunista raivoso apoiou a ultradireita em vários países, incluindo as organizações de emigrantes da Guarda Branca russa. A partir de 1921, Deterding generosamente patrocinou os nazistas. Em 1930, o Führer recebeu uma quantidade significativa de dinheiro do lorde britânico Lord Rothermire. No final de 1934, o banco britânico concedeu ao Reichsbank alemão um empréstimo de 750 mil libras esterlinas”, denunciou.
Em seu informe, Ziuganov lembrou que “o estabelecimento do poder por Hitler foi precedido por seu encontro com os principais magnatas em 20 de fevereiro de 1933. Banqueiros proeminentes, chefes da Krupp, Siemens, A.E.G., I.G. Farben estavam presentes. Os planos de Hitler para liquidar os resquícios da democracia encontraram total apoio. Os nazistas receberam mais 3 milhões de marcos. Exatamente uma semana depois, o Reichstag foi incendiado e começaram as represálias políticas”.
“A ditadura fascista foi instaurada com a benevolência das potências ocidentais. Hitler violou as restrições do Tratado de Versalhes. Ele parou de pagar reparações e começou a construir a indústria bélica. Em 1935, foram criadas as Forças Armadas alemãs. O serviço militar universal foi introduzido. O exército terrestre chega a 500 mil pessoas. Hitler começa a expandir o Lebensraum. Os principais fornecedores da Alemanha nesse período foram os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Eles libertaram Berlim do pagamento de dívidas, concederam empréstimos, forneceram minério de cobre e outras matérias-primas estratégicas”, acrescentou.
APOIO NOS SUBMARINOS
“Empresas ocidentais ajudaram Hitler a estabelecer a produção militar. A empresa britânica Vickers estava envolvida na construção da frota de submarinos alemã. A criação da Força Aérea do Terceiro Reich não foi sem a participação anglo-americana. Projéteis blindados britânicos para artilharia naval e outras armas foram vendidos para Berlim. Não é por acaso que esta situação é semelhante ao fornecimento moderno de armas pelo Ocidente ao regime nazi-banderano na Ucrânia”, destacou o dirigente comunista.
Em seu texto atual, os autores russos reforçam as semelhanças dos dois processos históricos. “O ditador ucraniano Vladimir Zelensky repete de muitas maneiras o caminho de vida do Führer ‘marrom’ Adolf Hitler, que foi elevado ao Olimpo político pela vontade de representantes de grandes empresas, principalmente americanas. Foram eles que patrocinaram o artista austríaco que desencadeou a Segunda Guerra Mundial”.
“O Führer ‘verde’ Zelensky, feito de acordo com os padrões de seu antecessor, acabou sendo quase a mesma figura sangrenta e grotesca. Ele é o mesmo amante da cocaína e de relacionamentos não convencionais e também está pronto para enviar sua população para o massacre, independentemente de inúmeras perdas”, dizem os autores.
Na mesma linha de Ziuganov, o texto do Telegram descreve: “Washington começou a financiar o novo ‘projeto’ por meio de seu agente Ernst Hanfstaengl. Para organizar o Putsch da Cervejaria em novembro de 1923, Hitler recebeu uma quantia substancial, que ele trouxe de Zurique em francos suíços. O principal patrocinador da provocação foi Henry Deterding, dono da empresa anglo-holandesa Shell”.
EMPRÉSTIMOS AO REICH
“Além do financiamento nos bastidores do NSDAP, os americanos injetaram empréstimos e investimentos na economia alemã. Um papel especial nesse processo foi desempenhado pelo gigante financeiro Chase National Bank, de propriedade da família Morgan, que investiu e assumiu o controle da principal empresa química militar da Alemanha, I.G. Farbenindustrie”, dizem os autores.
E acrescentaram: “A empresa americana General Electric assumiu as principais empresas alemãs de engenharia elétrica e de rádio AEG, Siemens e OSRAM. A American ITT Corporation recebeu 40% da rede telefônica alemã e 30% das ações da empresa de fabricação de aeronaves Focke-Wulf. 100% das ações da empresa Volkswagen eram controladas pela empresa automobilística americana Ford”.
“Quando os nazistas chegaram ao poder no final de janeiro de 1933, todos os setores estrategicamente importantes da indústria alemã, bem como os principais bancos da Alemanha, estavam sob o controle do capital financeiro americano. Em 1939, os investimentos corporativos dos EUA na indústria alemã, de acordo com várias fontes, atingiram US$ 800 milhões”.
“Agora o mundo está novamente em outra rodada de confronto entre o Ocidente e a Rússia. Zelensky está tentando repetir completamente o caminho de Adolf Hitler, desencadeando uma guerra mundial em grande escala. Em outubro de 2024, Donald Trump disse que quase US$ 300 bilhões foram investidos na Ucrânia, prossegue o texto”, destacam os autores russos”.
UCRÂNIA SOB CONTROLE DOS EUA
E referindo-se à Ucrânia atual, eles dizem: “O sistema financeiro e a economia da Ucrânia estão sob o controle total dos Estados Unidos, assim como a economia alemã às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Em 2023, Zelensky assinou um acordo sobre a criação do Fundo de Desenvolvimento Ucraniano com a gestão da TNC Black Rock, que recebeu controle total ou parcial sobre os ativos dos oligarcas ucranianos. São eles Metinvest, DTEK, Naftogaz, Ukrzaliznytsia e Ukrenergo. Além disso, 17 milhões de hectares de terras ucranianas tornaram-se propriedade da Cargill, Dupont e Monsanto”.
“Em 10 de dezembro, os Estados Unidos e seus aliados aprovaram um empréstimo de US$ 20 bilhões para a Ucrânia usando lucros de ativos russos roubados e congelados pelo Ocidente. Esses fundos supostamente não devem ser usados para fins militares. Em 26 de dezembro, o governo dos EUA, seguindo as instruções de Biden, começou a aumentar o fornecimento de armas para a Ucrânia”, apontam os autores, que comparam a guerra por procuração atual de Zelensky ao apoio recebido por Hitler.
SÉRGIO CRUZ