O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Jair Bolsonaro deverá prestar depoimento à Polícia Federal sobre o atentado terrorista do dia 8 de janeiro.
A decisão do ministro, publicada nesta sexta-feira (14), aconteceu após um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O depoimento deverá ser marcado para os próximos 10 dias.
“Defiro o requerimento formulado pela Procuradoria-Geral da República e determino à Polícia Federal que proceda a oitiva de Jair Messias Bolsonaro, no prazo máximo de 10 (dez) dias, devendo a PGR ser previamente avisada do dia agendado para, se entender necessário, acompanhar a oitiva”, escreveu Moraes na decisão.
Jair Bolsonaro é um dos investigados nos inquéritos sobre a tentativa de golpe de estado realizada por seus apoiadores, no dia 8 de janeiro, em Brasília.
Dois dias depois do ataque, no dia 10 de janeiro, Bolsonaro publicou em seu Facebook um vídeo dizendo que as eleições foram fraudadas, mas novamente sem apresentar qualquer prova de que isso tenha ocorrido.
“Lula não foi eleito pelo povo brasileiro. Lula foi escolhido pelo serviço eleitoral, pelos ministros do STF, pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral”, dizia o vídeo.
Os investigadores viram na mensagem apoio aos crimes que tinham sido realizados 48h antes da publicação.
O ataque contra o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional foi realizado por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, que foram, durante meses, incitados contra a democracia e as urnas eletrônicas.
ALIADO PRESO
O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, está preso por ter ajudado, com suas ações, os terroristas a invadirem e depredarem os prédios públicos.
Torres era, no dia 8 de janeiro, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas havia viajado para os Estados Unidos no dia anterior. Propositalmente, o aliado de Bolsonaro deixou a Segurança do DF acéfala, sem condições de proteger a capital do país do ataque contra a democracia.
A prisão ocorreu no dia 14 de janeiro, quando ele voltou para o Brasil. Anderson Torres segue preso no 4º Batalhão da Polícia Militar, em Brasília.
Durante as investigações, a Polícia Federal descobriu que Torres mantinha em sua casa a minuta de um decreto presidencial que anularia o resultado das eleições presidenciais.
Anderson Torres disse à Polícia Federal que não sabe quem escreveu o decreto, pois o documento lhe foi repassado por sua secretária.
A secretária negou essa versão em depoimento. “Nunca entreguei nada”, afirmou.
Anderson Torres se complicou ainda mais quando os investigadores encontraram provas de que o ele usou o Ministério da Justiça, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Federal para tentar impedir que eleitores de Lula conseguissem votar, no segundo turno das eleições.
Um “boletim de inteligência” foi produzido pela então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, sob ordem de Torres, apontando os locais onde Lula obteve maior vantagem no primeiro turno das eleições.
Esse mapa foi, no dia 30 de outubro de 2022, usado pela PRF para instalar blitz em locais onde Lula ganharia mais votos.
As investigações também identificaram que Anderson Torres fez uma viagem para a Bahia, acompanhado do então diretor da PF, Márcio Nunes, com o objetivo de pressionar o superintendente regional da PF, Leandro Almada, para apoiar as ações da PRF no dia 30 de outubro.
A viagem, que ocorreu em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), não foi incluída em sua agenda oficial.
Ainda não se sabe do envolvimento de Bolsonaro no plano que tentaria levá-lo, ilegalmente, à vitória.
INELEGÍVEL
Enquanto tem que responder por seu apoio e possível participação no atentado terrorista do dia 8 de janeiro, Jair Bolsonaro ainda se preocupa com um processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode torná-lo inelegível pelos próximos oito anos.
O TSE está prestes a julgá-lo pela reunião que organizou, no Palácio da Alvorada, com embaixadores estrangeiros para fazer uma apresentação mentirosa sobre o processo eleitoral e as urnas eletrônicas. A apresentação foi transmitida pelas redes sociais e pela TV Brasil.
O Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a condenação de Bolsonaro por abuso de poder político, tornando o ex-presidente inelegível por oito anos.
Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 20 mil de multa por “propaganda eleitoral antecipada” no caso dessa reunião com embaixadores.
Na ocasião daquele julgamento, o procurador eleitoral afirmou que o então presidente da República ignorava os desmentidos de órgãos com credibilidade, como o próprio TSE, com o “propósito de subtrair da audiência a revelação oficial dos acontecimentos”.