São apuradas blitze em Estados e cidades onde Lula tinha mais vantagem pelas pesquisas eleitorais e votos do primeiro turno
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou que o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, preste depoimento à Polícia Federal sobre a operação da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no segundo turno das eleições de 2022.
A nova oitiva deve ocorrer até 8 de maio, segundo a decisão de Moraes.
A primeira vez que deveria ter sido ouvido foi em 24 de abril. Ele não compareceu porque, segundo a defesa, o ex-ministro estava sem condições psicológicas de prestar o depoimento.
São apuradas as blitze em Estados e cidades onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha mais vantagem pelas pesquisas eleitorais e votos do primeiro turno. Na época, Torres era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL). No cargo, a PRF e a PF estavam subordinadas a ele.
Dia 18 de abril, a ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, admitiu em depoimento à PF que produziu mapa para o ex-ministro Anderson Torres dos locais onde Lula obteve mais votos no primeiro turno das eleições.
OBJETIVO DO MAPEAMENTO
O mapa teria sido usado por Torres juntamente à PRF na tentativa de impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação no segundo turno. Blitze foram montadas em municípios de Estados do Nordeste com base nesse mapa feito pela inteligência.
Torres deverá dar o depoimento na condição de declarante, ou seja, ele ainda não é investigado formalmente no caso. Será assegurado e ele o “direito ao silêncio e a garantia de não autoincriminação, se instado a responder às perguntas cujas respostas possam resultar em seu prejuízo”, segundo Moraes.
De acordo com o ministro, a obrigação de comparecimento e a exigência de prestar depoimento como declarante sobre o caso “não significa possibilidade de coação direta ou indireta para obtenção de uma confissão ou assunção de responsabilidade, quebrando-se a necessária ‘participação voluntária’ na produção probatória”.
OFÍCIO AO BATALHÃO DA PM
Moraes mandou oficiar a direção do batalhão da Polícia Militar onde Torres está preso para que providencie “as condições necessárias para a realização de sua oitiva, inclusive mediante escolta policial para o deslocamento”.
Torres está preso desde 14 de janeiro por omissão nos atos de 8 de janeiro. A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, O magistrado é relator na Corte Suprema das investigações sobre os ataques.
A defesa de Torres pediu a Moraes a revogação da prisão preventiva. O pedido teve manifestação favorável da PGR (Procuradoria-Geral da República). Todavia, Moraes negou o pedido.
APURAÇÃO INTERNA DA PRF
Em 19 de abril, a direção da PRF anulou o arquivamento de parte de investigações sobre a atuação da corporação no dia 30 de outubro do ano passado.
A apuração foi retomada porque a PRF encontrou lacunas técnicas na antiga investigação e fatos novos vinculados ao agora ex-corregedor da corporação, exonerado em meados de abril.
O então corregedor-geral da corporação, Wendel Benevides Matos — indicado pela gestão Bolsonaro —, determinou o arquivamento parcial do inquérito. O argumento era de que não foram constatadas irregularidades em todas as regiões e apenas em cinco Estados deveriam seguir com apurações sobre as blitze.
Nesse processo, Silvinei Vasquez, então diretor-geral da PRF e responsável pela operação com os bloqueios nas rodovias, é investigado. Integrantes da nova cúpula afirmam acreditar que o ex-corregedor teria poupado o ex-diretor no processo.
M. V.