Ministro do STF quer investigar se o senador teria cometido os crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, nesta sexta-feira (3), abertura de apuração sobre as declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES) a respeito de plano de golpe de Estado para o qual ele teria sido coagido a participar por Bolsonaro e Daniel Silveira.
Segundo o senador capixaba, diga-se de passagem, bolsonarista, estariam por trás dessa trama o ex-deputado, também bolsonarista, Daniel Silveira (PTB-RJ), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida, em oitiva na PF (Polícia Federal), o senador tirou da cena do crime o ex-chefe do Executivo.
No depoimento, ele teria dado nova versão para o que ele havia dito em ‘lives’ e em entrevistas a veículos de imprensa.
Especula-se que Marcos do Val aliviou para Bolsonaro por pressões dos filhos do ex-presidente, de quem o senador se diz amigo.
Moraes quer investigar se o senador teria cometido os crimes de falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo. Segundo o magistrado, como o senador apresentou versões divergentes, é preciso esclarecer o que de fato ocorreu.
O senador Marcos do Val vai ser investigado em apuração independente daquela aberta para examinar as responsabilidades pelos atos ocorridos dia 8 de janeiro.
Nesta data, seguidores de Bolsonaro tentaram dar golpe de Estado. Invadiram as sedes dos Três Poderes — Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF — vandalizaram e pilharam os palácios. As hordas bolsonaristas tocaram o terror.
“Ouvido sobre os fatos, o senador Marcos do Val apresentou, à Polícia Federal, uma quarta versão dos fatos por ele divulgados, todas entre si antagônicas, de modo que se verifica a pertinência e necessidade de diligências para o seu completo esclarecimento, bem como para a apuração dos crimes de falso testemunho (art. 342 do Código Penal), denunciação caluniosa (art. 339 do Código Penal) e coação no curso do processo (art. 344 do Código Penal)”, escreveu na decisão Moraes.
ÍNTEGRA DAS ENTREVISTAS
Moraes, determinou ainda, que os veículos de imprensa: Veja, CNN e Globonews enviem ao Supremo a íntegra de entrevistas concedidas pelo senador sobre a denúncia de que houve “tentativa de Bolsonaro” de coagi-lo para que ele pudesse dar golpe de Estado com Bolsonaro.
Após dar essa declaração, Marcos do Val mudou a versão da entrevista por diversas vezes. Possível coação foi levantada. Nesta quinta-feira (2), do Val prestou depoimento à Polícia Federal, no entanto, Moraes disse que esta seria a quarta versão dos fatos.
QUE ESTÁ POR TRÁS DESSA CONFUSÃO
De bobo ou ingênuo, como parece, do Val não tem nada. Assessores de Lula avaliam que o objetivo do senador Marcos do Val, ao denunciar suposta reunião com Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira para articular ação golpista é dar argumentos para a criação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).
Neste instante, CPI desse tipo no Congresso, ainda que tendo como alvos a oposição, teria o potencial de gerar tumultos para o governo Lula neste início de mandato. Por essa e outras razões, o Planalto segue contra a instalação de CPI.
O Planalto avalia que precisa ter cautela com o caso — considerado grave pela equipe de Lula —, e mais uma prova de que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava tramando ou ainda trama golpe de Estado.
O propósito de Bolsonaro é criar o caos para o governo e inviabilizá-lo, a fim de criar as condições para algum tipo de intervenção para que ele pudesse voltar ao poder. Parece loucura, e talvez seja, mas pode ser isso que Bolsonaro deseja e busca tresloucadamente.
M. V.