O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou um pedido da defesa do general da reserva Braga Netto, que está preso, para acessar todos os documentos do inquérito sobre o golpe de estado, inclusive a delação de Mauro Cid.
Walter Souza Braga Netto, que foi ministro da Defesa de Bolsonaro e seu candidato a vice-presidente nas eleições de 2022, está preso desde dezembro por ter tentado obstruir as investigações e descobrir ilegalmente o conteúdo da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Na decisão, Alexandre de Moraes afirmou que “o amplo acesso já está garantido e este procedimento tramita publicamente, de modo que os advogados regularmente habilitados podem obter cópias das mídias e documentos que se encontram acautelados na Gerência de Processos Originários Criminais, diretamente junto à Secretaria Judiciária desta Suprema Corte”.
Braga Netto aparece como figura central no golpe que foi organizado no governo de Jair Bolsonaro. Nos planos que foram traçados, ele assumiria funções de destaque na ditadura.
Segundo Mauro Cid, o militar entregou um saco com dinheiro para o grupo de militares que planejou os assassinatos de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. O dinheiro teria sido obtido junto ao “pessoal do agro”, falou Cid.
A Polícia Federal revelou que Braga Netto manteve contato com familiares de Mauro Cid e, possivelmente, até com o próprio colaborador da Justiça para pressionar que revelassem o que foi dito à PF.
Cid disse em sua delação que “não só ele [Braga Netto] como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado”. “Fazia um contato com o meu pai, tentavam ver o que eu tinha, se realmente eu tinha colaborado, porque a imprensa estava falando muita coisa, ele não era oficial, e tentando entender o que eu tinha falado”, continuou.
Na mesa de um assessor de Braga Netto dentro da sede do PL, partido ao qual ele é filiado, a Polícia Federal encontrou um documento com tópicos sobre o depoimento de Cid.
O documento é em formato de perguntas e respostas e tem itens como “teor das reuniões: o que foi delatado?” e “o que está saindo na imprensa e não foi delatado?”. As respostas, para os investigadores, foram dadas por Mauro Cid ou representantes dele.
Um dos tópicos fala especificamente que Mauro Cid não falou nada sobre os “Gen [generais] Heleno e BN [Braga Netto]”. Segundo a anotação, Cid disse à PF que Braga Netto “não é golpista, estava com pensamento democrático de transparência das urnas”.
Para a PF, “o contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho”.
Braga Netto, assim como Jair Bolsonaro e outras 38 pessoas, foi indiciado pela PF pelos crimes de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado e organização criminosa.
Em fevereiro, a PF deve apresentar um relatório complementar com novas informações sobre a tentativa de assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Alguns dados do celular de Braga Netto deverão constar no documento, de acordo com a apuração de Guilherme Amado e Tatiana Farah, do PlatôBR.