O presidente do Equador, L. Moreno, aproveitando-se da pandemia do Covid-19 justificou um corte de mais de 4 bilhões de dólares no orçamento nacional. A medida provocou a redução da jornada de trabalho e de salários para milhares de trabalhadores, “quando o governo não está fazendo nada para combater a doença”, afirmou Richard Gomez, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores, CUT.
O Equador é o terceiro país em número de mortes na América Latina, depois do Brasil e do Peru, e o quarto em contágios segundo dados da Universidade Johns Hopkins, entidade que acompanha de perto a evolução da pandemia a escala mundial.
Segundo a tabela do portao Worldometer, tem 221 mortes por milhão, portanto pior do que Brasil (187) e do Peru (179) neste quesito.
O governo ainda facilitou as demissões no setor privado com indenizações mínimas, questionadas pelo conjunto da sociedade.
Moreno considera que para combater a crise econômica que o país atravessa e que já estava plenamente instalada antes do coronavírus, se deve cortar os gastos e investimentos públicos. Assim, a chegada da doença lhe deu argumento para o atual arrocho. Em meados de maio anunciou que reduziria a massa salarial do Estado em 980 milhões de dólares e que eliminaria sete empresas públicas, entre elas a companhia aérea TAME. Nos meses da pandemia já se perderam mais de 150 mil empregos formas, além dos milhares de precários e sem registro.
Com os trabalhadores ameaçados de fome e com o corte de seus diretos mais elementares, as entidades sindicais romperam as medidas de isolamento e tomando todos os cuidados possíveis saíram às ruas na terça-feira passada. “Moreno estabelece medidas regressivas que violentam direitos constitucionais dos trabalhadores. Por isso temos saído para dizer ao governo que não aceitamos essas reformas. Sua irresponsabilidade coloca em risco a vida das pessoas”, declarou Richard Gomez, no jornal de notícias da rede de televisão Ecuavisa. “Temos grupos que até há poucos meses tiraram do país centenas de milhões de dólares e agora demitem companheiros com cinco, dez e até quinze anos de antiguidade. E estão lhes pagando indenizações absurdas. O que há aí é safadeza ”, assinalou o líder sindical.
“Grandes empresas privadas e o governo continuam esvaziando os recursos do Estado, algo que para uma economia dolarizada como a do Equador, que não pode emitir moeda, é quase uma ferida de morte” constatou. O país não tem moeda própria e usa o dólar desde o ano 2000.
À pergunta sobre o que foi feito com o dinheiro do orçamento, o economista Andrés Arauz do Observatório da Dolarização respondeu: “A partir das estatísticas que o Banco Central publica pudemos ver que pagaram 865 milhões de dólares de capital, 71 milhões de dólares em juros e comissões, por conceito da dívida externa, à Goldman Sachs, Credit Suisse e ICBC Standard Plc”. “Enquanto o governo se atrasou com os funcionários públicos, províncias, fornecedores do Estado, seguridade social; os bancos de Wall Street foram pagos pontualmente e até de forma adiantada”, denunciou o economista.