O agora ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, desmentiu a fala de Jair Bolsonaro na tarde desta sexta-feira, feita em resposta ao pronunciamento do ex-juiz pela manhã.
Pelo Twitter, Moro rebateu:
“A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, escreveu.
Em seu pronunciamento, Bolsonaro, entre outras agressões, acusou Sérgio Moro de condicionar a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, à sua indicação para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro.
“O senhor pode exonerar em novembro, depois que me indicar para o Supremo Tribunal Federal”, teria dito Sérgio Moro, na narrativa de Jair Bolsonaro.
Pela manhã, Sérgio Moro negou ainda que tenha negociado uma vaga no Supremo com Bolsonaro ao ser convidado para assumir o Ministério da Justiça.
Sérgio Moro reafirmou também que Valeixo estava cansado pelas pressões e ambiente político do governo Bolsonaro, mas negou que o ex-diretor pediu demissão do cargo, como Bolsonaro alegou em seu pronunciamento.
“De fato, o Diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído. Mas, ontem não houve qualquer pedido de demissão, nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado”, escreveu Moro.
O ex-ministro Sérgio Moro denunciou que Bolsonaro quer interferir nas investigações da Polícia Federal.
“Não é a questão do nome, tem outros bons nomes para assumir. O grande problema é que haveria uma violação de uma promessa que eu teria carta branca, e não haveria uma causa para essa substituição. E ficou claro que haveria uma interferência política na Polícia Federal”, disse Moro. “Eu falei isso para o presidente, e ele disse que seria mesmo [uma interferência política]. Foi ventilado um nome de um delegado que passou mais tempo no Congresso do que na ativa na Polícia Federal, e o diretor da Abin”, contou na sua entrevista pela manhã de sexta-feira (24).
Moro relatou ainda que Bolsonaro queria um nome que pudesse “ligar, colher informações e relatórios, o que não é o papel da Polícia Federal”.
E que foi surpreendido com a exoneração de Valeixo pelo Diário Oficial e que ocorreu com a assinatura do presidente e com uma assinatura falsa de Sérgio Moro. “Não assinei esse decreto. Fui surpreendido”, garantiu.
Segundo interlocutores do ex-ministro, as acusações contra Bolsonaro estão respaldadas em provas documentais. Esse interlocutores contaram ao Estadão que Moro e Bolsonaro tiveram inúmeras conversas, pessoais e de governo, especialmente pelo WahtsApp, canal usado pelo presidente para dar ordens aos subordinados.
Essas fontes observaram que Moro tem uma experiência de 22 anos na função de juiz criminal e sabe, como poucos, que não se acusa alguém sem provas concretas.
Em seu pronunciamento, Moro apontou pelo menos sete crimes que foram cometidos por Bolsonaro.