O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância, afirmou que “não existe governo competente e desonesto”.
Indagado sobre uma suposta permissividade do brasileiro em relação à corrupção, Sérgio Moro afirmou que “nós temos direito a ter um governo honesto”. “Acredito que esse trabalho que vem sendo realizado… vai levar ao crescimento dessa percepção de que a corrupção nos deixa pra trás, atrasa o nosso desenvolvimento, compromete as nossas instituições…”, ressaltou.
Ele avaliou que a colaboração premiada é um “meio importante de investigação” e sugeriu que a sociedade fique atenta em relação a algumas propostas, que eventualmente aparecem com a finalidade de eliminar o instituto.
“Uma proposta que me parece um tanto quanto absurda, por exemplo, é aquela no sentido de proibir que alguém que se encontra preso possa realizar uma colaboração premiada”, disse. A afirmação foi feita em entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, exibida na noite da terça-feira (17) pelo canal pago GloboNews.
Segundo o magistrado, isso “viola o direito de defesa da pessoa presa”, porque a colaboração “é um meio de a Justiça encontrar os cúmplices de um criminoso, mas também, de uma certa maneira, é um meio de defesa de uma pessoa que quer colaborar para receber benefício da Justiça”.
Moro negou que possa existir uma correlação necessária entre a prisão e a colaboração premiada.
“Essas pessoas normalmente celebram acordos quando se encontram em uma situação processual difícil. Normalmente quando elas percebem que a Justiça conseguiu reunir provas significativas contra elas e que a melhor opção de defesa para elas é colaboração. Isso acontece tanto quanto elas estão soltas quanto presas preventivamente. E pode acontecer até em casos de pessoas já condenadas criminalmente”, frisou.
Na entrevista, o juiz também fez uma avaliação positiva dos três anos e meio da Lava Jato. “Considerando os casos já julgados, hoje nós temos várias condenações. Várias pessoas que estão cumprindo pena de prisão e pessoas que nós nem imaginávamos que poderiam responder pelos seus crimes. Então o balanço é positivo”, afirmou.
Ele disse não ter “vocação” para a política, defendeu prisões após condenação em segunda instância e apontou que, na opinião dele, o foro privilegiado deveria ser reduzido “significativamente”. “A grande questão é: se nós constatamos que o foro privilegiado não tem funcionado a contento, se há dificuldades nas instituições de trabalharem nesses processos, o passo é adotar uma atitude reformista”, avaliou.