Rafael Merchán – ex-secretário de “Transparência” (órgão ligado à Presidência da Colômbia) – testemunha no caso dos subornos pagos pela Odebrecht na Colômbia para a obtenção de obras na rodovia Ruta del Sol, foi encontrado morto na cama, em seu apartamento, em Bogotá, no dia 27.
Jornais colombianos dizem que a causa da morte deve ser revelada assim que o laudo da autópsia ficar ponto, entre esta sexta (28) e sábado (29).
Merchán iria testemunhar aos que investigam Luis Fernando Andrade, ex-diretor da Agência Nacional de Infraestrutura (ANI), acusado de ser elemento central do esquema de propina que possibilitou à Odebrecht receber a concessão de obras para a segunda etapa da rodovia Ruta del Sol, a Ruta del Sol II. Os subornos pagos pela Odebrecht para a obtenção da obra chegam a 100 milhões de dólares.
A família de Merchán, porém, já divulgou um comunicado dizendo que a morte foi um suicídio, “uma decisão pessoal e autônoma”, e pediu que a imprensa respeitasse o luto da família.
A primeira testemunha morta
O ex-secretário é a segunda testemunha, do caso, a morrer em circunstâncias misteriosas. A primeira foi Jorge Enrique Pizano, peça chave na elucidação dos crimes da Odebrecht na Colômbia, uma vez que fora interventor da Concessionária Ruta del Sol, que havia recebido a adjudicação da obra, desde 2010.
Jorge Pizano havia investigado processos envolvendo a obra e dizia ter detectado várias irregularidades acerca das quais informara – já em 2015 – ao atual procurador-geral da Colômbia, Néstor Humberto Martínez, que tenta desconversar dizendo não ter certeza de que as irregularidades apontadas tratassem de subornos.
Antes de ocupar o cargo de procurador, Martinez atuou como advogado do Grupo Aval, conglomerado bancário que controlava a maioria das ações da Corficolombiana, empresa associada à Odebrecht no consórcio que assumiu a obra Ruta del Sol II.
Morte natural ou envenenamento?
A tragédia que atingiu a família Pizano se ampliou com o falecimento do filho de Jorge, Alejandro Pizano, que havia vindo de Barcelona para o enterro do pai. Ele bebeu de uma garrafa de água aromatizada que havia encontrado sobre a escrivaninha do escritório do pai. Alejandro morreu a caminho do hospital. Na garrafa foram encontrados traços do veneno mortal cianureto.
Jornais locais destacam que o dono de uma farmácia localizada em Bogotá informou que vendera cianureto a indivíduos não identificados pouco antes da morte da testemunha do caso Odebrecht.
A morte de Jorge Pizano foi no dia 8 de novembro. Legistas colombianos disseram, logo a seguir, que ele morrera de morte natural. A base para a afirmação, segundo os legistas, foi uma pesquisa no conteúdo de manchas de sangue em uma toalha encontrada no banheiro de Jorge, que, de acordo com eles, havia usado a toalha para enxugar-se de um machucado causado ao barbear-se. No conteúdo das manchas de sangue localizadas na toalha não havia traços de veneno, logo, disseram os legistas, a morte teria sido por “causas naturais”.
O corpo de Jorge foi cremado e a questão da causa mortis de Jorge estaria encerrada não fosse a morte por envenenamento de seu filho, Alejandro, no dia 11. Agora, a informação é de que o IML colombiano está pesquisando amostras de tecido retiradas em autópsia da testemunha Jorge, mas o laudo acerca destas pesquisas ainda não foi divulgado.
Acidente atinge promotora
Além disso, em outubro, a promotora do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente automobilístico durante suas férias no Chile e passou 15 dias inconsciente. Sua delicada situação médica tem lhe impedido reintegrar-se ao trabalho.
Mesmo com essas criminosas tentativas de paralisar a Justiça, o processo avança.
No dia 15, o tribunal colombiano de Cundinamarca (1ª instância) sentenciou a Odebrecht por corrupção, exigindo que pague uma indenização de US$ 252 milhões e a inabilitou por 10 anos, durante os quais está proibida de participar de contratos com o Estado.
A decisão também atinge os sócios da empreiteira na Colômbia, a exemplo da Episol, do banqueiro Luis Carlos Sarmiento. O tribunal também suspendeu o contrato da Odebrecht e associados com o Estado para a construção da Ruta del Sol II.
“Esta cifra (…) supera mais de 22 vezes os US$ 11 milhões inicialmente oferecidos pela multinacional, para receber benefícios em seus processos penais, disciplinares e fiscais na Colômbia”, afirmou o Ministério Público em comunicado à imprensa.
Além de ordenar o embargo das contas bancárias, bens e dividendos obtidos pelas empresas implicadas, o despacho judicial declarou responsáveis por corrupção várias pessoas que participaram desse contrato: o ex-vice-ministro de Transporte Gabriel García, o ex-senador Otto Bula, o ex-presidente da Corficolombiana (proprietária da Episol) José Elías Melo e os ex-diretores da empreiteira brasileira na Colômbia Luiz Bueno, Luiz Mameri e Luiz da Rocha.
Otto Bula continua na prisão colombiana de La Picotta.
A Odebrecht na Colômbia já declarou que vai recorrer da sentença e que – como sempre tem dito – “seguirá auxiliando as investigações em curso”. Já a empresa Episol, do banqueiro Sarmiento, diz que “discorda da decisão”.
“A Episol não é responsável pelos delitos cometidos por terceiros, confia no respeito ao devido processo e reitera seu interesse de colaborar com as autoridades”, afirmou a empresa em comunicado.
NATHANIEL BRAIA