
Morreu nesta terça-feira (4) o taxista Márcio Antônio do Nascimento, de 58 anos, que ficou conhecido durante a pandemia ao recolocar cruzes em um ato em memória às vítimas da Covid-19, em 2020, nas areias da praia de Copacabana, na zona sul do Rio.
O filho dele, Hugo Dutra do Nascimento, de 25 anos, havia morrido, no mesmo ano, em decorrência da doença. O jovem era saudável e não fazia parte do grupo de risco, mas não resistiu após 16 dias internado.
Durante a manifestação organizada pela Rio de Paz, em que foram colocadas cruzes nas areias da praia em memória às vítimas, um homem, apoiador de Jair Bolsonaro que passava pelo calçadão, decidiu derrubá-las. Indignado e, chorando, Márcio recolocou as peças.
“Meu nome é Márcio. Pai do Hugo, que faleceu aos 25 anos de Covid 19. Só queria dizer que a dor do pai é muito grande. É ter que conviver todo o dia com essa dor, com os pensamentos. Tentar lidar com estes pensamentos”, disse o pai, em vídeo.
Márcio também conclamou à compaixão e à empatia pelos mortos e seus familiares. “Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós”, defendeu à época.
O taxista, que depôs na CPI da Covid no Senado, estava internado com problemas no coração e acabou falecendo, em outubro daquele ano. O enterro dele será nesta 3ª feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
“Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas”, declarou, durante o depoimento.
“Cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços. É real”, afirmou.
A fala de Márcio foi uma reação a uma declaração de Bolsonaro em março de 2020 ao criticar medidas de prevenção à pandemia.
“Vocês não ficaram em casa. Não se acovardaram. Temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”, disse o presidente durante evento em Goiás.
No instagram, a Rio da Paz lamentou a morte, prestou homenagem a Márcio e disse que ele se “se tornou um símbolo na luta pelo combate ao descaso como o governo Federal tratou a pandemia”.
“Nós do Rio de Paz estaremos em seu sepultamento. Levaremos uma bandeira do Brasil e uma cruz igual à que ele recolocou nas areias de Copacabana em um dos nossos protestos durante a pandemia”, declarou a organização não-governamental.