Em 2009, ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Curió admitiu que executou 41 pessoas que já estavam presas e sem condições de se defender
Morreu nesta quarta-feira (17) em Brasília, aos 87 anos, Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, torturador que assassinou pelo menos 41 opositores da ditadura que estavam presos e sem condições de reação, e que foi homenageado por Jair Bolsonaro em 2020. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por homicídio e ocultação de cadáveres.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Curió e os militares subordinados a ele chegaram a matar pessoas mesmo estando rendidas e sem apresentar resistência a eles. Sebastião Curió é acusado em sete de dez ações do MPF. “[Os crimes] foram comprovadamente cometidos no contexto de um ataque sistemático e generalizado contra a população civil brasileira, promovido com o objetivo de assegurar a manutenção do poder usurpado em 1964, por meio da violência”, afirmou o MPF.
A Comissão Nacional da Verdade incluiu Curió em seu relatório final, em 2014, como um dos 377 agentes do país que praticaram crimes contra os direitos humanos. De acordo com a comissão, ele “esteve vinculado ao Centro de Informações do Exército (CIE), serviu na região do Araguaia, onde prendeu opositores, conduzindo-os a centros clandestinos de tortura, para serem executados.
Por ocasião da homenagem de Bolsonaro ao torturador, e da propaganda da cerimônia feita pela Secom, a Justiça foi acionada. A terceira turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região condenou a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República a publicar em todas as redes sociais um direito de resposta sobre a homenagem feita por Jair Bolsonaro a Curió.
Em 2009, ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Curió afirmou que executou 41 pessoas no Araguaia. Os crimes na região do Araguaia, num um total de 67 militantes da oposição ao regime, ocorreram na divisa dos estados de Goiás, Pará e Maranhão sob as ordens de Curió.
Em 2010, o Brasil foi condenado pela detenção, tortura e desaparecimento de guerrilheiros no Araguaia no caso que ficou conhecido como Gomes Lund. A sentença preferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos previu que o Estado brasileiro reparasse violações cometidas no período. Bolsonaro foi acionado pelo Instituto Vladmir Herzog e o Núcleo de Preservação da Memória Política no mesmo tribunal por ter homenageado o torturador.
Pelos serviços prestados, o major Curió recebeu como prêmio da ditadura a nomeação como interventor em Serra Pelada (PA). Na região, que era considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo, ele se tornou a única autoridade civil e militar da região. Ele costumava dizer que o seu revólver era o que “cantava mais alto” no local. Em 1982, Curió foi eleito deputado federal pelo Pará. Em 2000, ele foi eleito prefeito de Curionópolis, no Pará, assumindo o mandato em 2001.