Centenas de dirigentes e ativistas de partidos e movimentos progressistas e populares compareceram ao salão de Homenagens do Cemitério de Troekurov, em Moscou, dia 20, para a despedida a Victor Ampilov, líder do Movimento Rússia dos Trabalhadores. Ele encabeçou a resistência à traição de Gorbatchov e Yeltsin e suas medidas que fragmentaram a União Soviética. Mobilizou centenas de milhares em defesa das conquistas da Revolução.
Participaram do ato o vice-presidente do Partido Comunista da Federação Russa, Dmitri Novikov; deputado Shargunov; Baburin e Udaltsov da Frente de Esquerda; Ilya Konstantinov, Partido Liberal Democrático da Rússia e Yuri Mukhin, escritor e cineasta.
O secretário de Relações Internacionais do Partido Pátria Livre (PPL), do Brasil, Marcio Cabreira, representou o partido, com quem Ampilov cultivou uma rica relação.
Seguem principais trechos do pronunciamento de Marcio:
Prezados Camaradas:
Em nome dos militantes do Partido Pátria Livre, e especialmente do presidente da nossa agremiação, Sergio Rubens de Araújo Torres, que também teve a oportunidade e o privilégio de conviver com Victor Ampilov, expresso nossa solidariedade a seus familiares, Vera, Seriozha e Nastya, e a todos companheiros de luta de Ampilov.
No início da década de 90, Ampilov teve papel destacado em ajudar o nosso partido a compreender o que acontecia na Rússia. Nosso eterno dirigente Cláudio Campos publicou em 1992 o livro “A História continua” e o camarada Ampilov foi fundamental na sua divulgação.
Pensei em algumas palavras que caracterizam a vida e a luta de Victor Ampilov e elas se resumem a três: solidariedade, alegria e coragem.
Solidariedade pois, assim como o Che, Ampilov era capaz de sentir como se fosse contra si qualquer injustiça cometida no mundo. Seus gestos ultrapassavam as fronteiras da Rússia.
Alegria porque, apesar das privações e dificuldades que a vida lhe impôs, nunca renunciou de carregar consigo o dom de ser feliz. Em novembro do ano passado, eu e o companheiro Uldorico Alves, dirigente do nosso partido, o encontramos na Praça Vermelha participando das comemorações dos 100 Anos da Revolução de 1917. Ele estava carregado de alegria e esperança com a possibilidade das mudanças que as eleições na Rússia podem proporcionar ao povo.
Coragem. O traço mais marcante da sua personalidade. Assim enfrentou os desatinos de Gobarchov e Yelstin que atentavam contra a URSS, enfrentou tropas e tanques em frente à Duma em Moscou; coragem ao mobilizar centenas de milhares de pessoas para se manifestarem contra os ataques ao socialismo; coragem diante das torturas na prisão de Lefortovo. Recentemente, enquanto fazia a campanha do candidato à presidência da Rússia, Grudinin, foi mais uma vez vítima da intolerância policial na Praça Vermelha. Era um orador como poucos, temido por seus adversários que, sem argumentos, só conseguiam detê- lo ,recorrendo à repressão policial. Mas isso era muito pouco para ele, às vezes significava algumas horas de descanso…
Ampilov foi um homem íntegro, de convicções inabaláveis, desapegado dos bens materiais, disposto a tudo na luta pela liberdade e melhores condições de vida do povo soviético.
Não teremos mais a convivência física com Victor Ampilov, mas as suas idéias, convicções, e sua coragem estão imortalizadas e seguirão em frente nas mãos de seus companheiros de jornada.
MARCIO CABREIRA
No século XIX, o grande filósofo francês Gustave Le Bon (1841 – 1931) escreveu em seus livros:
1- Livro: A Psicologia das Revoluções: “Os regimes não são assassinados. Eles se suicidam.”
2- Livro: A Psicologia do Socialismo: ” O socialismo será a nova religião que deve substituir-se pelas antigas crenças? Falta-lhe um fator de sucesso, no longo prazo: o poder mágico de criar uma vida futura, até então a principal força das grandes religiões que conquistaram o mundo e sofreram. Todas as promessas de felicidade dadas pelo socialismo devem ser realizadas, aqui na Terra. Agora, a realização de tais promessas entrará em conflito fatalmente com as necessidades econômicas e psicológicas sobre as quais o homem não tem poder e, portanto, a hora do advento do socialismo será, sem dúvida, a hora do seu declínio. O socialismo pode triunfar por um instante, à medida que as idéias humanitárias da Revolução Francesa triunfaram, mas rapidamente pereceram em cataclismos sangrentos, pois a alma de uma nação não é despertada em vão. Constituirá o socialismo, mais uma daquelas religiões efêmeras de que o mesmo século vê o nascimento e a morte, e que só são úteis na preparação ou renovação de outras religiões melhor adaptadas à natureza humana e às múltiplas necessidades a que leis todas as sociedades estão condenadas a se submeter.”
Leitor, você, evidentemente, é livre para ler o que quiser – ou perder tempo como quiser. Mas, como é nosso dever o zelo por aqueles que nos leem, aconselhamos a que deixe de considerar Le Bon um “grande filósofo”. Isso, ele nunca foi. Estava mais para aquelas mediocridades com mania de escrever, que a direita francesa (e não somente a francesa) produziu aos borbotões no final do século XIX, como reação ao avanço do socialismo científico. Todas elas, como Le Bon, têm em comum o racismo (Le Bon divide a humanidade em “raças superiores” e “raças inferiores”), uma total alergia ao povo (que é sempre chamado de “multidão”) e o desprezo pelo humanismo (por exemplo, diz Le Bon em um de seus mais conhecidos livros: “A maldade é, no seu juízo, um poderoso elemento do progresso humano. … se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho ‘Amai-vos uns aos outros’, ao invés de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruírem mutuamente, a humanidade vegetaria ainda no fundo das primitivas cavernas“). Trata-se, no fim das contas, de um desprezo pela razão, ou seja, pelo ser humano. Um autor sob medida para justificar os massacres do colonialismo francês na África e na Ásia – e no seu próprio país, cuja classe operária foi afogada em sangue alguns anos antes de Le Bon aparecer no mercado de livros. Ah, sim, somente para registrar: Le Bon, ainda por cima, é um daqueles sujeitos para quem o Estado deve ter apenas uma única serventia: reprimir os pobres, aliás, “degenerados”. Ideologicamente, é um precursor do nazismo e do neoliberalismo. Portanto, não fica bem, para um homem inteligente como é o leitor, chamar esse elemento de “grande filósofo”.