
“Varsóvia atribuiu a culpa à Rússia às pressas, sem apresentar qualquer evidência”, disse o representante russo, Nebenzia, ao Conselho de Segurança da ONU
O representante permanente da Rússia, Vassily Nebenzia, rechaçou na ONU as alegações de Varsóvia de que teria sido “invadida” por drones russos, usadas para clamar pelo acionamento do artigo 4 da Otan, enfatizando que os drones usados em ataque no dia 10 contra alvos militares e industriais ucranianos tinham alcance máximo de 700 km, “tornando fisicamente impossível para eles alcançarem a Polônia”.
O embaixador russo destacou ainda que as alegações “não eram apoiadas por evidências” e foram exageradas pelo que chamou de “partido europeu da guerra”.
“Varsóvia atribuiu a culpa à Rússia às pressas, sem apresentar qualquer evidência”, disse Nebenzia ao Conselho de Segurança. Ele argumentou que os danos relatados no leste da Polônia eram consistentes com a queda de destroços, e não com um ataque explosivo, e observou que as próprias autoridades polonesas admitiram que nenhuma ogiva havia sido encontrada.
Pela acusação do governo polonês, seriam pelo menos 19 violações ao longo de sete horas na quarta-feira passada, descrevendo o episódio como “deliberado” e “sem precedentes”.
Nebenzia lembrou episódio anterior, de 2022, em que um míssil atingiu uma área rural polonesa na fronteira (Przewodow), matando duas pessoas, e posteriormente foi reconhecido que se tratava de um míssil antiaéreo ucraniano desgarrado.
Ele acusou Kiev de tentar “arrastar a Otan para a guerra” e disse que os líderes europeus estavam mais uma vez usando “explosões histéricas” sobre a agressão russa para justificar a militarização.
A grita pela “guerra contra a Rússia” vem sendo transformada na razão de ser desses governos europeus, a ponto da Alemanha aprovar o maior gasto militar em décadas, ao mesmo tempo que o premiê Friedrich Merz, neto de nazista, diz que “o Estado de Bem Estar Social [alemão] é insustentável”.
Já o próprio Trump optou por minimizar o incidente: “poderia ter sido um erro”.
Nebenzia disse que Moscou estava disposta a se envolver em um “diálogo profissional” com autoridades polonesas para investigar o incidente, mas alertou contra a “diplomacia do megafone” e o que ele descreveu como “campanhas de informação” destinadas a prolongar o conflito na Ucrânia.
“Quem se beneficia dessa histeria artificialmente inflada? Somente o regime de Kiev e o partido europeu da guerra, que estão tentando desesperadamente sabotar as perspectivas de um acordo ucraniano que começou a tomar forma como resultado dos contatos russo-americanos em agosto”, disse Nebenzia.
A Otan aproveitou para anunciar o lançamento da operação “Sentinela Oriental”, supostamente para “reforçar a postura” ao longo do flanco leste, no momento em que Bielorrússia e Rússia realizam, como fazem de quatro em quatro anos, as manobras militares Zapad2025, para a qual estão convidados observadores do EUA e da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OCDE).
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, aparentemente contestando Trump, insistiu que “não foi” um erro a suposta incursão de drones. Seu ministro das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, desde Kiev, onde foi em visita, asseverou que qualquer um que duvide da “invasão” dos drones é “o autor ou cúmplice da propaganda russa”.
O mesmo Sikorski advogou, em uma entrevista no domingo ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, a instalação de uma Zona de Exclusão Aérea sobre a Ucrânia (do tipo que a Otan fez contra a indefesa Líbia em 2011).
“Deveríamos pensar nisso”, disse o maníaco de guerra, garantindo que a Otan e a União Europeia têm capacidade técnica para abater drones e mísseis russos no espaço aéreo ucraniano. “Mas esta não é uma decisão que a Polônia pode tomar sozinha, mas apenas com seus aliados”, acrescentou.
Vira e mexe, a “zona de exclusão aérea” sobre a Ucrânia – o que proibiria o voo de aviões russos – é aventada, mas afastada após alguém lembrar do velho ditado que “passarinho que engole pedra sabe o bico que tem”.
Nesta segunda-feira, por seu canal no Telegram, coube ao ex-presidente russo Dmitry Medvedev, advertir que tal zona de exclusão aérea significaria guerra aberta, e não mais por procuração, entre a Otan e a Rússia.
“Sério, implementar a ideia provocativa de Kiev e outros idiotas de estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia e permitir que os países da OTAN derrubem nossos drones significaria apenas uma coisa: uma guerra da OTAN contra a Rússia.”
Medvedev também comentou outra provocação contra a Rússia, a assim chamada apreensão “legal” de ativos russos (o dinheiro das reservas russas em bancos europeus, congeladas em 2002). O que vem sendo proposto pela presidente da Comissão Europeia e neta de nazistas, Ursula von der Leyen, como um “empréstimo de reparação” à Ucrânia usando ativos russos.
“Se isso acontecer, a Rússia perseguirá os países da União Europeia, bem como os eurodegenerados de Bruxelas e os países individuais da UE que estão tentando confiscar nossas propriedades, até os confins da Terra”, escreveu o ex-presidente russo e atual vice do Conselho de Segurança da Rússia.