“Esta retórica do chefe de um país cujas bombas mataram centenas de milhares de pessoas parece inaceitável e imperdoável. Afinal, ele (Joe Biden) é o homem que exigiu, ao falar na televisão do seu país, que a Iugoslávia fosse bombardeada. Exatamente, bombardeios à Iugoslávia. Exigiu que se matassem pessoas”, afirmou o secretário de imprensa do Kremlin, Dmitri Peskov, em resposta às palavras do presidente dos EUA que, chamou o seu homólogo russo, Vladimir Putin, de “carniceiro” em discurso no Palácio Real de Varsóvia, na Polônia, no sábado (26).
“Podemos lembrar a Biden quem é o criminoso de guerra?”, indagou ainda o diretor-geral da agência espacial russa Roscosmos, Dmitri Rogozin, ao divulgar em sua conta no Twitter um vídeo em que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que era então senador, afirmou ter sido ele quem sugeriu o bombardeio de Belgrado, (na ex-Iugoslávia), em 1999, informou a agência Russia Today.
“Eu sugeri que bombardeássemos Belgrado. Sugeri enviar pilotos americanos e explodir todas as pontes do rio Danúbio”, diz Biden na gravação.
No episódio citado, os ataques da Otan começaram o bombardeio em 24 de março de 1999 e se estenderam até 11 de junho, com saldo estimado de 2.500 mortos, incluindo 88 crianças. O crime não foi esquecido, dezenas de milhares de sérvios marcharam na quinta-feira (24) para marcar o 23º aniversário do bombardeio na então Iugoslávia.
E, depois de dizer em Varsóvia que “este homem [Putin] não pode continuar no poder”, o irritadiço presidente teve que ouvir do Kremlin: “Isso não é algo que Biden possa decidir. Somente o povo da Federação Russa pode decidir sobre isso”.
Tentando colocar panos quentes à situação, pouco depois das declarações, um funcionário anônimo da Casa Branca disse que Biden não havia pedido a remoção de Putin.
“A opinião do presidente é que Putin não deve ter permissão para exercer poder sobre seus vizinhos ou a região”, disse a autoridade. “Ele não discutiu o governo Putin ou a mudança de regime na Rússia”, desconversou. No domingo, o secretário de Estado Antony Blinken continuou o trabalho de tentar desmintir o que Biden falou na Polônia sobre retirar Putin do poder.
MACRON: SEM DESTEMPERO
“Eu não utilizaria essas palavras”, afirmou o presidente francês Emmanuel Macron em declarações à France 3, referindo-se aos insultos de Biden, sublinhando que “é preciso fazer tudo para que a situação não derrape”.
“Continuo a manter comunicações com o Presidente Putin porque, o que queremos fazer coletivamente é acabar com a guerra”, afirmou o chefe de Estado francês.
CHINA: FULANIZAÇÃO, NÃO
“Como as medidas de seu governo, como sanções e isolamento contra a Rússia, não são tão eficazes quanto ele esperava, e ao expressar extrema hostilidade em relação a Putin em uma ocasião pública internacional, Biden está tornando as tensões EUA-Rússia em pessoais, e isso também aumentou as dificuldades em consertar laços com a Rússia”, afirmou Lü Xiang, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
“Os EUA continuam chamando a exigência da Rússia de desnazificar a Ucrânia de mentira, mas não podem explicar por que o povo russo apoia fortemente seu presidente e governo. Eles viram russos étnicos no leste da Ucrânia serem mortos por forças militares ucranianas como o Batalhão Azov por anos, e o Ocidente fez vista grossa para isso e ignora a indignação dos russos. Isso pode explicar por que a maioria dos russos apoia Putin, mesmo que esteja sofrendo sanções iniciadas pelo Ocidente”, assinalou Lü.
Analistas disseram que diplomatas profissionais em Washington entendem o quão perigoso pode ser se o líder dos EUA pedir abertamente a mudança de regime de outra grande potência nuclear e membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, então a Casa Branca deve minimizar a incerteza provocada pelas palavras de Biden, sublinhou Yang Sheng, no portal Global Time.