A resolução que acaba de passar no Conselho de Segurança da ONU, aprovada com abstenções dos EUA, Inglaterra e Rússia, se contenta com pedido de “pausas prolongadas” para a passagem de combustível, água e mantimentos básicos, uma vez que a proposta de cessar-fogo, mundialmente exigida, foi vetada pelos Estados Unidos em todas as tentativas, inclusive a que foi submetida pelo Brasil com 12 votos a favor, mas não aprovada por conta do veto norte-americano
Na véspera desta votação, no dia 14, terça-feira, o Ministério das Relações Externas russo instou os EUA a pararem de bloquear que o Conselho de Segurança da ONU tome uma decisão para deter a crise humanitária na Faixa de Gaza, causada pelos ataques de Israel ao enclave palestino, que já resultou em mais de 11 mil mortos, a maioria crianças e mulheres, quando a comunidade internacional exige um cessar-fogo imediato em Gaza.
Moscou reiterou que “todos os representantes da ONU apelam unanimemente por um cessar-fogo humanitário imediato que ponha fim a este castigo coletivo desumano e ao sofrimento das crianças, mulheres e idosos”.
“O Conselho de Segurança da ONU, como principal órgão para a manutenção da paz e segurança internacionais, é chamado a tomar uma decisão a este respeito. No entanto, até agora, o Conselho de Segurança tem sido incapaz de cumprir o seu mandato direto e permanece paralisado em consequência da posição de um país: os Estados Unidos”, afirmou a chancelaria russa.
A Rússia lembrou ainda que Washington rejeitou sucessivamente dois projetos de resolução , um russo e outro brasileiro, que exigiam um cessar-fogo humanitário.
“[Os americanos] votaram contra a resolução da Assembleia Geral da ONU adoptada por esmagadora maioria sobre a Proteção dos Civis e o Respeito pelas Obrigações Legais e Humanitárias”, lê-se numa declaração oficial.
Em vez disso, disse a diplomacia russa, Washington está tentando impor às delegações do Conselho de Segurança “uma resolução que permita a Israel continuar a sua intervenção militar na Faixa de Gaza , as suas incursões forçadas e os seus ataques arbitrários contra o Líbano e a Síria”.
“É aqui que terminam os gestos humanitários dos Estados Unidos ”, afirmou Moscou, acrescentando que há exemplos como o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria, onde os EUA realizaram ofensivas em grande escala sob a alegação de combater o terrorismo.
De acordo com as autoridades russas, Israel – enquanto potência ocupante – não tem esse direito no que diz respeito ao território palestino ocupado, mas é plenamente responsável pela observação e cumprimento das suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional, incluindo as Convenções de Genebra de 1949, que acusam de crimes de guerra as ações de punição coletiva perpetradas por Israel em Gaza.
Embora a ONU e numerosos países tenham pedido a Israel que ponha fim às suas agressões ou que concorde ao menos com uma pausa humanitária, o regime de Netanyahu insiste na sua sanha assassina contra os civis palestinos e alardeou na terça-feira (13) estar prestes a tomar a Cidade de Gaza, enquanto promove a tiros de tanque e mísseis uma limpeza étnica da população civil para o sul, agora culminando com a horripilante e bárbara invasão do hospital Al Shifa.
Mas o genocídio em curso em Gaza vem crescentemente isolando Israel, com quase dez países tendo chamado seus embaixadores de volta para expressarem seu repúdio aos crimes de guerra e, segundo as agências de notícias, há o temor de Netanyahu de que esse número possa mais que dobrar em breve.
Mas a sanha israelense é tal que mesmo uma propositura morna como a aprovada agora pelo Conselho de Segurança não será acatada por Israel. O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, manteve sua postura afrontosa a todos os países que apoiaram a resolução, afirmando que a decisão “não tem sentido na prática” e que, enquanto “Israel está agindo de acordo com a lei internacional” os terroristas do Hamas nem lerão a resolução e não vai agir de acordo com ela.
Uma afirmação gratuita e descolada da realidade pois é Israel que descamba à barbarie ao bombardear escolas, prédios da ONU, destruir casas e invadir hospitais como faz agora no Al Shifa.
Na semana passada, o presidente francês Emmanuel Macron, que assinara o manifesto dos países coloniais em apoio a Israel e inclusive foi a Tel Aviv pessoalmente, veio a público pedir que o regime Netanyahu parasse de “matar mulheres e bebês”.
No Reino Unido, a ministra do Interior, Suella Braverman, caiu após 800 mil pessoas terem ido às ruas em Londres exigir o cessar-fogo, manifestação contra a qual ela moveu céus e terras e chamou de “ato de ódio e antissemita”.
Diante da revoada dos eleitores muçulmano-americanos, pela cumplicidade de Washington com o genocídio em Gaza, o próprio Biden veio a público pedir a Israel que travasse sua guerra contra os hospitais de Gaza de maneira “menos intrusiva”, enquanto seu secretário de Estado, Antony Blinken, teve de admitir que “demasiados palestinos” foram mortos – o que não impede Washington de manter o veto ao cessar-fogo e sua escolta ao genocídio, com dois porta-aviões e um submarino nucleares.
Agora foi a vez do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau exigir, nesta terça-feira, que Israel pare com a “matança de mulheres, crianças e bebês”.