Presidente da Câmara, condescendente durante a ocupação dos bolsonaristas, usa outra medida para retirar à força parlamentar do PSol. Motta também mandou sitiar o Plenário da Câmara com a Polícia Legislativa
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) impediu transmissões ao vivo do plenário da Câmara e um cinegrafista do canal GloboNews foi retirado do plenário da Casa, nesta tarde de terça-feira (9).
O sinal da TV Câmara, que transmitia ao vivo a sessão em plenário, foi imediatamente cortado e a imprensa, retirada de forma violenta, sem poder acompanhar a situação, informa a Agência Brasil.
O problema começou quando o deputado Glauber Braga (PSol-RJ) ocupou a cadeira da Presidência durante uma hora em protesto contra o tratamento diferenciado dado aos bolsonaristas pelo presidente da Casa. Segundo Braga, Hugo Motta não teve o mesmo comportamento contra os bolsonaristas que ocuparam e atrapalharam as votações em plenário no mês de agosto.
Naquele momento, deputados fascistas ocuparam as cadeiras da Mesa Diretora e impediram a abertura da sessão após a volta do recesso. E quase o agrediram.
“Que me arranquem desta cadeira e me tirem do plenário”, disse o deputado psolista antes de ser retirado à força pela polícia legislativa a mando de Motta.
“Quero saber é se o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, vai ter para com a minha pessoa o mesmo tipo de comportamento que teve com os deputados de extrema direita e ocuparam este espaço em articulação com um deputado que está nos Estados Unidos por uma tentativa de golpe de Estado. Ou se ele vai ter a decisão de solicitar da polícia legislativa que me arranque desta cadeira e me tire em plenário”, declarou Glauber.
🚨 GloboNews mostra cinegrafista sendo removido do Plenário da Câmara dos Deputados por ordem de Hugo Motta. Câmara está "isolada" e não se sabe o que está acontecendo dentro do Plenário neste momento
Imprensa foi expulsa, sinal da TV Câmara foi cortado e o vídeo tirado do ar pic.twitter.com/ipiUFhJGGd
— Camarote da República (@camarotedacpi) December 9, 2025
“Ele está sendo retirado carregado da mesa por força de segurança”, disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Vídeos mostram Glauber sendo retirado à força pela polícia, enquanto os deputados Orlando Silva (PCdo-B-SP), Alencar Santana (PT-SP), Samia Bomfim (PSOL-SP) e Lindbergh Farias (PT-RJ) tentam mantê-lo na cadeira.
Quando a voz do povo é arrancada à força, é a democracia que sangra.
Ver @Glauber_Braga sendo retirado do plenário por defender transparência e enfrentar abusos revela o que muitos querem esconder: há quem prefira calar a verdade do que encarar a justiça. pic.twitter.com/42qcfj9WXq
— Pastor Henrique Vieira (@pastorhenriquev) December 9, 2025
O líder do PDT, Mário Heringer (PDT-MG), afirmou que o episódio com Glauber é consequência de ação dos bolsonaristas que ocuparam a Mesa Diretora. “As pessoas que invadiram a mesa naquela ocasião já eram para estar punidas há muito tempo. Foi um grande ataque à democracia. Quando se abre uma oportunidade dessa, outras pessoas vão usar dela”, criticou
Em meio a essa crise, o presidente da Câmara pautou para votar o projeto da impunidade, chamado de “dosimetria”, que reduz as penas dos condenados pelos atos golpistas. Pelo projeto, relatado por Paulinho da Força (SD-SP), Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses, só ficaria preso 2 ou 3 anos.
Jornalistas barrados e agredidos:
Em troca, Motta decidiu Também pôr em votação os pedidos de cassação de Carla Zambelli (PL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ) e contar as faltas de Eduardo Bolsonaro. Abrir um processo disciplinar contra Alexandre Ramagem (PL-RJ) por fugir para os Estados Unidos após condenação do STF.
O deputado do PSol reagiu a esse acordão ocupando a Mesa da Presidência. O processo contra Glauber foi devido a ter respondido com empurrão à provocação de um notório integrante do grupo direitista MBL.
ABI REPUDIA AGRESSÕES A JORNALISTAS
A Associação Brasileira de Imprensa emitiu nota em que condena as atitudes de Hugo Motta, presidente da Câmara e cobra explicações.
A ABI classifica as agressões como “cenas nunca vistas, nem nos piores tempos da ditadura militar”
“Por determinação do presidente Hugo Motta, a Polícia Legislativa retirou com violência da Mesa da Câmara, o deputado Glauber Braga, que protestava contra a cassação de seu mandato. Mais grave do que isso, desligou o sinal da TV Câmara e expulsou, também com violência, os jornalistas do plenário”, diz a nota da entidade.
Leia a íntegra da nota:
ABI repudia agressão a jornalistas e parlamentares e o desligamento do sinal da TV Câmara
A Câmara dos Deputados viveu, nessa terça-feira (9), cenas nunca vistas, nem nos piores tempos da ditadura militar.
Por determinação do presidente Hugo Motta, a Polícia Legislativa retirou com violência da Mesa da Câmara, o deputado Glauber Braga, que protestava contra a cassação de seu mandato. Mais grave do que isso, desligou o sinal da TV Câmara e expulsou, também com violência, os jornalistas do plenário.
A Associação Brasileira de Imprensa, que nos seus 117 anos de existência sempre lutou em defesa da democracia, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, repudia com veemência o cerceamento ao trabalho da imprensa, num atentado à liberdade de imprensa e ao direito de informação da população brasileira, bem como as agressões físicas a profissionais da imprensa e a parlamentares.
Mais do que isso, exige explicações do presidente da Câmara, Hugo Motta, e a sua responsabilização direta pelas agressões aos jornalistas, parlamentares e servidores, pelo desligamento do sinal da TV Câmara e pelo cerceamento do trabalho desses profissionais.
Com essas atitudes violentas e autoritárias, Hugo Motta perde todas as condições políticas de continuar presidindo a Câmara dos Deputados.
Esse foi o mais grave atentado à liberdade de imprensa, exatamente na Casa que deveria ser a defensora da democracia.
A ABI também se solidariza com os profissionais agredidos, bem como com os parlamentares, especialmente o deputado Glauber Braga, e servidores.
Rio de Janeiro, 09 de dezembro de 2025
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA











