Tentou livrar o “chefe”, culpando os “Três Poderes” pelo caos. Prometeu fazer uma “dura oposição ao projeto progressista do governo de turno”. O que teve de positivo foi o fato de ser o último discurso deste desgoverno
Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro, aproveitou que o chefe fugiu para os Estados Unidos para se refastelar num dos resorts de luxo de Donald Trump, e usou uma cadeia nacional de Rádio e TV para, a pretexto de falar ao povo sobre a passagem de ano, fez um proselitismo tão vazio e falso quanto descolado da realidade do povo e da nação brasileira.
Mourão teve a cara dura de dizer que o governo ao qual pertence, e que saiu pela porta dos fundos, deixando um país destroçado, entregou “avanços significativos” ao povo. Realmente houve grandes avanços na fome, na inflação, na carestia, na desindustrialização, na falta d´água no Nordeste, na merenda congelada, nas universidades quase fechando, nas centenas de milhares de mortes por covid-19, na corrupção até com a bíblia, no assalto aos cofres através do criminoso orçamento secreto, etc, etc.
Mas Mourão insistiu que os “avanços” foram “na economia”. Alardeou que o país avançou na digitalização da gestão pública e na regulamentação da tecnologia da informação. A fila para atendimento no INSS mostra bem esse “avanço”.
Ele comemorou a privatização de estatais e a “liberalização” da economia. O que foi liberado no país foi o roubo descarado do patrimônio público. Disse que promoveram “uma eficaz e silenciosa reforma administrativa, não re-completando vagas disponibilizadas por aposentadoria”. Esse foi o caminho do desmonte: não repor funcionários.
O arrocho sobre aposentados, ele chamou de “renovação de nosso modelo previdenciário”. O retrocesso econômico foi batizado de “potencialização do agronegócio.”
A destruição do Estado brasileiro e de todos os seus órgãos, levada a cabo por Bolsonaro, ele chama cinicamente de “uma eficaz e silenciosa reforma administrativa”. Os órgãos e empresas públicas foram deixando de atuar porque “não se re-completavam as vagas disponibilizadas por aposentadoria”. Os grileiros de terras, garimpeiros ilegais e as milícias foram ocupando espaços. O retrocesso do país à condição de país agroexportador foi saudado por Mourão como sendo a “potencialização do agronegócio”.
A queima de patrimônio do povo e a sua entrega – em tenebrosas transações – a grupos estrangeiros por Guedes & Cia é comemorada por Mourão como sendo “uma exitosa política de privatização de estatais”. O “general” foi tão apátrida e pró-americano – como aliás vem ocorrendo com uma parcela das FFAA – que abraçou até mesmo a ideologia americana do “destino manifesto”, tentando copiá-la para transformar o Brasil numa colônia dos EUA.
Trechos completamente lunáticos como “trabalhamos duramente contra a pandemia, auxiliando os mais necessitados, apoiando as empresas na manutenção do salário dos empregados e desonerando suas folhas de pagamento”. Foi tudo ao contrário. Eles foram contra as medidas sanitárias, contra as vacinas, contra as máscaras, etc. Foram contra a ajuda emergencial. Só cederam quando o Congresso deixou claro que decidiria pela ajuda à revelia do governo.
E o delírio do Mourão não parou por aí. “Trabalhamos e entregaremos ao próximo governo um país equilibrado, livre de práticas sistemáticas de corrupção, em ascensão econômica e com as contas públicas equilibradas, projetando o Brasil como uma das economias mais prósperas e com resultados mais significativos pós-pandemia do conserto das nações”. Estão entregando o país quebrado, com 33 milhões de pessoas passando fome, serviços públicos paralisados por falta de recursos e Mourão fala em equilíbrio.
Para não dizer que discordamos de tudo o que Mourão disse na TV, registramos concordância com as poucas críticas que ele fez ao seu chefe, Jair Bolsonaro. “Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social, e de forma irresponsável deixaram que as forças armadas de todos os brasileiros pagassem a conta”.
Exatamente, foi Bolsonaro quem tentou o tempo todo arrastar as FFAA para uma aventura golpista. “Para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe. A alternância do poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada”, disse Mourão. O fato é que Bolsonaro saiu pela porta dos fundos exatamente porque não conseguiu arrastar as FFAA para os seus delírios golpistas.
Ainda bem que o presidente Lula toma posse neste primeiro dia do mês de janeiro de 2023 e o Brasil enterrará de vez essa experiência trágica de sermos governados por lunáticos, imbecis e fascistas que, com sus ignorância e o seu servilismo aos EUA, quase levaram o país ao abismo. Este discurso de Mourão – que pode ser lido na íntegra abaixo -, graças a Lula e ao povo brasileiro, é o último capítulo deste pesadelo vivido pelo Brasil nos últimos quatro anos.
Leia na íntegra:
“Brasileiras e brasileiros, boa noite.
No momento que concluímos mais um ano pleno de atividades e de intensos engajamentos de toda ordem, na condição de presidente da república em exercício, julgo relevante trazer uma palavra de esperança, de estilo e de apreço ao povo brasileiro, especialmente na ocasião em que nosso governo concluiu o período constitucional de Gestão Pública do país iniciado em 1º de Janeiro de 2019. Vislumbro que os acontecimentos políticos, econômicos e sociais, que tem marcado a presente quadra da nossa história, seguirão impactando a vida da gente brasileira nos próximos anos, tornando a caminhada ainda mais desafiadora, visto que o mundo ainda se ressente da pandemia da covid-19, e a economia mundial sofre as consequências da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
O governo que agora termina, ao longo de quatro anos fez entregas significativas na economia, no avanço da digitalização da gestão pública, na regulamentação da tecnologia da informação, na privatização de estatais, na liberalização da economia, promovendo também, uma eficaz e silenciosa reforma administrativa, não re-completando vagas disponibilizadas por aposentadoria, além da renovação de nosso modelo previdenciário, também potencializando o agronegócio em vários campos do conhecimento humano.
Juntos, trabalhamos duramente contra a pandemia, auxiliando os mais necessitados, apoiando as empresas na manutenção do salário dos empregados e desonerando suas folhas de pagamento. Apoiamos os governos estaduais e municipais com recursos médicos e medicamentos, independentemente da posição política ou ideológica dos chefes do executivo, permitindo que seus governos os direcionassem para as áreas onde aquela administração achasse conveniente. Trabalhamos e entregaremos ao próximo governo um país equilibrado, livre de práticas sistemáticas de corrupção, em ascensão econômica e com as contas públicas equilibradas, projetando o Brasil como uma das economias mais prósperas e com resultados mais significativos pós-pandemia do conserto das nações.
Tais iniciativas permitiram pleitear o ingresso do país na organização para cooperação e desenvolvimento econômico, a OCDE, o que possibilitará a melhoria ao acesso a mercados e a novas parcerias. Cabe destacar que a OCDE tem como princípios básicos a democracia e o livre-mercado.
Nem todas as empreitadas obtiveram o sucesso que almejamos. Na área ambiental, por exemplo, tivemos percalços. Embora nesse último ano tenhamos alcançado uma redução importante no desmatamento da Amazônia. Contudo, a região ainda necessita de muito trabalho e de cuidados específicos, engajando as elites e as comunidades locais cortejadas permanentemente pela sanha predatória oriunda dos tempos coloniais.
Dirijo-me agora aos apoiadores de nosso governo e aqueles que credibilizaram o nosso trabalho por meio do voto consignado as nossas propostas, sobretudo nas últimas eleições. Muito obrigado por seu voto. Desejo incitá-los a lutar pela preservação da democracia, dos nossos valores, do estado de direito e pela consolidação de uma economia liberal, forte, autônoma e pragmática e que nos últimos tempos foi tão vilipendiada e sabotada por representantes dos Três Poderes da República, pouco identificados, com o desafio da promoção do bem comum.
A falta de confiança de parcela significativa da sociedade nas principais instituições públicas decorre da abstenção intencional destes entes no fiel cumprimento dos imperativos constitucionais, gerando a equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos que, no regime vigente, carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional em curso.
Lideranças que deveriam tranquilizar e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação social, e de forma irresponsável deixaram que as forças armadas de todos os brasileiros pagassem a conta. Para alguns por inação e para outros por fomentar um pretenso golpe. A alternância do poder em uma democracia é saudável e deve ser preservada.
Aos eleitos cumpre o dever de dar continuidade aos projetos iniciados e direcionar seus esforços para que à luz de suas propostas o país tenha assegurado uma democracia urgente e plural em um ambiente seguro e socialmente justo. Aos que farão oposição ao governo que entra, cumprirá a missão de opor-se a desmandos, desvios de conduta, e a toda e qualquer tentativa de abandono do perfil democrático e plural duramente conquistado por todos os cidadãos. Buscando-se a redução das desigualdades por meio da educação isenta e eficaz, criando oportunidades iguais a todos os brasileiros.
Destaco que a partir do dia primeiro de Janeiro de 2023, mudaremos de governo, mas não de regime. Manteremos nosso caráter democrático com poderes equilibrados e harmônicos. Alternância política pelo sufrágio universal, pessoal, intransferível, secreto, buscando sempre maior transparência e confiabilidade. Tranquilizemo-nos, retornaremos a normalidade da vida, aos nossos afazeres e ao conserto de nossos lares, com fé e com a certeza de que nossos representantes eleitos farão dura oposição ao projeto progressista do governo de turno sem, contudo, promover oposição ao Brasil. Estaremos atentos.
Na condição de presidente da república em exercício finalizo estas palavras apresentando-lhes os meus melhores votos de um ano de 2023 pleno de saúde, felicidades e muitas realizações. Que o nosso amado Brasil continue sua caminhada na direção de seu destino manifesto, tornar-se a mais próspera e bem sucedida democracia liberal ao sul do Equador. Feliz ano novo, êxito pessoal e prosperidade para cada um de nós que formamos essa grande nação. Muito obrigado e boa noite”.