
“A reciprocidade é um gesto de soberania, não de hostilidade”, diz em carta ao presidente Lula o MDSN
O Movimento em Defesa da Soberania Nacional (MDSN) enviou uma carta a Lula com seis pontos de recomendações para atuar contra a agressão ao Brasil por Donald Trump, que taxou em 50% os produtos brasileiros exportados para os EUA.
O movimento denuncia “crescentes sinais de ingerência econômica, tecnológica e simbólica dos Estados Unidos da América do Norte sobre o território brasileiro e sobre decisões soberanas que cabem exclusivamente ao Estado brasileiro e ao povo que o sustenta”.
Entre os pontos, o MDSN pede a “imediata aplicação da reciprocidade tarifária”.
O texto recomenda “a aplicação imediata de medidas recíprocas, especialmente sobre produtos, dividendos, royalties e serviços prestados por empresas de capital norte-americano operando no Brasil. A reciprocidade é um gesto de soberania, não de hostilidade”.
O documento propõe ainda a “aceleração da desdolarização” nas trocas comerciais dos BRICS, investigação dos contratos da dívida pública brasileira, suspensão imediata das negociações para instalação de data centers de big techs estrangeiras, a convocação de rede nacional de rádio e TV para desmentir Donald Trump e que o programa em cadeia nacional seja uma convocação à sociedade brasileira para reavaliar os termos da relação com os EUA.
O MDSN tem como presidente Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni, engenheiro eletricista e ex-diretor da Copel (Companhia Paranaense de Energia), e vice-presidente Guilherme Estrella, geólogo, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás e conhecido como o Pai do Pré-sal.
Leia a íntegra da nota do MDSN:
MDSN – MOVIMENTO EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL
Carta de Recomendação de Ação ao Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
Brasília, 10 de julho de 2025
Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
O Movimento em Defesa da Soberania Nacional (MDSN) vem, por meio desta, apresentar recomendações de ação estratégica e urgente, tendo em vista os crescentes sinais de ingerência econômica, tecnológica e simbólica dos Estados Unidos da América do Norte sobre o território brasileiro e sobre decisões soberanas que cabem exclusivamente ao Estado brasileiro e ao povo que o sustenta.
1. Imediata aplicação da reciprocidade tarifária
Diante da política agressiva adotada pelos Estados Unidos da América do Norte ao tributar pesadamente produtos e serviços oriundos de países do Sul Global, recomendamos a aplicação imediata de medidas recíprocas, especialmente sobre produtos, dividendos, royalties e serviços prestados por empresas de capital norte-americano operando no Brasil. A reciprocidade é um gesto de soberania, não de hostilidade.
2. Proposta de aceleração da desdolarização nas trocas comerciais dos BRICS
A dependência do dólar como moeda de liquidação internacional enfraquece a autonomia econômica do Brasil e perpetua nossa submissão aos ciclos de instabilidade criados pelo Federal Reserve. É imperativa a aceleração das tratativas já iniciadas no âmbito dos BRICS para estabelecer mecanismos bilaterais de comércio em moedas locais, com prioridade para operações com China, Índia e Rússia.
3. Investigação dos contratos da dívida pública brasileira
Solicitamos que o governo federal inicie uma ampla e criteriosa investigação sobre a validade, origem e legalidade dos contratos que compõem a dívida pública brasileira. Parte expressiva dessa dívida pode ter sido gerada em contextos de favorecimento ao sistema financeiro internacional, em prejuízo direto da população brasileira. Importante lembrar que os Estados Unidos da América do Norte figuram entre os maiores beneficiários diretos e indiretos dos pagamentos periódicos realizados pelo Brasil, seja por meio de fundos, bancos ou estruturas de intermediação financeira global ligadas ao sistema dólar.
4. Suspensão imediata das negociações para instalação de data centers de big techs estrangeiras
Recomendamos que sejam suspensas todas as tratativas e concessões para instalação de infraestruturas sensíveis de tecnologia, como data centers de empresas como Amazon, Microsoft, Google e Meta, até que o Brasil possua um marco legal soberano que garanta o controle total sobre os dados gerados em território nacional.
5. Que o Presidente Lula convoque rede nacional de rádio e TV para desmentir a desinformação do presidente Donald J. Trump
A desinformação propagada pelo atual presidente dos Estados Unidos da América do Norte, Donald Trump, sobre a política brasileira, ameaça diretamente a estabilidade democrática e a imagem internacional do Brasil. É urgente que Vossa Excelência convoque a sociedade, em rede nacional obrigatória de rádio e televisão, para esclarecer os fatos e reafirmar o compromisso da República Federativa do Brasil com sua soberania, sua Constituição e a verdade.
6. Que o programa em cadeia — simbolicamente nomeado de ‘Cadeia da Soberania’ — seja uma convocação à sociedade brasileira para reavaliar os termos da relação com os EUA
Sugerimos que essa cadeia nacional não se limite à denúncia, mas se transforme em uma convocação nacional às entidades civis, sindicatos, universidades, movimentos populares e instituições democráticas para que debatam publicamente quais devem ser os fundamentos de uma nova relação entre o povo brasileiro e o povo norte-americano — uma relação respeitosa, entre dois estados soberanos, fundada no respeito mútuo às constituições de cada país.
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Conclusão
O Brasil precisa ser protagonista de sua própria história. Não há soberania econômica sem controle estratégico. Não há soberania política sem reação à interferência. E não há soberania tecnológica sem comando sobre os próprios dados.
O MDSN confia que Vossa Excelência saberá compreender a gravidade deste momento e atuar com a firmeza que o Brasil exige.
Respeitosamente,