A ex-esposa de Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle, foi convocada pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MP-RJ) para depor sobre os assessores fantasmas e o esquema de “rachadinha” (recolhimento ilegal de parte da remuneração dos funcionários e repasse aos parlamentares) no gabinete de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
O MP-RJ começou a investigação, que corre em segredo de Justiça, depois da publicação, em abril, de reportagens nas quais assessores de Carlos confessaram que não trabalhavam no gabinete.
Uma delas, Nadir Barbosa Goes, que tinha 70 anos na época da reportagem, mora a 50 km do Rio de Janeiro, em Magé. Apesar de receber R$ 3.461 mensalmente do gabinete de Carlos, disse à reportagem da revista Época que não trabalhava com Bolsonaro.
“Fala com o vereador que eu não sei de nada, viu”, disse.
O chefe de gabinete de Carlos, Jorge Luiz Fernandes, tentou explicar dizendo que Nadir cumpria um papel para o gabinete na zona oeste do Rio, mas uma sobrinha disse que ela não ia para a capital há mais de dez anos.
Nadir Barbosa é irmã do militar Edir Barbosa Góes, de 71 anos, que ainda consta como assessor do vereador, com um salário de R$ 7.386.
A ex-esposa de Jair Bolsonaro, que não é mãe de Carlos, esteve empregada no gabinete entre 2001 e 2008. Sete parentes dela também foram empregados por Carluxo, como é conhecido na intimidade.
Carlos não é o único da família Bolsonaro investigado por usar o mandato para desviar recursos públicos.
Seu irmão Flávio, junto do faz-tudo da família Fabrício Queiroz, empregou familiares de milicianos e praticava a “rachadinha”. Os depósitos dos recursos recolhidos dos funcionários eram feitos na conta de Fabrício Queiroz que os repassava para o então deputado Flávio Bolsonaro.
Um primeiro relatório entregue ao Ministério Público mostrou uma movimentação, entre 2016 e 2017, de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz, que não tinha rendimento compatível com essa movimentação. O órgão avaliou o período de 2014 e 2017 e detectou que a movimentação chegava R$ 7 milhões na conta do assessor de Flávio Bolsonaro.
O MP-RJ já identificou, até agora, que 13 assessores fantasmas fizeram 483 depósitos para Fabrício Queiroz, somando mais de R$ 2 milhões.