Os investigadores concluíram que Flávio chefiava a organização criminosa que desviou recursos públicos da Alerj e Queiroz era o operador do esquema. Milicianos de Rio das Pedras também estavam envolvidos
O Ministério Público do Rio (MP-RJ) concluiu as investigações do esquema de rachadinha envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Fabrício Queiroz, aposentado da Polícia Militar e assessor especial do senador no período em que foi deputado estadual no Rio.
No final da tarde desta segunda-feira (28) houve rumores de que o órgão já havia entregue ao Tribunal de Justiça do Rio denúncia contra os dois pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na noite, o MP do Rio emitiu nota afirmando que a denúncia ainda não foi formalizada.
Flávio foi apontado como líder da organização criminosa, e Queiroz, como o operador do esquema de corrupção que funcionava no antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
A investigação do MP-RJ teve início em julho de 2018, depois que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre 2016 e 2018. Depois esse valor chegou a R$ 7 milhões quando a pesquisa retrocedeu até 2014.
A partir dos dados das quebras de sigilo bancário e fiscal, os promotores apontam que o senador usou pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema de desvio de dinheiro público montado em seu gabinete. Os valores somam os três métodos pelo qual o filho do presidente Jair Bolsonaro “lavou” o dinheiro em espécie.
O dinheiro era repassado por transferências, depósitos, mas também em espécie. Depois, segundo a investigação, o dinheiro era lavado e voltava para Flávio por meio de transações imobiliárias, na loja de chocolates e também no pagamento de despesas pessoais com dinheiro vivo, o que oculta a origem.
Os investigadores apontaram que oito assessores de Flávio faziam repasses para Queiroz, além de estar assinalada a participação de integrantes da família de Queiroz. Foram identificadas transferências e depósitos de Márcia Aguiar, Nathália e Evelyn Queiroz, mulher e filhas do subtenente.
São 23 os ex-assessores citados em relatórios do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP-RJ. Eles são divididos em três grupos. O primeiro, composto por 13 ex-funcionários, é o núcleo ligado a Queiroz, formado por seus familiares, além de vizinhos e amigos indicados por ele para o gabinete. Esses 13 ex-assessores depositaram, ao longo dos 11 anos, R$ 2,06 milhões na conta bancária de Queiroz (69% do valor em dinheiro vivo). Além disso, esse grupo sacou R$ 2,9 milhões em espécie ao longo desse período.
No segundo grupo, constam ainda Danielle Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães, ex-mulher e mãe de Adriano Nóbrega, ex-capitão do Bope e chefe da milícia de Rio das Pedras, que foi morto em fevereiro numa operação policial no interior da Bahia. Elas repassaram recursos para Queiroz e para Adriano. Já as pizzarias de Raimunda e de Adriano também fizeram transações financeiras com repasses para Queiroz.
O terceiro grupo descrito pelo MP contém dez ex-assessores residentes em Resende, a cidade onde membros da família Bolsonaro viveram, no Sul fluminense. Nove deles têm parentesco com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher e mãe do filho mais novo do presidente Jair Bolsonaro. Dos dez ex-funcionários do núcleo de Resende, seis sacaram em espécie mais de 90% dos salários recebidos, e outros três acima de 70%. Foi um total de R$ 4 milhões.