Os procuradores da Lava Jato informaram à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, trocou telefonemas suspeitos com o ex-senador Aloísio Nunes (PSDB), investigado pela Lava Jato e, por isso, solicitaram que o ministro deva ser afastado dos casos que envolvam o senador e Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB.
O documento, enviado nesta quarta-feira (6) à Procuradoria Geral da República (PGR), cita, além das ligações telefônicas de Aloysio Nunes com o gabinete de Gilmar Mendes, telefonemas para o ex-ministro de Temer, Raul Jungmann.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), “em fevereiro de 2019, Aloysio Nunes Ferreira Filho atuou, em interesse próprio e do também investigado Paulo Vieira de Souza, junto ao ministro Gilmar Mendes, valendo-se de relação pessoal com este, para produção de efeitos protelatórios em processo criminal em trâmite na 5ª Vara da Justiça Federal de São Paulo”.
Nas mensagens apresentadas, há uma conversa de 11 de fevereiro do advogado José Roberto Figueiredo Santoro com Aloísio Nunes.
José Roberto Figueiredo Santoro: “Caríssimo você falou com nosso amigo?”
Aloysio Nunes: “Falei. Resposta vaga: sim, já estou sabendo… Compreensível dadas as circunstâncias.”
José Roberto Figueiredo Santoro: “Vc é um anjo.”
Segundo o MPF, o trecho indica que Nunes “havia conversado, ao que tudo indica, com o Ministro Gilmar Mendes”.
O documento mostra que no mesmo dia Aloysio Nunes fez ligações e recebeu telefonemas do gabinete de Gilmar Mendes. O ex-senador também trocou telefonemas e mensagens com Raul Jungmann.
Aloysio Nunes: “Falei”.
Raul Jungmann: “E?!?!”
Aloysio Nunes: “Vago, cauteloso, como não poderia ser diferente.”
Segundo o MP, dois dias depois, o advogado José Roberto Figueiredo Santoro informou o tucano por mensagem de celular que “o ministro Gilmar Mendes deferiu o habeas corpus nº167727, a favor de Paulo Vieira de Souza, protegido de Aloysio Nunes Ferreira Filho”. (v. Lava Jato denuncia: decisão de Gilmar Mendes livra Paulo Preto da Justiça).
Na oportunidade, Gilmar Mendes determinou o reinício da coleta de provas.
O documento mostra que, no dia seguinte, Nunes e Jungmann trocaram mensagens comemorando:
Aloysio Nunes: “Nosso causídico é foda!”
Raul Jungmann: “Sr de escravos..”
De acordo com os procuradores, as conversas evidenciam “a interferência de Aloysio Nunes Ferreira Filho, em interesse próprio e do também investigado Paulo Vieira de Souza, junto ao Ministro Gilmar Mendes, valendo-se de relação pessoal com este, para produção de efeitos protelatórios em processo criminal em trâmite na Justiça Federal de São Paulo”.
“De forma muito mais acintosa, o contato foi feito pelo próprio investigado da Operação Lava Jato, Aloysio Nunes Ferreira Filho, com o E. Ministro do Supremo Tribunal Federal”, destaca o MPF. (v. Paulo Preto é condenado a 27 anos e Gilmar recua de obstruir processo)
A apuração identificou que foi emitido um cartão de crédito em nome de Aloysio Nunes Ferreira, vinculado à conta de Paulo Vieira de Souza no exterior. Esta conta era abastecida por propinas recebidas em troca de superfaturamentos em obras viárias em São Paulo. O banco foi orientado a entregar o cartão de crédito no Hotel Majestic Barcelona, na Espanha, onde Aloísio Nunes estava hospedado.
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