O protesto feito por mulheres na sede da Nestlé, na cidade de São Lourenço, no Sul de Minas Gerais na terça-feira (20), é um alerta contra a depredação ambiental que a multinacional vem fazendo há anos na região. A sede da empresa foi ocupada por cerca de 600 mulheres ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Elas denunciam a entrega das águas às corporações internacionais nas negociatas que ocorriam no Fórum Internacional das Águas, em Brasília.
A suíça Nestlé, que controla 10,5% do mercado mundial de água, está instalada em São Lourenço de desde 1994, quando comprou as fontes e o Parque das Águas da cidade. Desde 1997 a população local denuncia a exploração das águas minerais que, antes de serem privatizadas, eram amplamente utilizadas para tratamentos medicinais. Além da redução da vazão, mudou também o sabor da água, o que indica que a exploração está levando à perda dos seus sais minerais naturais. São retirados 19 milhões de litros de água por ano da cidade.
O presidente da Nestlé, Peter Brabeck, criticou os que defendem que a água deve ser declarada como um bem público. Para ele a água deve ser considerada com “um gênero alimentício e, como qualquer outro gênero alimentício, deve ter um valor de mercado”. Ou seja, para o monopolista a água dever ter proprietário, que não é a população, mas ele próprio. Como dono da água, ele vai precificá-la e vendê-la. O custo para tirar a água de São Lourenço é de R$ 0,02 e ela é vendida a R$ 1,19. Um superlucro de 3000%.
O processo de envase leva ao mercado duas marcas, a São Lourenço e a Pure Life. Segundo relatado em nota do MST, esta última foi comercializada sem licença estadual de 1999 até 2004, numa operação autorizada pelo governo de Aécio Neves (PSDB) e mantida até hoje. Uma ação cível pública contra a Nestlé apurou que além de abrir ilegalmente o Poço Primavera e provocar a seca da fonte magnesiana, a água produzida também era ilegal – a Nestlé fazia a retirada química dos minérios naturais do líquido para, em seguida, adicionar sais minerais de sua própria patente, de forma a dar o “diferencial de mercado” para a marca.
Em janeiro de 2018, Michel Temer e outro presidente da Nestlé, Paul Bulcke, se reuniram em Davos, na Suíça para discutir a exploração do Aquífero Guarani. O Guarani abrange quatro países sul americanos. Recentemente governador de Minas Gerais resolveu dividir a empresa (Codemig), responsável pela exploração das águas e do nióbio, para privatizá-la. Uma empresa ficaria responsável pela exploração do nióbio e seria entregue para os atuais exploradores do metal, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineraçã (CBMM). A mudança significará que eles não pagariam mais ao Estado pela exploração. A outra empresa criada por Pimentel, ficaria com as águas de Caxambu, Lambari, Cambuquira e Araxá. Esta empresa será privatizada, como a de São Lourenço já foi.
Após a manifestação na sede da Nestlé, a Polícia Militar, sob comando de Fernando Pimentel (PT), impediu a saída dos ônibus que levavam as manifestantes de volta aos seus acampamentos. Segundo denúncias, os policiais apreenderam as chaves de nove veículos e mantiveram mais de 400 mulheres presas nos ônibus, impedindo-as de fazer fotos e filmagens e ameaçando apreender os celulares.
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