
Envio da Guarda Nacional para a capital e outras cidades dos Estados Unidos fez explodir protestos pelas ruas em meio ao agravamento dos confrontos com os imigrantes
Ao coro de “Resista à tirania” e “Trump renuncia”, uma multidão tomou as ruas de Washington para protestar contra o envio de tropas federais e da Guarda Nacional neste sábado (6), erguendo uma barreira humana contra o “regime fascista” e a escalada de operações contra os imigrantes. Faixas e cartazes condenando Trump com Hitler foram erguidos ao longo do protesto na terceira maior cidade dos Estados Unidos, tomada mais de 2.000 soldados, incluindo de seis estados governados por republicanos.
Conforme os manifestantes, o governo está violentando os direitos humanos com uma ocupação ilegal e criminosa da sua cidade. Organizações denunciaram inúmeros abusos de migrantes sem documentos, com moradores relatando prisões arbitrárias e o uso desproporcional da força em bairros populares e em comunidades vulneráveis.
Na convocação, as entidades alertaram que as forças federais enviadas pelo governo “vigiaram e detiveram moradores da classe trabalhadora, migrantes e moradores de rua”. A declaração das organizações detalhou que “milhares foram detidos ou assediados simplesmente por viverem suas vidas cotidianas”.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo The Washington Post e pela Universidade George Mason, na Virgínia, oito em cada dez moradores de Washington se opõem à medida do presidente.
Desprezando completamente a opinião massiva dos habitantes da capital, Trump defendeu as inúmeras medidas abusivas e insanas como parte de uma estratégia para “restaurar a lei, a ordem e a segurança pública”. Ao contrário do alegado pelo governo para justificar a intervenção, os registros oficiais apontam que “os crimes violentos diminuíram 26% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior”. Além disso, conforme aponta o Departamento de Justiça, os delitos violentos em Washington alcançaram o mínimo nas últimas três décadas em 2024.
UM HISTÓRICO DE ABUSOS E ATROPELOS
A intervenção federal em Washington, D.C., ocorreu há três semanas, quando Trump assumiu o controle do Departamento de Polícia Metropolitana, arregimentou centenas de agentes federais e mobilizou cerca de 800 soldados da Guarda Nacional. A medida foi protegida por uma cláusula da Lei de Autonomia, que rege a autogovernança da capital desde 1973.
“Estou aqui para protestar contra a ocupação de Washington, D.C. Nós nos opomos ao regime autoritário e precisamos tirar a polícia federal e a Guarda Nacional de nossas ruas”, declarou Alex Laufer, um dos participantes.
Outro manifestante, Casey, que preferiu não dar o sobrenome, apontou que “estão tentando fazer em D.C. é o que estão tentando fazer em outras ditaduras e se as pessoas tolerarem o suficiente, vão fazer isso em mais e mais áreas”. “Então temos que parar enquanto ainda podemos”, sublinhou.
As tensões entre o governo federal e as autoridades locais em Washington levaram a ações judiciais. O procurador-geral Brian Schwalb entrou com uma ação na quinta-feira (4) com o objetivo de bloquear o envio de tropas, argumentando que era inconstitucional e violava diversas leis federais.
Enquanto isso, a prefeita de Washington, Muriel Bowser, tem se mostrado dúbia, pois embora reconheça ter havido uma redução no roubo de carros, também disse esperar que a missão da Guarda Nacional acabe logo. A prefeita também assinou uma ordem exigindo que a própria cidade coordene suas ações com as forças de segurança federais.
O governador de Illinois, J.B. Pritzker, disse não ter sido consultado pelo governo federal das suas ações e que foi informado por repórteres que “mais agentes estão a caminho”.
Trump reforçou sua mensagem com postagens nas redes sociais parodiando o filme Apocalipse Now. Numa delas escreveu: “Adoro o cheiro de deportações pela manhã” e acrescentou: “Chicago está prestes a descobrir por que se chama Departamento de Guerra”, referindo-se à sua ordem que renomeou o Departamento de Defesa.