Manifestantes apontam submissão a ditames do FMI como principal fator no agravamento das condições de vida da população: sete a cada dez equatorianos estão desempregados
Milhares de indígenas bloquearam as principais ruas da capital do Equador, Quito, na terça-feira (21), e se enfrentaram com as forças de segurança, no nono dia de protestos que exigem que o governo de Guillermo Lasso reduza o preço do combustível e de produtos de primeira necessidade, que acabe com a dolarização da economia, que sejam respeitados seus territórios, além de mais verbas para saúde e educação.
Um dos encontros mais significativos ocorreu no campus da Universidade Central do Equador, segundo diversos meios de comunicação que apontaram a presença de milhares de pessoas pertencentes a comunidades indígenas, além de trabalhadores e estudantes, no marco de um segundo estado de emergência decretado pelo presidente na segunda-feira (20).
Durante os nove dias de greve por tempo indeterminado, importantes vias e prédios públicos das principais cidades do país foram bloqueados, além da capital.
O presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), a mais importante organização indígena do país, Leónidas Iza, afirmou que o povo continuará se manifestando até que o governo responda aos pedidos dos indígenas.
Os protestos exigem a redução dos preços dos combustíveis após o aumento de 90% do valor do galão do diesel, que chegou a US$ 1,90 (R$ 9,79), e de 46% da gasolina comum (fixados em US$ 2,55, ou R$ 13,14) entre maio de 2020 e outubro de 2021. Desde o ano passado, a entidade propõe que os preços sejam reduzidos a US$ 1,50 (R$ 7,70) e US$ 2,10 (R$ 10,83), respectivamente, valores ainda altíssimos para o conjunto da população, exigências ainda não aceitas.
MENOS FMI
“O presidente Guillermo Lasso, deve se concentrar menos em seguir as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) se quiser resolver os problemas econômicos e sociais que nosso povo vive todos os dias”, acrescentou o líder da Conaie.
Este ano, expira o acordo de 6,5 bilhões de dólares de Quito com a organização internacional, que inclui aumento de impostos, eliminação de subsídios e impediu maior cobertura de ajuda econômica para setores vulneráveis. De acordo com Iza em entrevista à Reuters, os manifestantes indígenas acreditam que o ‘roteiro’ imposto pelo FMI foi seguido “com indevida rigidez” pelas autoridades equatorianas e estava agravando os efeitos econômicos causados pela pandemia de Covid-19 entre os pobres.
A Confederação ratificou a continuidade dos protestos e classificou o plano de solução anunciado por Lasso como ridículo e sem efeito prático. Nessa linha, o líder Leónidas Iza pediu aos parlamentares do movimento Pachakutik, braço partidário da confederação indígena na Assembleia Nacional, que proponham a revogação do decreto do estado de emergência.
A constituição equatoriana permite que o parlamento revogue esse decreto e para isso são necessários 70 dos 137 votos.
INFLAÇÃO DESCONTROLADA
Os indígenas pedem também o controle de preços dos produtos agrícolas para melhorar suas economias familiares. Outra exigência é uma moratória de um ano para o pagamento de créditos ao banco.
Pabel Muñoz (Movimento Revolução Cidadã), líder da bancada de oposição, avalia que a resposta do governo à paralisação foi um “fracasso”.
“Primeiro o presidente disse que a greve não iria adiante, depois tentou prender o presidente da Conaie, em seguida emitiu um decreto de estado de sítio, depois ocupou a Casa da Cultura, algo que não acontecia desde a ditadura”, disse o parlamentar.
Também afirmou que sete a cada dez equatorianos estão desempregados. De acordo com dados oficiais, 66% da população está no setor informal.
No último ano, cerca de 1,5 milhão de pessoas passaram a viver na pobreza. Cerca de 27,7% da população equatoriana é pobre e 10,5% vive na pobreza extrema, segundo dados de dezembro de 2021 do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Inec).
Marcha de indígenas a Quito: