Nas cidades de Zurique, Lausanne, Genebra e Friburgo, manifestantes foram às ruas contra o Fórum de Davos
Milhares de pessoas marcharam em Zurique, Lausanne, Genebra e Friburgo, na Suíça, para repudiar o Fórum Econômico de Davos – ridicularizado como o ‘Fiasco Econômico Mundial’ – e a presença do presidente Trump, jocosamente saudado como ‘personalidade buraco de merda’.
Os protestos ocorreram na terça-feira (23), dia da abertura do Fórum. Trump irá discursar na sessão final, sexta-feira (26). O Fórum é realizado em meio a ameaças de guerra (“meu botão nuclear é maior”), acirramento das disputas no comércio mundial e frenesi da bolsa de Wall Street, há dez anos em alta.
O convescote de ricaços de Davos, resort alpino de 10 mil habitantes, tornou-se nas duas últimas décadas símbolo da globalização e do neoliberalismo, com seu séqüito de banqueiros, gestores de fundos de hedge, executivos de multinacionais, líderes dos países imperialistas e certos governantes de países dependentes sedentos de ‘investimentos estrangeiros’ e propinas, mais lobistas, celebridades e até alguns desavisados.
Os protestos foram convocados com os lemas “Trump não é bem-vindo” e “Esmaguem o Fórum Econômico Mundial!”. Já o mote de Davos deste ano era “construindo um futuro compartilhado num mundo fraturado”. Já houve dias melhores em Davos, como nos bons tempos em que juravam que “a história acabou”.
Relatório da organização humanitário inglesa Oxfam divulgado na véspera já havia esclarecido que tipo de “futuro compartilhado” essa plutocracia almeja: no ano passado 82% de toda a riqueza gerada foi para o 1% mais rico e 42 bilionários tinham tanta riqueza quanto a metade mais pobre do planeta, 3,7 bilhões de pessoas.
A parte do “mundo fraturado” era melhor exposta pelos cartazes dos manifestantes: “A Suíça está hospedando nazistas”, “Capitalistas sexistas racistas”, “Não há planeta B” e “sem Trump, sem carvão, sem gás e sem combustíveis fósseis”.
“Estamos protestando contra Trump e o Fórum de Davos”, afirmou Tâmara Funiciello, dirigente dos Jovens Socialistas. “Não há lugar na Suíça para as discussões entre o 1% mais rico do mundo e um homem que fomenta uma atmosfera agressiva para as mulheres e as minorias”, acrescentou.
Além de Trump, os manifestantes também repudiaram a primeira-ministra alemã Ângela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron. Trump é o segundo presidente norte-americano a ir a Davos, 18 anos depois da presença de Bill Clinton. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Trump irá levar a mensagem do “America First” para o cenário mundial. Antes do Fórum, seu governo anunciou a elevação das tarifas alfandegárias de painéis solares (+30%) e máquinas de lavar (+50%), o que atinge a Coreia do Sul e a China, que já chiaram.
Como o Índice Dow Jones segue na estratosfera (26.000 pontos!) e Trump aprovou sua reforma tributária para os ricos, um maná de US$ 1,5 trilhão, o FMI acaba de rever para cima suas perspectivas econômicas para 2018. Já o Relatório de Riscos Globais do Fórum não parecia tão otimista: “Colheita Sombria”, “No Abismo”, “Medos do Armageddon Ecológico”, “Guerra Sem Regras” e “A Morte do Comércio”, advertiam os subtítulos.
“RISCOS GLOBAIS”
O Relatório de Riscos Globais admite também que “esta foi a mais fraca recuperação pós-recessão registrada”, que “o crescimento da produtividade permanece incrivelmente fraco” e que os preços de ativos são “insustentáveis”. Lembra ainda que, conforme o Fórum de 2014, o nível de desemprego juvenil no mundo era tão alto que “ameaçava criar uma geração perdida”. Também adverte que “um colapso sistêmico do tipo que foi evitado em 2007-2008 poderia empurrar países, regiões ou mesmo todo o mundo à margem e a um período de caos”.
À parte as palavras sombrias, não foi exatamente para isso que os executivos e banqueiros vieram a Davos – nem para barrar a fúria ‘reformista’ anti-povo em curso no mundo inteiro. Vieram pelos holofotes, pelos negócios e as negociatas – além da champagne.
É compreensível a euforia dos figurões em Davos: suas fortunas não pararam de crescer, graças à especulação mantida pela emissão de trilhões pelos bancos centrais e pelos juros reais zero, em paralelo com o corte de salários, aposentadorias, direitos e programas sociais para a imensa maioria. Mas há quem se preocupe. “Eu sinto como se fosse 2006 de novo”, disse o executivo-chefe do banco Barclays, Jes Staley.
ANTONIO PIMENTA