Manifestações populares tomaram conta das maiores cidades do Iêmen na terça-feira, para relembrar os quatro anos de agressão da Arábia Saudita ao país, orientada pela Casa Branca.
A guerra executada por monarquias vassalas dos Estados Unidos, teve início no dia 26 de março de 2015, quando os sauditas lançaram um ataque de larga escala contra o Iêmen sob o pretexto de reinstalar, à força de intervenção externa, o presidente iemenita, Abdrabbu Mansur Hadi, afastado do poder pelos revolucionários iemenitas, organizados no movimento Ansar Allah, que comandaram um levante popular e chegaram ao poder.
Na capital iemenita de Sana’a, onde houve a maior das manifestações, centenas de milhares de moradores, muitos vindos dos bairros mais afastados e das aldeias vizinhas, se reuniram no bairro de Sabaeen com bandeiras do Iêmen e faixas com mensagens de incentivo à determinação de defender o direito do povo iemenita à autodeterminação e de prontidão para desafiar a agressão norte-americano-saudita.
No Estado de Sada’a, ao norte do país, centenas de milhares também tomaram as ruas apesar de voos ameaçadores de caças sauditas sobre a principal cidade do Estado. Os caças começaram a voar sobre a cidade dois dias antes, durante os preparativos para o ato que logo se realizaria.
Também houve atos massivos nos Estados de Hodeidah (onde está localizado um dos principais portos do país), Ibb, Ta`ze, al-Jawf, Reimah e Dhamar.
O número total de manifestantes ultrapassou o de grandes demonstrações anteriores, segundo o jornalista, Ahmed AbdulKareem, em artigo publicado no portal Mintpress News.
“Isso mostra o crescimento crescente da disposição de resistir à guerra movida pela Arábia Saudita”, escreve o jornalista, acrescentando que pela primeira vez nos Estados de Hajjah (no noroeste) e de Al Beidha (no centro) houve manifestações contra a agressão e pela autodeterminação do Iêmen.
Na capital Sana’a, muitos manifestantes levavam fotos do líder, Abdulmalik al-Houthi e abriram uma enorme faixa com os dizeres: “Quatro anos de agressão – estamos preparados para o quinto – Venceremos”.
A segurança montada pelo governo popular garantiu as manifestações e impediu bandos de mercenários bancados pelos sauditas de perturbarem as concentrações por todo o país.
MENSAGEM DE DESAFIO E ALERTA
Mohammed Ali al Houthi, membro do Conselho Político Supremo do Iêmen, falou no ato da capital e expressou a decisão iemenita: “Vamos vencer a guerra de agressão independente de quanto apoio os Estados Unidos emprestem aos sauditas”.
Ele desafiou o secretário de Estado, Mike Pompeo, que antes do ato dissera que os rebeldes estavam a serviço do Irã e apontou para a multidão de compatriotas dizendo, sob intenso aplauso: “Somos nós que estamos aqui e nós não vamos desistir”. Ele também destacou a rejeição do Iêmen à declaração de Trump, reconhecendo território da Síria como parte de Israel.
O principal líder religioso do país, o Grande Mufti, Shams al-Din Sharaf al-Din também falou no ato e pediu que “todos os muçulmanos em todo o mundo se levantem para repudiar as atrocidades cometidas pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes contra o povo iemenita”.
CRISE HUMANITÁRIA
Os oradores no ato lembraram que quando os sauditas lançaram seu ataque quatro anos atrás achavam que tomariam o país em poucas semanas e, apesar de com seu cerco gestarem uma das piores crises humanitárias já registradas (segundo o Escritório para Questões Humanitárias da ONU, “são estimados em 80% da população de 24 milhões de pessoas os que requerem alguma forma de proteção ou assistência humanitárias, dos quais 14,3 milhões estão sob necessidade aguda” e são estimados em 56 mil os iemenitas que perderam a vida por causas diretas ou relacionadas à agressão), não conseguiu derrotar os iemenitas, nem repor o deposto pelo levante popular Hadi que queria submeter o país a mera base militar norte-americana à entrada do Golfo Árabe.
Mesmo com o repúdio internacional a sua agressão, forças sauditas atacaram neste 26 de março um hospital no Estado de Kattaf, assassinando oito civis e ferindo outros oito.