Além de lucrar com os recursos desviados dos programas nas áreas sociais, queriam usar os 13 mil pontos lotéricos da Caixa
As multinacionais que venceram o leilão da Lotex, em outubro de 2019, a International Game Technology (IGT), com sede em Londres, e a americana Scientific Games International (SGI), informaram que não vão mais operar a Loteria Instantânea Exclusiva, conhecida como a popular “raspadinha”. A Lotex fazia parte da lista de 17 estatais anunciadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que seriam privatizadas em 2019.
As multinacionais, além de meterem a mão nos recursos que financiavam investimentos em favor dos brasileiros, sobretudo dos mais carentes, queriam usufruir dos 13 mil pontos lotéricos da Caixa Econômica Federal, que foi proibida pelo governo de participar do leilão.
Segundo nota divulgada pelo consórcio vencedor da privatização da Lotex, sobre a desistência da “concessão”, “os 13 mil lotéricos da rede Caixa são fundamentais para o sucesso do lançamento do negócio de bilhetes instantâneos no Brasil e sem essa rede de distribuição as empresas não estavam preparadas para seguir adiante”.
As múltis reclamaram também da decisão do Supremo Tribunal Federal, no dia 30 de maio, que tirou delas a exclusividade do negócio, permitindo a estados e o Distrito Federal o gerenciamento da loteria instantânea.
O edital de concessão da Lotex previa que o consórcio poderia fazer acordo de parcerias, inclusive com a Caixa. O uso das lotéricas era apenas uma hipótese e a Caixa não tinha qualquer obrigação de fechar este acordo, segundo a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).
Para o presidente da Fenae, Sérgio Takemoto, caso a Caixa cedesse ao acordo proposto pelas multinacionais seria “vantajoso somente para as empresas, que em vez de gastar dinheiro para formar uma rede para comercializar os jogos, usaria o ‘balcão’ da Caixa para lucrar. E a Caixa cederia um espaço em que o próprio banco poderia arrecadar recursos a serem repassados, em parte, para programas sociais do governo”. “Seria uma insanidade”, afirmou Takemoto.
A Caixa opera as loterias desde a década de 1960. Cerca de 40% dos recursos arrecadados pelas loterias eram destinados a programas sociais nas áreas de seguridade social, esporte, cultura, segurança pública, educação e saúde. Com a concessão para o Consórcio Estrela, apenas 16,7% seriam repassados à União.
No ano passado, as Loterias da Caixa arrecadaram R$ 16,7 bilhões. Desse valor, cerca de R$ 6,2 bilhões foram transferidos aos programas. Este valor corresponde a um repasse de 37,2% do total arrecadado, segundo a Fenae.
“Em vez de arrecadar para investir em programas sociais, o governo está entregando o lucro das loterias para a iniciativa privada”, afirma o presidente da entidade, que espera que a Lotex volte para a Caixa. “É uma possibilidade. É o que nós desejamos”, disse Takemoto.
Com informações do site da Fenae