Nós acreditamos – em uníssono com os nossos camaradas chineses – que a persistência de um mundo unipolar “é impossível”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov
A Rússia e a China partilham o entendimento de que um mundo unipolar se tornou “impossível”, estremece e cambaleia e uma “nova realidade” está emergindo, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em declaração a jornalistas na terça-feira (13).
O porta-voz ecoou as palavras do presidente Putin em agosto de que “o obsoleto modelo unipolar está sendo suplantado por uma nova ordem mundial baseada nos princípios fundamentais de justiça, igualdade, e reconhecimento do direito de cada nação e Estado ao seu caminho soberano de desenvolvimento”.
Na véspera, o chefe da diplomacia do Partido Comunista chinês, Yang Jiechi, havia declarado que Pequim estava trabalhando com a Rússia para “estabelecer uma ordem internacional mais justa”, assinalando que “sob a liderança estratégica do presidente Xi Jinping e do presidente Vladimir Putin, nossas relações sempre progrediram no caminho certo”.
“A China está disposta a trabalhar com a Rússia para implementar continuamente o espírito de cooperação estratégica de alto nível entre nossos dois países, salvaguardar nossos interesses comuns e promover o desenvolvimento da ordem internacional em uma direção mais justa e razoável”, sublinhou.
A declaração de Yang foi feita durante reunião com o atual embaixador russo na China, Andrei Denisov, que veio se despedir e está de partida depois de vários anos em Pequim.
Nos últimos meses, esses laços estratégicos Rússia-China seguem se aprofundando. Há uma semana, o presidente do Congresso Nacional Popular da China, Li Zhanshu, tornou-se o líder chinês mais importante a visitar a Rússia desde o início do conflito na Ucrânia.
Durante sua visita de 7 a 10 de setembro, ao Fórum Econômico de Vladivostok, ele elogiou o “nível sem precedentes” de confiança e cooperação entre Pequim e Moscou. Três semanas antes da ofensiva russa na Ucrânia, o presidente chinês recebeu Putin em Pequim, à margem da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Proclamou então “amizade sem limites” entre a China e a Rússia e assinou vários acordos.
CÚPULA DA ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO DE XANGAI
No final de semana, na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), os presidentes Putin e Xi Jinping irão se encontrar pela primeira vez pessoalmente desde o início da operação especial militar russa para proteger a população do Donbass e desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia.
Em junho, Putin e Xi descreveram as relações entre a Rússia e a China como estando “a um nível sem precedentes e em constante melhoria”, segundo o Kremlin.
Pequim recusou-se a aderir às sanções internacionais impostas por Washington e Bruxelas à Rússia sob pretexto da sua operação militar na Ucrânia e tem de forma coerente propugnado por uma solução negociada e que preserve a segurança coletiva indivisível na Europa.
Rússia e China também estreitaram a cooperação e o comércio, com Moscou tendo se tornado o principal fornecedor de petróleo à China. No gás fornecido através do gasoduto Poder da Sibéria, o pagamento passará a ser nas moedas nacionais (rublos e yuans), conforme acordo recém assinado pela Gazprom e a estatal de petróleo chinesa CNPC.
No ano passado, o volume de negócios cresceu 36%, para US$ 140 bilhões, trazendo para mais perto a meta de intercâmbio bilateral de US$ 200 bilhões anuais.
“BILHÃO DOURADO” FINOU-SE
Moscou e Pequim concordam que é “uma situação impossível” quando o “assim chamado ‘Bilhão Dourado’ está clamando a possibilidade de inventar regras na economia, na política e o direito de impor sua vontade sobre outros países”, sublinhou Peskov.
O termo “Bilhão Dourado” é usado pelos russos para designar os países ocidentais e suas populações privilegiadas, cujo elevado padrão de vida é mantido através da especulação desenfreada e da exploração e opressão dos demais povos.
Ainda quanto à superação do falido modelo unipolar, Putin, no mês passado, havia saudado que “centros políticos e econômicos fortes, agindo como uma força motriz deste processo irreversível, estão sendo moldados na região da Ásia-Pacífico”.
A cúpula da SCO irá acontecer em Samarkand (Uzbequistão) nos dias 15 e 16 de setembro, reunindo Rússia, China, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Irã e Bielorrússia – que têm status de observador junto com Mongólia e Afeganistão – estão em processo de integração plena. Seis países – dos quais quatro nações árabes – serão incluídos como parceiros de diálogo.
A SCO se tornou um dos pilares da integração asiática, sendo constituída por países que englobam 40% da população do planeta e mais de 30% do PIB mundial.
Em um mundo sofrendo de uma “profunda crise de confiança” e confrontação geopolítica, a SCO deverá se tornar “um polo de atração sem linhas divisórias, em nome da paz, cooperação e progresso”, afirmou o presidente anfitrião da cúpula, Shavkat Mirziyoyev.
SCHOLZ TELEFONA A PUTIN
Na primeira conversa telefônica em três meses, a pedido do lado alemão, os dois chefes de Estado, Vladimir Putin e Olaf Scholz, discutiram o conflito na Ucrânia, a segurança da usina nuclear de Zaporozhia, a crise mundial de alimentos e a de energia na Europa, segundo o portal Sputnik.
Putin chamou a atenção do “para as flagrantes violações do direito internacional humanitário pela Ucrânia, o bombardeio contínuo de cidades em Donbas, que levou à morte de civis e danos deliberados à infraestrutura civil”, informou o serviço de imprensa do Kremlin.
Segundo o porta-voz do governo alemão Steffen Hebestreit, Scholz pediu a Putin que encontre uma solução diplomática para o conflito o mais rápido possível. “Em relação à situação na central nuclear de Zaporozhie, o chanceler federal enfatizou a necessidade de garantir a segurança da usina nuclear”, disse o porta-voz.
Sobre isso, Putin relatou em detalhes as medidas tomadas em coordenação com a AIEA para garantir a proteção física da usina Zaporozhia que, advertiu, sofre constantes ataques de mísseis da Ucrânia, “o que cria riscos reais de uma catástrofe em grande escala”.
Quanto à situação alimentar global, Scholz exortou Moscou a continuar a cumprir as disposições do acordo de Ancara. Por sua vez, Putin lembrou ao líder alemão a falta de progresso na remoção de obstáculos à exportação de produtos e fertilizantes russos.
O presidente russo reiterou que Moscou está pronta para fornecer grandes volumes de grãos aos países mais necessitados, mas que isso é prejudicado pelas sanções da UE. Em particular, o presidente russo assinalou que fertilizantes russos seguem bloqueados nos portos europeus.
Em relação à crise energética, Putin destacou que os problemas de fornecimento de gás para a Europa através do Nord Stream 1 se devem a sanções ocidentais contra Moscou.
Ele afirmou que a Rússia tem sido e continua sendo um fornecedor confiável de recursos energéticos, cumprindo todas as suas obrigações contratuais, “enquanto as interrupções, por exemplo, na operação do gasoduto Nord Stream 1 são devido a sanções anti-russas que impedem sua manutenção”, conforme o comunicado do Kremlin.
Putin também classificou de “bastante cínicas” as tentativas de culpar a Rússia pelos problemas de abastecimento de energia da Europa, considerando que as autoridades dos países afetados bloqueiam o fornecimento de gás pelas rotas que passam pela Ucrânia e Polônia e se recusam a lançar o Nord Stream 2.