“A maioria das crianças foi baleada na cabeça ou na parte superior do corpo. Os alvos mais comuns das balas de aço revestidas com borracha foram os olhos das nossas crianças”, descreveu a então ministra da Educação Superior Palestina, Hanan Ashrawi, denunciando em 2000 [período do levante palestino denominado 2ª Intifada] a “violência indiscriminada e o reinado do terror” promovido por Israel nos territórios ocupados.
Quase 20 anos se passaram desde que estive na Palestina pela primeira vez, acompanhando como jornalista da Hora do Povo uma delegação da Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD), entidade consultiva da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo da visita era ver de perto, na Cisjordânia e em Gaza, a barbárie promovida por Israel e dar um testemunho pessoal.
Nos olhos das crianças? Infelizmente era isso o que queria dizer a presença nos hospitais de tantos meninos com os olhos vendados. De um lado, um soldado israelense com mira telescópica e a mais avançada tecnologia made in USA; mãos insurgentes de outro, jogando pedras no invasor, carregadas de esperança. Como punição, tiros certeiros.
O que havia então era uma preferência por atirar contra as crianças palestinas – que eram 30% das vítimas – balas de aço revestidas com borracha, para cinicamente cegar e mutilar, sem o ônus da morte.
Naqueles dias, as 52 vítimas infantis mais graves só puderam ser encaminhadas à Alemanha em um vôo de emergência após ampla pressão da comunidade internacional em apoio à reivindicação da Autoridade Nacional Palestina.
Em meio à grave crise econômica, que somava então centenas de milhares de desempregados, hospitais lotados de feridos, ausência de medicamentos e equipamentos, corre-corre nas enfermarias em meio ao cheiro da morte… Fotografei ambulâncias crivadas de balas, um sem número de crianças alvejadas, o caos materializado em poças de sangue, urros de dor e lágrimas da perda de entes queridos.
Recordo de uma conversa com psicólogas, em Ramalah, e a descrição do impacto do terror e da incerteza das crianças palestinas quando ouviam as diárias movimentações militares israelenses. Um temor plenamente justificável, racional, perfurando a pureza com ponta de baioneta, antecipando o fim da infância.
Na partida, próximos à Faixa de Gaza, bombas explodiam próximas e podíamos ouvir as balas de fuzis e metralhadoras. Ocorrências do mesmo tipo haviam vitimado naqueles dias a três jornalistas: um foi morto e outros dois encontravam-se hospitalizados, um francês e o representante da CNN em Gaza.
Inevitável pensar na necessidade de relatar ao mundo a experiência vivida.
LEONARDO W. SEVERO
Esse é o famoso povo metido a “escolhido de Deus”! Um Deus da Guerra. E sabemos que o “Senhor da Guerra não gosta de crianças.”