Na contramão do mundo, alta na Selic eleva juros para 5,25%
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou, pela quarta vez consecutiva, a taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira (4). A alta de 4,25% para 5,25% ao ano acelera o aperto monetário, que foi considerado um “exagero” e “um equívoco” pela indústria, que patina em meio à crise econômica agravada pelos efeitos da pandemia da Covid-19.
Em junho, a produção industrial brasileira registrou crescimento zero e queda de -2,5% no segundo trimestre na comparação com o primeiro trimestre (-0,,4%), diferente do Copom que “contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre“.
Com mais este aumento, a Selic atinge o maior patamar desde setembro de 2019, quando estava em 5,5%. Nas três reuniões anteriores, o Copom havia subido a taxa em 0,75 ponto porcentual e “para próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude“, diz a nota do BC.
O Brasil está em segundo lugar entre 40 países pesquisados pelo site MoneYou e Infinity Asset Management, sendo que em 34 dessas nações as taxas de juros reais são negativas. Na média, entre esses países, o juro real está em menos 1,40%, sendo que nos Estados Unidos a taxa de juro real está em menos 4,48%. O juro real no Brasil de +2,52% só ficou atrás da Turquia (+6,40%).
“O mercado de trabalho continua com 14,8 milhões de desempregados e 4,6 milhões de pessoas que, apesar de estarem na força de trabalho antes da pandemia, não estão buscando emprego no momento devido às restrições. Esse contingente manterá a taxa de desemprego num patamar alto ainda por algum tempo”, manifestou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo em nota. “É um equívoco do Banco Central não apenas elevar a taxa básica de juros, mas acelerar o ritmo de alta, colocando em risco a frágil recuperação da economia brasileira”.
Com o aumento da taxa básica, o crédito fica mais caro, prejudicando os investimentos produtivos e ainda mais o consumo. O Copom alega a “persistente” inflação em patamar alto e a volta do “risco fiscal”, citando “a evolução da variante Delta da Covid-19”, como se o aumento dos juros tivesse alguma coisa a ver com as políticas fiscais expansionistas adotadas por paises no combate à Covid no resto do mundo, que, mesmo diante de uma certa pressão inflacionária, não saíram aumentando os juros. Um exemplo são os próprios EUA que mantém as taxas de juros reais negativas ainda que a inflação tenha sido a maior dos últimos 13 anos em junho.
A escalada dos preços de alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica, todos monitorados pelo governo, são considerados por especialistas como “choques temporários” e não justificam uma alta de juros no momento em que a demanda está deprimida. Não há emprego e a economia ainda sofre as consequências da pandemia. A pressão sobre os preços está sendo exercida principalmente pela taxa de câmbio e a cotação internacional das commodities, além da falta de insumos que tem prejudicado a cadeia produtiva interna por conta da pandemia.
Porém, mais uma vez na contramão do mundo, Bolsonaro promoveu o boicote à vacinação que levou a morte mais de 550 mil brasileiros e suspendeu os programas emergenciais no início do ano, prejudicando ainda mais a economia.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, “um aumento da Selic em 1 ponto percentual, elevando para 5,25%, é exagerado e pode prejudicar o processo de retomada do crescimento econômico do país. Cabe destacar que os choques temporários nos preços observados em 2021 devem se dissipar, não impactando a inflação em 2022, que exibe expectativa de inflação bem-comportada e dentro do intervalo da meta”, disse em nota.
A decisão, segundo o site InfoMoney, atendeu o que esperava a maior parte dos “analistas” (ou especuladores), que projetam uma inflação de 6,79% este ano, segundo o boletim Focus do BC, um motivo para o BC acelerar o ritmo de alta de juros, aumentando o ganho dos bancos.