Ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, bolsonarista declarado, ao ser confrontado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA) sobre o escândalos das blitze concentradas no eleitorado de Lula, tirou o corpo fora e disse que seus auxiliares foram responsáveis pelo planejamento
O ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, está sendo ouvido na CPI dos Atos Golpistas. Ele é a primeira testemunha convocada a depor no inquérito parlamentar. A oitiva transcorre neste momento e está na fase das inquirições pelos membros do colegiado.
Ele negou irregularidades na atuação da PRF durante as eleições do ano passado. Ele se fez de vítima e falou que os questionamentos são a “maior injustiça” da história da PRF.
Além de se fazer de vítima, não conseguiu responder à pergunta da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) sobre o número desproporcional (muito superior) de operações realizadas pela corporação no 2º turno das eleições presidenciais no Nordeste brasileiro, região em que o então candidato e atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou grande vantagem sobre o então presidente Jair Bolsonaro no 1º turno daquele pleito. A senadora demonstrou também, com dados, o número muito maior de autuações feitas naquela região pela PRF.
Vasques, embora tenha confirmado a presença em várias reuniões, preferiu jogar a culpa nos escalões inferiores do órgão que eram responsáveis pelas blitze, sugeriu a convocação do diretor que estava diretamente responsável pelo planejamento das operações e, sobre as multas, disse que eventuais problemas eram de responsabilidade dos policiais que lavraram as autuações e que eles que é que devem responder por isso.
“Quem escolheu os locais foram os chefes de delegacias ou os chefes de serviços de operações, isso é uma planilha Google que pode ser auditada por perícia e vai verificar que não foi em Brasília que escolheu os locais onde as viaturas ficariam”, tergiversou, como se a pergunta tivesse sido feita sobre o local da elaboração da planilha de fiscalização.
Desde a abertura da votação, para o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro de 2022, série de relatos sobre operações da PRF tomou conta das redes sociais. A PRF estaria sendo usada, conforme eleitores, para provocar constrangimentos, dificultar o deslocamento de eleitores do Nordeste e provocar abstenção maior do que a que tradicionalmente ocorre no segundo turno.
Conforme dados levantados pela TV Globo, a reclamação encontrou base concreta na realidade. Foram registradas 549 operações da PRF no início daquele dia. 49,50% (272 ações) ocorreram no Nordeste, 22,22% (122) foram no Centro-Oeste, 10,70% (59) no Norte, 8,74% (48) no Sudeste e outros 8,74% (48) no Sul.
Segundo a jornalista Andreia Sadi, o próprio ministro da Justiça, Anderson Torres, foi escalado por Bolsonaro para fazer o uso político da PRF (que é subordinada ao ministério). Torres, então, teria passado a semana em contato com assessores e encontrado o próprio presidente, disse a jornalista.
Uma das blitzes que viralizou nas redes sociais ocorreu na cidade de Cuité, na Paraíba, em que testemunhas relataram ao jornal Folha de S.Paulo que apenas carros com adesivos da campanha de Lula eram parados.
Tirou o corpo fora ao longo do depoimento e, sempre que pode, isentou Bolsonaro – o presidente com o qual teve orgulho de aparecer em fotos – de qualquer participação naquilo que se tornou um dos maiores escândalos da eleição presidencial de 2022.
Silvinei Vasques tentou explicar que apagou postagem em que pedia voto para ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno das eleições, devido à polêmica causada pela postagem.
Ele postou a bandeira do Brasil e pediu o voto para o então presidente da República. Depois, deletou.
Vasques negou relação pessoal com Bolsonaro. Segundo ele, a relação era “muito profissional”.
“VÁ GRITAR EM OUTRO LUGAR, AQUI NÃO”
Mais cedo, a reunião teve bate-boca generalizado depois que a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) questionou sobre agressão de Vasques contra um frentista.
“Eu estou fazendo uma pergunta e não estou pedindo que o depoente responda o que eu quero. Eu estou pedindo para ele não enrolar. Estou pedindo para ele falar e responder o que eu perguntei. Eu não vou permitir que um depoente venha para cá tripudiar sobre esta relatoria”, ponderou Eliziane Gama.
Aos gritos, o deputado bolsonarista Éder Mauro (PL-PA), que não é integrante da CPI, protestou contra a condução do depoimento por Eliziane.
O deputado é bastante conhecido pelo comportamento histriônico, deselegante, acintoso e violente contra adversários políticos
ORDEM PARA SE CALAR
A senadora tentou refazer o questionamento ao depoente, mas foi novamente interrompida pelo deputado. A parlamentar, então, mandou o deputado Éder Mauro se calar.
“Não vou aceitar que parlamentar nenhum tente cercear minha voz. Deputado [Éder Mauro], vossa excelência nem é integrante desta comissão. Então, simplesmente, se cale”, disse a relatora.
“Se cale, porque quem está falando é a relatoria da comissão e eu não vou aceitar nem você nem ninguém [interrompa]. Vá gritar em outro lugar, aqui não, respeite a comissão. Cale a sua boca, respeite a comissão. Cale a boca”, confrontou Eliziane Gama.
M. V.