Na Indonésia, Lula defende comércio com moedas locais entre os dois países

Lula em visita à Indonésia (Foto: Ricardo Stuckert)

O presidente brasileiro destacou que os dois países são do BRICS e não querem uma segunda guerra fria

O presidente Lula defendeu nesta quinta-feira (23), em Jacarta, que Brasil e Indonésia aumentem seu comércio bilateral e o façam se utilizando de moedas locais. “Indonésia e Brasil não querem uma segunda Guerra Fria. Nós queremos comércio livre. E, mais ainda: tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas”, defendeu Lula.

NOSSAS MOEDAS

Em visita oficial à Indonésia, Lula foi recebido com honras militares e civis no Palácio Merdeka pelo presidente Prabowo Subianto, com quem se reuniu em encontros privado e ampliado. Na sequência, houve uma cerimônia de assinatura de atos e acordos e uma declaração à imprensa. No atual cenário de acirramento do protecionismo, nossos países têm plenas condições de mostrar ao mundo a capacidade de defender interesses econômicos com diálogo e respeito mútuo”, disse o presidente Lula.

“Essa é uma coisa que nós precisamos mudar. O Século XXI exige que tenhamos a coragem que não tivemos no Século XX. Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém”, prosseguiu o presidente brasileiro, em declaração à imprensa, durante visita de Estado à Indonésia.

“Nós precisamos discutir as similaridades que existem entre os nossos dois países para que a gente possa, cada vez mais, fazer crescer a nossa relação comercial, a nossa relação científica e tecnológica, a nossa relação cultural, a nossa relação política, para que, cada vez mais, a gente seja menos dependente”, destacou Lula.

NOVOS ACORDOS

Ao sublinhar as boas relações entre os dois países, Lula ressaltou que Brasil e Indonésia são exemplos num momento de incertezas no contexto global. “Vamos fazer um esforço grande para que Indonésia e Brasil se transformem em dois parceiros fundamentais na geografia econômica do mundo”, declarou Lula. “Venho para cá com muita expectativa de renovarmos a parceria estratégica, estabelecer novos acordos, não apenas em comércio bilateral, mas em coisas novas, como a questão da inteligência artificial, a questão dos Datacenters, a questão científica e tecnológica, aperfeiçoar o relacionamento entre nossas universidades”, observou o presidente Lula.

Ao citar o volume do comércio entre os dois países, Lula ressaltou as muitas potencialidades para ampliar o fluxo de importação e exportação entre as duas nações. “Nas últimas duas décadas, nosso comércio cresceu mais de três vezes, de dois bilhões para seis bilhões e meio de dólares. Eu disse ao presidente Subianto que é quase inexplicável para as nossas sociedades como Indonésia e Brasil, que juntos perfazem quase 500 milhões de habitantes, só tenham um comércio de seis bilhões de dólares. É pouco para a Indonésia, é pouco para o Brasil”, destacou o presidente.

Para o presidente brasileiro, Indonésia e Brasil são referência de entendimentos que beneficiam os dois lados numa relação de comércio equitativa, com ganhos para os dois lados. “Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Queremos democracia comercial e não protecionismo. Queremos crescer, gerar empregos. Emprego de qualidade, porque é para isso que nós fomos eleitos para representar o nosso povo”, resumiu.

REELEIÇÃO

Lula desejou toda a sorte do mundo ao presidente da Indonésia e disse que eles ainda vão se ver muitas vezes porque pretende se candidatar novamente. “Nós ainda vamos nos encontrar muitas vezes. Esse meu mandato só termina em 2026, no final do ano. Mas eu estou preparado para disputar outras eleições e tentar fazer com que a relação entre Indonésia e Brasil seja uma relação, sabe, por demais valorosa, e que a nossa relação traga mais empresários brasileiros para visitar a Indonésia”, disse Lula.

O presidente Prabowo Subianto classificou como uma grande honra a visita de Lula a seu país e destacou que Brasil e Indonésia formam uma força dentro do Sul Global e, por isso, a cooperação entre os dois tem valor estratégico e será valorizada e ampliada. Subianto chegou a indicar a intenção de incentivar o ensino da língua portuguesa em seu país para facilitar os fluxos comerciais entre as duas nações.

Em seu discurso, Prabowo disse que Brasil e Indonésia são duas forças econômicas cada vez maiores, que fortalecem o sul global. Segundo ele trata-se de uma “parceria estratégica e sinergética entre países complementares”, entre dois membros do BRICS e do G20, grupo formado pelas 20 maiores economias do planeta. “Hoje assinamos acordos significantes”, afirmou o presidente indonésio. Segundo ele, o comércio entre os dois países tem potencial para chegar a US$ 20 bilhões nos próximos anos.

Lula está na Ásia para uma ampla agenda no Sudeste Asiático até o dia 28 de outubro. Serão dois dias na Indonésia e, depois, o presidente segue para visita oficial à Malásia, no sábado (25/10), onde cumpre uma série de compromissos, entre eles a participação na 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e reuniões correlatas, nos dias 26 a 28 de outubro, em Kuala Lumpur.

Leia a íntegra do pronunciamento do presidente Lula

A Ásia tem ocupado lugar de destaque na minha agenda internacional em 2025.

No primeiro semestre, estive no Japão, no Vietnã e na China.

Recebi a visita do Primeiro-Ministro Modi [Narendra Modi, da Índia] e do Presidente Subianto [Prabowo Subianto, da Indonésia] em julho último.

Iniciei, hoje, uma missão que passará por Indonésia e Malásia e que culminará com minha participação na Cúpula da ASEAN.

O Sudeste Asiático é uma das regiões mais dinâmicas do planeta.

A ASEAN já é o quinto maior parceiro comercial do Brasil.

É uma honra retribuir a visita de Estado do Presidente Prabowo Subianto.

A Parceria Estratégica, que lancei em minha primeira visita a Jacarta em 2008, se mostra cada vez mais relevante e atual.

Somos grandes democracias, sociedades vibrantes e economias em expansão.

Somos membros plenos do BRICS e do G20.

O Brasil tem interesse em aprofundar o diálogo e a cooperação com a Indonésia nas mais diversas áreas.

Os acordos que assinamos em matéria de estatística, agricultura, energia, ciência e tecnologia e promoção comercial apontam nessa direção.

Nas últimas duas décadas, nosso comércio cresceu mais de três vezes, de 2 bilhões para 6 bilhões e meio de dólares.

Eu disse ao presidente Subianto que é quase que inexplicável para as nossas sociedades como é que dois países importantes no mundo, como Indonésia e Brasil, que os dois juntos perfazem quase 500 milhões de habitantes, só tenham um comércio de seis bilhões de dólares.

É pouco, presidente, é pouco para a Indonésia, é pouco para o Brasil, e eu acho que o povo da Indonésia e o povo do Brasil merecem que nós façamos um sacrifício maior para garantir que o comércio entre Indonésia e Brasil cresça de acordo com o crescimento da nossa população.

Por isso, nós vamos fazer um esforço muito grande para trabalhar muito para que Indonésia e Brasil se transformem em dois parceiros fundamentais na geografia econômica do mundo.

Em 2024, a Indonésia foi o quinto destino das exportações do agronegócio brasileiro.

Esses valores ainda são tímidos diante do potencial de nossos mercados consumidores.

Indonésia e Brasil são respectivamente o quarto e o sétimo países mais populosos do mundo. Somamos meio bilhão de pessoas.

No atual cenário de acirramento do protecionismo, nossos países têm plenas condições de mostrar ao mundo a capacidade de defender interesses econômicos com diálogo e respeito mútuo.

Esse é o espírito do Memorando de Entendimento que firmamos hoje em matéria de cooperação sanitária e fitossanitária.

Desde a visita do presidente Subianto a Brasília, foi possível abrir o mercado local para diversos produtos de exportação brasileiros.

Não faltam oportunidades para o comércio de produtos de maior valor agregado, em especial no setor de defesa.

O Brasil possui sólida base industrial militar e está disposto a contribuir para as necessidades estratégicas da Indonésia, em particular de sua Força Área.

Na área de energia, dialogamos as experiências de gestão soberana de minerais críticos, que são essenciais na transição energética.

A cooperação na área de mineração poderá avançar com maior institucionalidade no âmbito do Memorando que nossos ministros de Minas e Energia assinaram hoje.

O presidente Subianto e eu também decidimos avançar nas negociações de um Acordo de Comércio Preferencial MERCOSUL – Indonésia até o final da presidência brasileira do bloco, no final do mês de dezembro.

Como vozes ativas do Sul Global, também discutimos temas relevantes da agenda internacional.

Indonésia e Brasil são duas nações determinadas a assumir o lugar que nos corresponde em uma ordem em profunda transformação.

O mundo em desenvolvimento deve muito à Indonésia.

Há setenta anos, a Conferência de Bandung lançou as bases para relações mais equitativas entre os países, fundadas na autodeterminação, na não-interferência e não-alinhamento.

Indonésia e Brasil compartilham o compromisso com a paz, com o desenvolvimento sustentável e com a promoção de uma ordem internacional mais justa.

Nossos governos estão unidos contra o genocídio em Gaza e continuarão a defender a solução de Dois Estados como o único caminho possível para a paz no Oriente Médio.

Somente uma reforma integral do Conselho de Segurança pode resolver sua falta de representatividade e presente paralisia.

Ambos apoiamos o comércio baseado em regras, centrado na OMC.

Coincidimos quanto à importância crescente do BRICS como plataforma de defesa dos interesses de desenvolvimento do Sul Global.

Agradeci a participação do presidente Prabowo Subianto na Cúpula do BRICS do Rio de Janeiro e na Cúpula Virtual realizada em setembro passado.

Reafirmei o apoio brasileiro ao ingresso da Indonésia no Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do BRICS.

O Presidente Prabowo e eu concordamos quanto à urgência de agirmos com determinação para vencer a crise climática.

A Indonésia tem sido um parceiro fundamental nessa luta.

Estamos entre os maiores países detentores de floresta tropicais e com maior biodiversidade do mundo.

Também somos grandes produtores de biocombustíveis, que terão papel fundamental a desempenhar na transição para economias de baixo carbono.

Indonésia e Brasil trabalharão juntos para uma transição energética justa, rumo a economias menos poluentes e mais sustentáveis, sem prescindir da geração de empregos de qualidade e da redução das desigualdades.

Agradeci o apoio do presidente Subianto à COP30, que se realizará dentro de alguns dias.

O engajamento da Indonésia no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) também tem sido de grande importância.

Sabemos que não há desenvolvimento sustentável sem superar a fome e a pobreza.

A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a presidência brasileira do G20, contou desde o início com o apoio da Indonésia.

A política de alimentação escolar do governo do presidente Subianto, que merece nosso reconhecimento, hoje faz parte do programa de implementação acelerada da Aliança.

Voltarei a encontrar o presidente Subianto dentro de poucos dias, durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia.

A decisão brasileira de reforçar nossa cooperação com a Indonésia e com o Sudeste Asiático não poderia ser mais acertada.

Eu queria, meu caro presidente Prabowo, dizer que Brasil e Indonésia serão do tamanho que nós quisermos que eles sejam. O que está acontecendo nesse momento na política e na economia demonstra que, cada vez mais, nós precisamos discutir as similaridades que existem entre os nossos dois países para que a gente possa, cada vez mais, fazer crescer a nossa relação comercial, a nossa relação científica e tecnológica, a nossa relação cultural, a nossa relação política, para que, cada vez mais, a gente seja menos dependente.

Indonésia e Brasil não querem uma segunda Guerra Fria. Nós queremos comércio livre. E, mais ainda: tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas. Essa é uma coisa que nós precisamos mudar. O Século XXI exige que tenhamos a coragem que não tivemos no Século XX. Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém.

Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo. Nós queremos crescer, gerar empregos. Emprego de qualidade, porque é para isso que nós fomos eleitos para representar o nosso povo.

Por isso, presidente, eu lhe desejo toda a sorte do mundo. Eu quero lhe dizer que eu vou completar 80 anos, mas pode ter certeza que eu estou com a mesma energia de quando eu tinha 30 anos de idade. E vou disputar um quarto mandato no Brasil.

Então, eu estou lhe dizendo isso porque nós ainda vamos nos encontrar muitas vezes. Esse meu mandato só termina em 2026, no final do ano. Mas eu estou preparado para disputar outras eleições e tentar fazer com que a relação entre Indonésia e Brasil seja uma relação, sabe, por demais valorosa, e que a nossa relação traga mais empresários brasileiros para visitar a Indonésia. Mais empresários brasileiros para fazer investimento na Indonésia. Mais empresários da Indonésia para investir no Brasil. Mais empresários da Indonésia para comprar do Brasil e mais empresários brasileiros para comprar da Indonésia.

Porque uma relação comercial justa é aquela em que os dois países ganham. É aquela em que os dois países têm superávit, ou se não tiver superávit, que empate o jogo. E há outra coisa, presidente: eu lhe dei uma camisa número 8, porque quando eu fui jogador de futebol (não muito bom), a minha posição era meia-direita e o meia-direita utilizava a camisa 8. Por isso que o número 8 é o número da minha sorte e eu sei que é o seu número. Então, pode estar certo que nós dois somos dois presidentes de muita sorte.

Um abraço, muito obrigado pela acolhida. Estarei na festa hoje à noite para comemorar.

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