
O presidente da China, Xi Jinping, defendeu o multilateralismo e condenou o suposto “monopólio da defesa da democracia” que tem sido assumido pelos EUA. As declarações do líder chinês aconteceram na terça-feira (21) durante seu discurso na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
“A democracia não é um direito especial reservado a um único país, mas um direito para os povos de todos os países”, afirmou o mandatário chinês em uma transmissão.
“A recente evolução da situação internacional mostra mais uma vez que a intervenção militar de forças externas a pretexto de transformação democrática é extremamente prejudicial. Precisamos defender a paz, o desenvolvimento, a igualdade, a justiça, a democracia e a liberdade, que são os valores comuns da humanidade, e rejeitar a prática de formar pequenos círculos de exclusão e o jogo de soma zero”, assinalou.
No discurso, o presidente Xi Jinping destacou que o desenvolvimento é a chave para alcançar a felicidade do povo. Diante dos impactos causados pela epidemia, é necessário impulsionar em conjunto o desenvolvimento global para um novo patamar caracterizado pelo equilíbrio, coordenação e inclusão.
“Devemos sempre colocar as pessoas e suas vidas em primeiro lugar e cuidar da vida, dos valores e da dignidade de cada indivíduo. Precisamos respeitar a ciência, adotar uma abordagem baseada na ciência e seguir as leis da ciência. Precisamos seguir os protocolos de prevenção e controle de rotina direcionados e tomar medidas de resposta a emergências, assim como combinar a resposta à epidemia com o desenvolvimento econômico e social”, sublinhou.
“A vacinação é nossa arma poderosa contra a Covid-19. Em muitas ocasiões, enfatizei a necessidade de tornar as vacinas um bem público global e garantir o acesso e o preço das vacinas para os países em desenvolvimento. A prioridade urgente é garantir a distribuição justa e equitativa de vacinas em todo o mundo. A China se esforçará para fornecer um total de dois bilhões de doses de vacinas ao mundo até o final deste ano”, disse.
O líder chinês lembrou que este ano marca o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista da China e o 50º aniversário da restauração do assento legítimo da República Popular da China (RPC) nas Nações Unidas, evento importante que será comemorado solenemente na China. Ele se comprometeu a promover as relações entre a China e a ONU para um patamar mais alto.
Xi Jinping reiterou que perante a continuidade da disseminação da pandemia, a humanidade já foi profundamente transformada, na qual cada político responsável deve responder ao tema e tomar sua decisão histórica com confiança, coragem e responsabilidade.
“As diferenças e os problemas entre os países, dificilmente evitáveis, precisam ser tratados por meio do diálogo e da cooperação com base na igualdade e no respeito mútuo. O sucesso de um país não significa necessariamente o fracasso de outro, e o mundo é grande o suficiente para acomodar o desenvolvimento e o progresso comuns de todos os países. Precisamos buscar o diálogo e a inclusão em lugar do confronto e a exclusão”, expressou.
Além disso, o líder chinês ponderou que existe só um sistema no mundo, o qual é o sistema internacional com a ONU como núcleo, e apenas uma ordem, que é a ordem internacional baseada no Direito Internacional. Existe também apenas um conjunto de regras, que são as normas básicas das relações internacionais com base nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas. Neste sentido, a ONU deve insistir em um multilateralismo verdadeiro, tornando-se uma plataforma essencial para todos os países compartilharem os frutos do desenvolvimento.
“O mundo está mais uma vez em uma encruzilhada histórica. Estou convencido de que a tendência de paz, desenvolvimento e progresso da humanidade não se deterá. Vamos fortalecer a confiança e enfrentar conjuntamente as ameaças e desafios globais e trabalharmos juntos para construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade e um mundo melhor para todos”, concluiu Xi Jinping.
Leia a seguir a íntegra do discurso:
Sr. presidente*,
O ano de 2021 é verdadeiramente extraordinário para o povo chinês. Este ano marca o centenário da fundação do Partido Comunista da China, e também o 50º aniversário da recuperação do assento legítimo da República Popular da China nas Nações Unidas, um acontecimento histórico que será comemorado solenemente pela China.
Continuaremos nossos esforços ativos para impulsionar a cooperação da China com as Nações Unidas a um novo patamar e fazer novas e maiores contribuições para o avanço das nobres causas da ONU.
Senhor Presidente, há um ano, os líderes de diferentes países participamos das reuniões de alto nível que marcaram o 75º aniversário da ONU e emitimos uma declaração comprometendo-nos a realizar cooperação para combater a Covid-19, enfrentar os desafios juntos, defender o multilateralismo, fortalecer o papel da ONU, e trabalhar para o futuro comum das gerações presentes e futuras.
Ao longo deste ano, a pandemia Covid-19 está enquadrada em uma situação global de mudanças sem precedentes em um século. Os povos de todos os países têm aspirações mais fortes por paz e desenvolvimento do que nunca, demandas mais fortes por equidade e justiça e eles estão mais determinados em buscar uma cooperação e ganhos compartilhados.
No momento, a continua propagação da Covid-19 no mundo tem deixado a sociedade humana com mudanças profundas. O mundo entrou em um período de novas turbulências e transformações. Cabe a cada estadista responsável responder às questões do nosso tempo e fazer uma escolha histórica com confiança, coragem e compromisso.
Em primeiro lugar, devemos vencer a Covid-19 e ganhar essa batalha decisiva, crucial para o futuro da humanidade. A história da civilização humana também é uma história de luta contra pandemias. Enfrentando desafios, a humanidade sempre alcançou maior desenvolvimento e avanço. A atual pandemia pode parecer avassaladora, mas nós, humanidade, certamente a superaremos e prevaleceremos mais cedo ou mais tarde.
Devemos sempre colocar as pessoas e suas vidas em primeiro lugar e cuidar da vida, dos valores e da dignidade de cada indivíduo. Precisamos respeitar a ciência, adotar uma abordagem baseada na ciência e seguir as leis da ciência. Precisamos seguir os protocolos de prevenção e controle de rotina e direcionados e tomar medidas de resposta a emergências, assim como combinar a resposta à epidemia com o desenvolvimento econômico e social.
Precisamos melhorar a resposta global coordenada à Covid-19 e minimizar o risco de transmissão de vírus através das fronteiras.
A vacinação é nossa arma poderosa contra a Covid-19. Em muitas ocasiões, enfatizei a necessidade de tornar as vacinas um bem público global e garantir o acesso e o preço das vacinas para os países em desenvolvimento. A prioridade urgente é garantir a distribuição justa e equitativa de vacinas em todo o mundo. A China se esforçará para fornecer um total de dois bilhões de doses de vacinas ao mundo até o final deste ano.
Além de doar US $ 100 milhões para a COVAX, a China doará 100 milhões de doses de vacinas para outros países em desenvolvimento no decorrer deste ano. A China continuará a apoiar e se engajar no rastreamento das origens com base na ciência global e se opõe firmemente a qualquer forma de manobra política.
Em segundo lugar, devemos revitalizar a economia e promover um desenvolvimento global mais robusto, mais verde e mais equilibrado. O desenvolvimento é a chave para o bem-estar das pessoas. Enfrentando os severos golpes da Covid-19, precisamos trabalhar juntos para conduzir o desenvolvimento global em direção a um novo estágio de crescimento equilibrado, coordenado e inclusivo. Para este fim, gostaria de propor uma Iniciativa de Desenvolvimento Global:
– Manter o compromisso com o desenvolvimento como prioridade. Precisamos colocar o desenvolvimento no topo da agenda do marco global das políticas macroeconômicas, fortalecer a coordenação de políticas entre as principais economias e garantir a continuidade, consistência e sustentabilidade das políticas. Precisamos promover parcerias globais de desenvolvimento que sejam mais equitativas e equilibradas, forjar uma maior sinergia entre os processos de cooperação multilateral para o desenvolvimento e acelerar a implementação da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
– Manter o compromisso com uma abordagem centrada no povo. Devemos salvaguardar e melhorar as condições de vida das pessoas e proteger e promover os direitos humanos por meio do desenvolvimento, e garantir que o desenvolvimento seja para o povo e pelo povo, e que seus frutos sejam compartilhados entre o povo. Devemos continuar nosso trabalho para que as pessoas tenham mais felicidade, benefícios e segurança e alcancem o desenvolvimento integral das pessoas.
– Manter o compromisso com benefícios para todos. Devemos nos preocupar com as necessidades especiais dos países em desenvolvimento. Podemos empregar meios como suspensão da dívida e ajuda ao desenvolvimento para ajudar os países em desenvolvimento, particularmente os vulneráveis que enfrentam dificuldades excepcionais, com ênfase na abordagem do desenvolvimento desequilibrado e inadequado entre os países e dentro deles.
– Manter o compromisso com o desenvolvimento voltado para a inovação. Precisamos aproveitar as oportunidades históricas criadas pela última fase da revolução científico-tecnológica e as transformações industriais, redobrar os esforços para aproveitar as conquistas científico-tecnológicas para aumentar as forças produtivas reais e promover um ambiente aberto, justo, equitativo e não discriminatório para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Devemos promover novas forças motrizes do crescimento na era pós-Covid e, em conjunto, alcançar um desenvolvimento acelerado.
– Manter o compromisso com a harmonia entre o homem e a natureza. Precisamos melhorar a governança ambiental global, responder ativamente às mudanças climáticas e criar uma comunidade de vida entre o homem e a natureza. Precisamos acelerar a transição para uma economia verde e de baixo carbono e alcançar a recuperação e o desenvolvimento verdes.
A China se esforçará para atingir o pico de emissões de dióxido de carbono antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060. Isso exige um trabalho árduo tremendo e faremos todos os esforços para cumprir essas metas. A China aumentará o apoio a outros países em desenvolvimento no desenvolvimento de energia verde e de baixo carbono, e não construirá novos projetos de energia movidos a carvão no exterior.
—Persistir em tomar ações voltadas para resultados. Precisamos aumentar os investimentos para o desenvolvimento, avançar prioritariamente na cooperação em redução da pobreza, segurança alimentar, resposta à Covid-19 e vacinas, financiamento para o desenvolvimento, mudança climática e desenvolvimento verde, industrialização, economia digital e conectividade, entre outras áreas, e acelerar a implementação da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, de modo a construir uma comunidade global de desenvolvimento com um futuro compartilhado.
A China prometeu US $ 3 bilhões adicionais em assistência internacional nos próximos três anos para apoiar os países em desenvolvimento na resposta à COVID-19 e na promoção da recuperação econômica e social.
Terceiro, devemos fortalecer a solidariedade e promover o respeito mútuo e a cooperação de ganância compartilhada na condução das relações internacionais. Um mundo de paz e desenvolvimento deve abranger diferentes civilizações e diversos caminhos para a modernização. A democracia não é um direito especial reservado a um país individual, mas um direito de todos os povos do mundo.
A recente evolução da situação internacional mostra mais uma vez que a intervenção militar de forças externas e a chamada transformação democrática são extremamente prejudiciais. Precisamos defender a paz, o desenvolvimento, a igualdade, a justiça, a democracia e a liberdade, que são os valores comuns da humanidade, e rejeitar a prática de formar pequenos círculos de exclusão e o jogo de soma zero.
As diferenças e os problemas entre os países, dificilmente evitáveis, precisam ser tratados por meio do diálogo e da cooperação com base na igualdade e no respeito mútuo. O sucesso de um país não significa necessariamente o fracasso de outro, e o mundo é grande o suficiente para acomodar o desenvolvimento e o progresso comuns de todos os países. Precisamos buscar o diálogo e a inclusão em lugar do confronto e a exclusão.
Precisamos construir um novo tipo de relações internacionais baseadas no respeito mútuo, equidade, justiça e cooperação de ganhos compartilhados, e fazer o melhor que pudermos para expandir a convergência de nossos interesses e alcançar a maior sinergia possível.
O povo chinês sempre valorizou e se esforçou para perseguir a visão de paz, amizade e harmonia. A China nunca invadiu ou intimidará os outros, ou buscará hegemonia. A China é sempre uma construtora da paz mundial, contribuinte para o desenvolvimento global, defensora da ordem internacional e fornecedora de bens públicos. A China continuará a trazer novas oportunidades ao mundo por meio de seu novo desenvolvimento.
Quarto, devemos melhorar a governança global e praticar o verdadeiro multilateralismo. No mundo, existe apenas um sistema internacional, ou seja, o sistema internacional com as Nações Unidas em seu centro. Existe apenas uma ordem internacional, ou seja, a ordem internacional sustentada pelo direito internacional. E há apenas um conjunto de regras, ou seja, as normas básicas que regem as relações internacionais sustentadas pelos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.
A ONU deve erguer a bandeira do verdadeiro multilateralismo e servir como plataforma central para os países salvaguardarem conjuntamente a segurança universal, compartilharem conquistas de desenvolvimento e traçarem entre todos o curso para o futuro do mundo. A ONU deve permanecer comprometida em garantir uma ordem internacional estável, aumentando a representação e a palavra dos países em desenvolvimento nos assuntos internacionais e assumindo a liderança no avanço da democracia e do Estado de Direito nas relações internacionais.
A ONU deve avançar, de forma equilibrada, atuando nas três áreas de segurança, desenvolvimento e direitos humanos. Deve definir uma agenda comum, destacar questões urgentes e focar em ações reais, e garantir que os compromissos assumidos por todas as partes no multilateralismo sejam realmente cumpridos.
Sr. presidente,
O mundo está mais uma vez em uma encruzilhada histórica. Estou convencido de que a tendência de paz, desenvolvimento e progresso da humanidade não se deterá. Vamos fortalecer a confiança e enfrentar conjuntamente as ameaças e desafios globais e trabalhar juntos para construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade e um mundo melhor para todos.
*Xi Jinping se dirige ao presidente da 76ª Assembleia Geral da ONU, Abdula Shahid