“Se Washington não libertar Assange, a Estátua da Liberdade terá que ser devolvida à França”, afirmou John Shipton, pai do jornalista que expôs ao mundo os crimes dos EUA no Iraque e Afeganistão
Os EUA não podem dar lições sobre liberdade de expressão enquanto “o melhor jornalista do mundo” permanece na prisão, afirmou o irmão de Julian Assange, Gabriel, que estava acompanhado do pai, John Shipton, em uma manifestação diante da embaixada dos EUA na capital do México, no domingo (11) contra a extradição, véspera da chegada ao país do secretário de Estado, Anthony Blinken.
A manifestação foi convocada pela #24F Coalizão pela Vida e Liberdade Julian Assange. Em julho, o presidente mexicano Lopez Obrador revelou ter enviado uma carta ao presidente dos EUA, Joe Biden, pedindo a retirada, por Washington, do pedido de extradição de Assange, a quem ofereceu asilo político em janeiro de 2021.
No sábado (10), durante exibição do documentário Ithaka, sobre a luta da família e apoiadores de Assange contra a extradição, seu pai, John Shipton, disse em entrevista ao Sputnik Lat (em espanhol), que se Washington não libertar Assange, que só mostrou a verdade a todos e exerceu o direito de livre expressão, os EUA vão ter de “devolver a Estátua da Liberdade à França”.
Julian Assange, fundador do WikiLeaks e o jornalista que expôs ao mundo os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, assim como a tortura em Guantánamo, e desde então brutalmente perseguido por Washington, está numa prisão de segurança máxima no Reino Unido há 3,5 anos, com sua extradição aos EUA já concedida, decisão contra a qual a defesa do jornalista e sua família seguem lutando, tendo apresentado um apelo no dia 1º de julho.
“Eu quero agradecer ao México por sua hospitalidade e pelo apoio a Julian. Esse apoio tem sido tremendo, particularmente do presidente Obrador”, disse o pai de Assange, John Shipton.
Blinken “viaja o mundo dizendo que a liberdade de expressão é uma preocupação primordial em Washington, mas eles continuam a perseguir Julian Assange… ele é um símbolo mundial da liberdade de expressão”, assinalou Gabriel Shipton, acrescentando que os Estados Unidos não podem dar lições sobre liberdade de expressão enquanto “o melhor jornalista no mundo” continua na prisão.
“Eu deixei uma carta com o presidente [Biden] explicando que Assange não cometeu qualquer crime sério. Ele não matou ninguém ou violou quaisquer direitos humanos. Ele exerceu sua liberdade. Eu disse a ele [Biden] que prender Assange significaria uma afronta permanente à liberdade de expressão”, disse AMLO.
No sábado, John Shipton e o irmão de Julian, Gabriel, participaram em um centro cultural de Los Pinos à apresentação do documentário Ithaka. Este filme, dirigido por Ben Lawrence, conta a saga da família, amigos e apoiadores de Julian Assange por sua libertação.
Aos participantes do ato de solidariedade a Asssange, seu pai disse que a perseguição de que Julian é vítima é “uma questão global em elementos particulares; uma é a aplicação extraterritorial das leis dos Estados Unidos, onde você quiser e quiser sequestrar alguém ou arruinar sua vida; isto é, aplicam leis extraterritoriais ilegais contra pessoas com as quais não concordam”.
John Shipton destacou que “o mundo está conosco, o apoio a Julian Assange é o exemplo máximo e o quebra-gelo é o México e o presidente López Obrador. Qualquer grande país sul-americano ou seus líderes, a oposição ou os presidentes como no caso do México, Colômbia, Chile e Argentina apoiam Julian, o mesmo acontece em cada um dos parlamentos da Europa; existe um grupo que o apoia. O Conselho Europeu o declarou um jornalista protegido”.
Sobre a iminência da extradição, ele assinalou que Julian “tem um recurso perante o Tribunal para que seja revisto; se prosseguir, será decidido nos próximos quatro meses”.
Em violação da lei internacional e da própria lei de extradição EUA-Reino Unido, o governo Trump travestiu o caso e o que era a manifestação do direito de livre expressão e do povo saber a verdade sobre o que aconteceu no Iraque e Afeganistão, realizado em conjunto com os maiores jornais do mundo, passou a ser chamado de “espionagem” e “hackeamento”, com Julian ameaçado de 175 anos de cadeia em penitenciária de segurança máxima, ou seja, na solitária. O que foi continuado por Biden.
A apresentação do pedido de extradição do jornalismo se deu após a CIA discutir o sequestro e assassinato de Assange, em paralelo à espionagem cometida contra ele quando asilado na embaixada do Equador, e violando acintosamente o sigilo cliente-advogado, como investiga atualmente um tribunal espanhol.
Entre os crimes de guerra provados por Assange, está o chamado “assassinato colateral”, em que um vídeo do próprio Pentágono registra como um helicóptero dos EUA metralha e mata dois jornalistas da Reuters e mais uma dezena de civis desarmados em Bagdá, durante a ocupação. Um crime provado e que segue impune, enquanto Assange é perseguido e está ameaçado de morte numa prisão imperial. Em síntese, Assange se tornou o principal preso político no mundo da atualidade.
PAI AGRADECE APOIO DO MÉXICO E DO PRESIDENTE AMLO
John Shipton concedeu uma entrevista ao Sputnik Lat, em que agradeceu ao presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO), por seu papel na busca da libertação de Assange.
“O presidente Obrador deu uma contribuição muito significativa e profunda para a liberdade de Julian Assange no mundo. Ele foi o primeiro presidente que disse que Julian Assange deve ser livre. E se os Estados Unidos não fizerem isso, então a Estátua da Liberdade tem que ser levada de volta para a França. Porque não será mais apropriado que ela esteja nos EUA.”
SPUTNIK: Você acha que o governo do México pode realmente fazer algo para impedir a extradição?
JOHN SHIPTON: No mundo da política, palavras são ações. O presidente Obrador já tomou uma atitude profunda dizendo que Julian Assange é bem-vindo no México. E que Julian é um símbolo de liberdade de imprensa em todo o mundo.
S: Você acha que o caso Assange está mostrando a verdadeira face da ‘liberdade’ nos EUA?
JS: Julian junto com Chelsea Manning e muitas outras pessoas conseguiram mostrar o que Washington é; não o povo dos EUA, mas Washington; a atitude de Washington e como Washington governa em seu império.
S: Qual é o próximo passo?
JS: O próximo passo é apelar a um tribunal superior para a revisão da sentença dos magistrados de Julian Assange. Rejeitamos seus principais argumentos e dizemos que estão errados.