Na virada do ano, milhões ficarão sem ajuda nenhuma diante da carestia e do desemprego explosivo
Na virada do ano, 59 milhões de brasileiros deixarão de receber o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional. O governo Bolsonaro deixará milhões de brasileiros sem renda a partir de 1º de janeiro e não vai colocar nada no lugar que possa ajudar este contingente de pessoas a atravessarem o próximo período, em que a pandemia de Covid-19 continuará interferindo na economia brasileira.
Dos 68 milhões de brasileiros que receberam o auxílio emergencial para enfrentarem a crise econômica provocada pela pandemia que levou à suspensão de atividades econômicas, ao fechamento de empresas e ao desemprego de milhões de pessoas, apenas 19 milhões que recebem Bolsa Família continuarão a contar com alguma ajuda no próximo ano.
Frente a este quadro, Paulo Guedes decidiu tirar férias, mas teve que voltar atrás, após repúdio geral. Onde já se viu um ministro da Economia querer sair de férias num momento tão grave como este? Ele se comporta assim porque, em oposição à realidade, vive vendendo ilusões de que a economia está se recuperando e que está no caminho certo.
Na sexta-feira (18), Guedes declarou que a economia crescerá pelo menos 4% em 2021, sem apresentar nada consistente que indique essa tendência de crescimento. Ou seja, a economia está afundando, o Brasil batendo recorde na taxa de desemprego, a pandemia avançando, e, mesmo assim, tirar uma folga de 18 de dezembro a 8 de janeiro de 2021, para Guedes, não há problema.
É exatamente nesse momento em que a pandemia está recrudescendo, com o aumento do número de contágios e de mortes, que a economia não dá sinais de que vai sair da recessão, que reaparecem de forma mais dramática os “invisíveis” e os “ignorados” pelo governo Bolsonaro, totalmente desamparados e sem qualquer renda. E é neste momento que o desemprego bate recorde e a carestia atinge milhões de lares brasileiros.
Mais delirantes que as previsões do guru econômico de Bolsonaro, são as atitudes do próprio Bolsonaro, que em meio a mais de 186 mil mortes registradas no País, continua atuando para sabotar quaisquer medidas de enfrentamento à crise sanitária. Até agora, o plano do governo de vacinação para a população não tem data de início nem indica quais vacinas vão ser usadas efetivamente no processo, nem mesmo a existência de seringas e agulhas para se garantir que as pessoas possam ser imunizadas.
O auxílio emergencial é considerado como única fonte de renda para 36% das famílias, que receberam pelo menos uma parcela do benefício neste ano, segundo pesquisa do Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (21). Com o corte da renda emergencial de R$ 600 para R$ 300 pelo governo Bolsonaro, 75% dos beneficiários tiveram que reduzir a compra de alimentos e remédios, aponta a pesquisa.
Neste ano, ainda que o auxílio tenha ajudado muitos brasileiros nas compras de alimentos, as famílias, principalmente as mais carentes, diante da explosão da inflação, estão passando por dificuldades para comprar alimentos do dia a dia.
Segundo o IPCA, de janeiro a novembro, os preços dos alimentos subiram 12,14% – o maior índice desde 2002. Com a ausência de medidas de regulação e controle de preços e produtos para o mercado interno, o óleo de soja subiu 94,10%, o arroz apresentou alta de 69,50%, a batata-inglesa aumentou em 55,90% e o tomate bateu alta de 76,51%. Além disto, a carne aumentou 13,90%, o frango, 14,02%, hortaliças e verduras tiveram alta de 17,68%, o pão francês subiu 4,74%, o ovo de galinha, mais 9,47% e frutas, alta de 17,49%.
O corte pela metade no benefício também acelerou, pela retração no consumo popular, o ritmo de alta do desemprego no País. A taxa de desemprego bateu na casa dos 14,6% no trimestre encerrado em setembro – atingindo 14,1 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. Economistas já apontam que, com o fim do auxílio emergencial, o desemprego vai explodir. Isso ocorrerá pela busca por emprego desses milhões de brasileiros que estavam sobrevivendo com o auxílio, e o mais grave é que dificilmente encontrarão uma oportunidade diante da retração econômica geral.
A economia brasileira, que desabou no segundo trimestre por conta da pandemia, e apresentou uma recuperação de 7,7% no terceiro trimestre, já demonstra desaceleração.
“Depois de crescer 5,23% em junho, reduziu o ritmo para 2,42% em julho, 1,63% em agosto, 1,68% em setembro e apenas 0,86% em outubro, justamente o período em que, pelas festas de fim de ano, a economia deveria estar acelerando. Importante prenúncio de recessão”, destacou o economista e professor Nilson Araújo de Souza, em entrevista ao HP. O economista salientou que esse “crescimento” do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, se deve ao auxílio emergencial e demais medidas que foram aprovadas pelo Congresso Nacional.
Ao contrário de Guedes, o Banco Central estima uma queda de 4,4% do PIB este ano e alta de 3,8% em 2021. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) preveem uma recessão da economia brasileira de 5,8% e 5%, respectivamente, este ano. Para 2021, o FMI vê crescimento de 2,8% e a OCDE, de 3,6%.