“Esta CPI não vai aceitar de maneira nenhuma — não estou dizendo que é o caso — laudos médicos graciosos com o propósito de dificultar os nossos trabalhos”, afirmou Arthur Maia, presidente da comissão. Relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que o coronel tentou obstruir trabalhos de investigação
Não deu certo a tentativa de escapulir de depor na CPI do Golpe, no Congresso Nacional. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), informou ter enviado ao CRM (Conselho Regional de Medicina) o laudo médico apresentado pelo coronel Jorge Eduardo Naime para faltar ao depoimento marcado para esta segunda-feira (26).
Tática velha e surrada foi desmascarada. O coronel havia sustentado falta de condições de saúde para prestar depoimento aos parlamentares, por “quadro depressivo”, mas junta médica do Senado considerou que ele estava apto para comparecer à reunião para depor.
Antes que o resultado saísse, o coronel, que está preso, recuou e decidiu depor na CPI do Golpe.
MAIA NÃO ACEITOU SER ENGANADO
O presidente da CPMI disse ter encaminhado os dois atestados para que o CRM questione o médico de Naime sobre a razão de os laudos apresentarem diagnósticos “diametralmente opostos”, disse Arthur Maia.
“Esta CPI não vai aceitar de maneira nenhuma — não estou dizendo que é o caso — laudos médicos graciosos com o propósito de dificultar os nossos trabalhos”, afirmou Maia.
Na mesma direção, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) declarou que o questionamento do atestado médico é uma medida para inibir tentativas de “embaraçar” o transcorrer dos trabalhos investigativos.
“A comissão não vai permitir que ações dessa natureza, de tentar burlar e impedir os trabalhos desta Comissão, possam se repetir”, repetiu a senadora.
Na oitiva, Naime afirmou que a Polícia Militar “falhou” ao não conter os manifestantes de extrema-direita em 8 de janeiro. O coronel era chefe do DOP (Departamento Operacional) da PMDF (Polícia Militar do Distrito Federal) e está preso há 5 meses por, segundo as investigações, omissão.
Em resposta aos questionamentos dos parlamentares o ex-chefe da PM do Distrito Federal tentou se fingir de vítima e jogou as responsabilidades sempre sobre as costas dos outros. Alegou que não sido informado das ameaças golpistas. E explicou que saiu de licença por questão de saúde.
No entanto, isso não o impediu de ir para a Praça dos Três Poderes – depois que a situação já estava controlada – crescer sobre um incauto arruaceiro bolsonarista que estava fazendo desordem. Também para não ir à CPI ele alegou que estava doente, mas foi desmascarado. Na CPI ele falou bastante e não deu sinal nenhum de que estava com alguma doença.
Com semelhante farsa, o coronel foi aplaudido pelos parlamentares bolsonaristas e alguns o trataram como “herói”. Ao gosto dos parlamentares da oposição ele insistiu para que se prestasse atenção aos supostos relatórios da Abin.
Ignorou, entretanto, que o ministro da Justiça, Flávio Dino, um dia antes, alertou o governador Ibaneis Rocha para a possibilidade de ataques na Praça dos Três Poderes.
DEFESA E TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADE
O coronel alegou que o setor dele na PM não estava incluído em grupo de WhatsApp que havia recebido alertas de inteligência atualizados sobre as mobilizações.
Segundo ele, autoridades da segurança pública participavam do grupo e poderiam ser os responsáveis por não repassar as informações.
Tem sido assim. Sempre que um bolsonarista é pego em contradição, esse transfere a responsabilidade. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez isto durante os 4 anos de mandato. E todos os aliados que caíram foram abandonados pelo ex-chefe do Executivo.
ENTENDA O CASO DO ATESTADO MÉDICO
O militar da PMDF, que foi convocado para prestar depoimento na condição de testemunha, chegou a apresentar atestado médico para não depor na CPMI.
A secretaria do colegiado, no entanto, pediu reavaliação do laudo pela junta médica do Senado Federal. O coronel passou pela checagem médica e garantiu que, independentemente do laudo, iria falar na comissão.
Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), havia autorizado que Naime ficasse em silêncio no depoimento, em resposta ao pedido da defesa do depoente, que alegava problemas psicológicos do militar.
Mas ele decidiu responder às perguntas dos senadores e deputados membros do colegiado.
M. V.