João Goulart Filho, candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL), defendeu, nesta quarta-feira, em entrevista ao jornal “O Popular”, de Goiás, que os salários brasileiros têm que ser elevados como condição indispensável para que o país possa sair da crise. “As nossas empresas estão com 25% de capacidade ociosa, algumas chegam até a 40%, e estão fechando suas portas por falta de compradores. O aumento dos salários, que nós vamos implantar, vai expandir o mercado, ativar a economia e, com isso, a produção vai ser retomada”, disse o candidato.
João Goulart destaca ainda que não adianta fugir desse assunto “como estão fazendo os demais candidatos”. “Temos que encará-lo de frente. Ou então a crise persistirá. O salário mínimo no Brasil é muito baixo, e isso mantém estrangulado o nosso mercado interno”, avaliou João Goulart. “A concentração da renda, fruto dos frequentes ajustes neoliberais, impede o nosso desenvolvimento. Ao mesmo tempo que temos um salário que é menor do que o do pequenino Paraguai, os bancos que atuam no Brasil estão com a maior rentabilidade do planeta. Batem recordes atrás de recordes de lucros. Isto não pode continuar”, observou.
Para o candidato, a violenta desigualdade social da qual o povo brasileiro é vitima, não é apenas injusta e desumana. “Ela é um empecilho real à retomada do crescimento econômico”. “Os recursos que se concentram no topo da pirâmide não são usados para ativar a economia, eles vão para a especulação financeira e, muitas vezes, para fora do país. Segundo o Banco Central, sessenta mil pessoas têm aplicados no exterior R$ 2 trilhões”, afirmou o presidenciável.
“Com o mercado interno asfixiado, as nossas empresas se inviabilizam. Não têm para quem vender”, denunciou. “Nós vamos encarar de frente essa situação. Vamos duplicar o salário mínimo em quatro anos, elevando em 20% já no primeiro ano o seu valor real de compra”, garantiu. “Com isso os demais salários e as aposentadorias também vão se fortalecer”, continuou.
“Me surpreende que uma situação tão grave como esta que o país está vivendo não esteja sendo debatida como deveria ser nessas eleições”, observou Goulart. “Candidatos como Ciro Gomes, Haddad e Marina, até falam em desigualdade social, mas, na hora de propor a solução, nenhum deles defende aumento de salário”, observou. “É estranho, porque eu não vejo outro caminho para sair da crise que não seja aumentar poder de compra da população. Sem ampliação do mercado interno não há como crescer as vendas e a produção. Manter os salários como estão, recuperar crédito perdido ou dizer que o bolsa família é o caminho, como eles fazem, não resolve o problema. A redução da desigualdade se dá pelo aumento dos salários”, enfatizou João Goulart.
Outra medida que João Goulart considera essencial para a retomada do crescimento é a redução dos juros praticados no país. Aí, segundo ele, também há muita condescendência dos candidatos com os especuladores. “Parece que o BC é intocável. Com essa taxa Selic de 6,5%, o país é obrigado a pagar, só de juros, quase R$ 400 bilhões todos os anos”, observou. “Estamos vivendo uma verdadeira ditadura do mercado financeiro. O orçamento é desviado em grande parte para as despesas financeiras. Não sobram recursos para a saúde a educação, a segurança”, avaliou Goulart. “Não há como as empresas produzirem com esses juros. O país não suporta isso. Os empresários estão indo para o mercado financeiro e abandonando a produção”, denunciou. “Vamos reduzir os juros para os patamares internacionais, que estão em 0,5%”, acrescentou.
O candidato do PPL criticou também a política de favorecimento das importações. Segundo ele, essa política é desastrosa para a nossa economia e agrava o desemprego. “Nós vamos taxar a importação de produtos com similares nacionais. Temos que proteger as nossas empresas. Desta forma estaremos garantindo o funcionamento de nossas empresas e de nossa economia e os empregos dos trabalhadores”, afirmou o filho do ex-presidente Jango. Ele chamou a atenção para a gravidade dos níveis de desemprego que estão ocorrendo no país atualmente. “São mais de 13 milhões de desempregados e outros 13 milhões no subemprego”, denunciou.
Perguntado por uma ouvinte/internauta sobre a reforma da Previdência, João Goulart reafirmou que, em seu governo, nenhum direito, sejam eles trabalhistas ou previdenciários, “será retirado dos trabalhadores”. “Esses direitos foram conquistados pelo trabalhismo e não serão flexibilizados”, prometeu. “Pelo contrário”, disse ele, “nós vamos avançar na conquista de mais direitos, porque é assim que as coisas têm que ser”. “Nós do PPL sempre dizemos que direitos sociais, da pessoa humana, não podem retroceder, só podem avançar”, afirmou João Goulart.
SÉRGIO CRUZ
Quando a empresa intermedeia o pagamento de salários e tributos (consumidores), caso do Brasil, a empresa controla a oferta e procura no mercado.