“Não ao retorno dos EUA à base de Bagram”, respondem Afeganistão, Rússia, China, Índia, Paquistão e Irã

Americanos se retiram da base de Bagram (Arquivo)

Segundo a lógica mafiosa de Trump, foram os EUA que teriam construído a base, durante a invasão do Afeganistão e, portanto, teriam o “direito” a pegar de volta

Diante do anúncio, pelo presidente Trump, de que a Base Aérea de Bagram, no Afeganistão, tinha de ser “devolvida” aos EUA, os países vizinhos – Rússia, China, Índia, Paquistão, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão – se uniram ao governo de Cabul para rechaçar, como “inaceitáveis” as “tentativas de países de implantar sua infraestrutura militar no Afeganistão e em estados vizinhos”.

Parece que Trump se apercebeu de ter esquecido de reivindicar a posse de Bagram, naquele seu monumental arroubo de início de segundo mandato, em que exigira a anexação do Canadá, da Groenlândia, do Canal do Panamá e do “Golfo da América”, e resolveu corrigir o deslize.

Bem ao seu modus operandi, Trump ameaçou o Afeganistão de “coisas ruins” se não concordasse com o estupro.

Como se sabe, a insurreição do Talibã expulsou do Afeganistão, no governo Biden, os ianques, como visto naquela inglória revoada de Cabul.

Segundo a lógica mafiosa de Trump, foram os EUA que teriam construído a base e, portanto, teriam o “direito” a pegar de volta.

A nota conjunta contra a recaída norte-americana observou, ainda, que tais tentativas “não servem aos interesses da paz e estabilidade regionais”.

A oposição à descabida exigência de Trump foi manifestada em uma declaração conjunta divulgada após a 7ª reunião das “Consultas do Formato de Moscou” sobre o Afeganistão, realizada na capital russa no nível de representantes especiais e altos funcionários.

O ministro interino das Relações Exteriores do Afeganistão, Amir Khan Muttaqi, participou das negociações com a presença do Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na terça-feira (7).

Embora tenha sido durante o primeiro mandato de Trump que Washington assinou o acordo de retirada de fevereiro de 2020 com o Talibã em Doha, ele posteriormente culpou seu sucessor, Biden, pelo indisfarçável fracasso e caótica saída das tropas americanas do país depois de 20 anos de invasão.

Localizada na província de Parwan, a base oferece acesso direto a Cabul e aos principais corredores de transporte do Afeganistão – e, principalmente, fica a uma curta distância do Irã, Paquistão, China e do flanco sul da Rússia.

“Um dos motivos pelos quais queremos a base é que ela fica a uma hora de distância de onde a China fabrica suas armas nucleares”Trump teve a desfaçatez de dizer.

Pequim rejeitou imediatamente a lógica. “A China respeita a independência, a soberania e a integridade territorial do Afeganistão. O futuro do Afeganistão deve estar nas mãos do povo afegão. Incitar tensão e confronto na região não será apoiado”,  rebateu Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.

O chefe de gabinete do Ministério da Defesa do Afeganistão, Fasihudin Fitrat, afirmou que é impossível um acordo de tal natureza com os Estados Unidos.

“Recentemente, algumas pessoas afirmaram ter iniciado negociações com o Afeganistão para recuperar a base aérea de Bagram”, disse Fitrat, em comentários divulgados pela imprensa local. “Um acordo, mesmo que seja sobre uma polegada do território afegão, é impossível”, concluiu.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *