O Brasil está governado por bando de ladrões
Meirelles cobrou atitude em nome do “mercado”, isto é, dos bilionários
O charivari aprontado nos últimos dias em cima da mal chamada “reforma da Previdência”, somente demonstra algo que todo mundo já sabe:
1) Meirelles não tem o menor escrúpulo nem limite.
2) Temer, com semelhante aprimoramento de caráter, não manda chongas nesse governo – que nem governo é, pois não governa coisa alguma. Apenas, em troca de uma propina, se submete a uma casta, estrangeira e interna, de sanguessugas que saqueiam por atacado o país.
Temer havia dito que estava difícil aprovar o ataque às aposentadorias dos trabalhadores. O que, aliás, é evidente. Não apenas, nem principalmente, porque até a maioria do atual Congresso consegue perceber a monstruosidade da medida – e a vigarice das supostas argumentações.
O leitor poderia lembrar que isso não importa para um Congresso composto, no conjunto, por uma tralha reacionária, corrupta e sem vergonha.
Mas importa, quando o pescoço deles está no cutelo. Pois o sujeito que votar nessa aberração está condenado a nem ficar perto da reeleição, que já é problemática – portanto, a perder o foro privilegiado e estacionar na Vara do Dr. Moro, do Dr. Vallisney, do Dr. Bretas ou de algum colega deles.
Porém, Meirelles quer que a “base governista” se dane. Ele e esses terroristas bilionários da Bolsa e outros antros, que a mídia chama de “mercado” – bancos, fundos e outros picaretas financeiros.
Essa malta quer colocar a mão no dinheiro da Previdência, seja lá de que forma for. Se isso vai provocar uma chacina eleitoral no PMDB ou no “centrão”, eles não estão nem aí para isso. Afinal, para que servem o PMDB ou o “centrão”?
Assim, Temer voltou atrás em menos de 24 horas e agora garante que vai dar até as cuecas para que os trabalhadores só se aposentem depois de morrer. Literalmente: “toda a minha energia está voltada para concluir a reforma da Previdência” (“toda”? Não sobrou energia para mais nada? Papagaio!).
Segundo Temer, “se não quiserem aprová-la, paciência, mas eu continuarei a lutar por ela”, complementando que desistir de achacar trabalhadores, que querem a justa aposentadoria por décadas de trabalho, é pior que ser derrotado.
Como se pode ver, estamos diante de um candidato a herói da canalha, isto é, um lambe-sola ordinário, ladrão dos que trabalham, para favorecer vagabundos que se cevam no dinheiro público.
Meirelles declarou que acabar com a previdência pública – ele não disse assim, mas é o que quer – para arrancar mais dinheiro dos trabalhadores, é remédio para tudo: para os juros altos, para os salários baixos, para as exportações, para as importações, para a crise da economia, e, provavelmente, também para a infidelidade conjugal, para o resfriado, o joanete, a espinhela caída e o bicho-de-pé.
Disse ele que a maior despesa do governo é a Previdência, que vai bater, sem a reforma, em 80% dos gastos federais (?).
Obviamente, é mentira: as despesas financeiras (juros, amortizações, etc.) constituem 50,4% dos gastos do governo neste ano, enquanto a Previdência constitui 19,14% desses mesmos gastos (cf. Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal, LOA 2017 – Execução Orçamentária por Grupo Natureza de Despesa e Execução Orçamentária por Função, 06/11/2017).
Poderíamos lembrar que misturar o Orçamento Fiscal com o Orçamento da Seguridade, em que está a Previdência, é coisa de escroque, pois o último tem fontes próprias – as contribuições sociais e as contribuições de trabalhadores e empresas para a Previdência – que garantem o seu financiamento.
Mas o que essa quadrilha está fazendo com as fontes de financiamento – isto é, o dinheiro que o povo paga de impostos, taxas e contribuições – nesses dois orçamentos?
Nos últimos 12 meses, Meirelles, Temer, e aquele sujeito que o Itaú colocou na presidência do Banco Central (BC), passaram, em juros, do setor público para os bancos privados, fundos estrangeiros e outros especuladores, a quantia de 415 bilhões, 117 milhões, 904 mil, 638 reais e 96 centavos (cf. BC, Nota de Política Fiscal, Quadro III, 30/10/2017).
Desde que Meirelles ajustou as nádegas na Fazenda, foram R$ 710 bilhões – dinheiro público entregue, como juros, a esses parasitas.
Além disso, somente o povo paga impostos – pelo menos seriamente.
Em 2017, sem contar o infame Refis, ou o perdão das dívidas com a Previdência rural, o total de privilégios fiscais, isenções no pagamento de tributos concedidas pelo governo federal, montará em uma perda de receita de 284 bilhões, 846 milhões, 251 mil e 843 reais. (cf. Receita Federal, DGT 2017).
Acontece que 53% do total dessa perda – 151 bilhões, 27 milhões, 87 mil e 205 reais – recai sobre as fontes de financiamento da Previdência.
Não é tudo. Resta dizer que o governo vem desviando sistematicamente uma parte das receitas da Previdência, através da Desvinculação das Receitas da União (DRU); antes de Meirelles e Temer, esse desvio era de 20% do total (portanto, 1/5, o que era já um genocídio).
Agora, esse desvio foi aumentado para 30% das receitas. O que quer dizer que quase 1/3 de suas receitas são tiradas da Previdência (e demais setores da seguridade social) – e apenas para transferir aos especuladores, sob a forma de juros.
Restam, ainda, os sonegadores e caloteiros contumazes, que devem R$ 452 bilhões à Previdência. Ainda que, segundo a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, somente são “recuperáveis” cerca de 42% desse total – R$ 189,84 bilhões – isso não é pouca coisa.
Porém, a solução do governo para essa dívida com a Previdência tem sido a de premiar os devedores, anulando a dívida – como aconteceu com parte da dívida da JBS (v. matéria nesta página). A JBS, que disputa com a Odebrecht o título de empresa mais corrupta – e mais beneficiada pelos governos do PT – no país, é a maior devedora da Previdência.
É preciso, pois, ser um depravado – como é o caso do sr. Meirelles – para dizer que o grande problema do país é a Previdência, quando o próprio Meirelles tem sido o seu maior assaltante.
Mas alguma coisa nós progredimos. Em 1914, no Senado, Rui Barbosa pronunciou a mais famosa de todas as suas frases:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Hoje, ao ver nulidades e ladrões – os Meirelles, os Temers – não mais nos vem desânimo, nem vontade de rir da honra, nem vergonha de ser honesto. O que sentimos é nojo, vontade de vomitar e de mandá-los ao lugar devido – o que, aliás, cedo faremos.
Não é um progresso, leitor?
CARLOS LOPES