“Que se institua uma renda básica emergencial ampla para as pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade econômica, além de dar muito recurso ao SUS”
“A fala do presidente é absolutamente irresponsável”, afirmou a economista Mônica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), de Washington, sobre o pronunciamento de Jair Bolsonaro minimizando a pandemia do coronavírus e defendendo o fim da quarentena e a volta da abertura do comércio e das escolas.
“É difícil até descrever o grau de irresponsabilidade dessa fala porque ela revela um total desconhecimento da ciência e do que o infectologistas têm dito da doença. Ela revela total ignorância da economia, de como ela funciona e a total ignorância a respeito de como o Brasil e os países desenvolvidos vão responder a essa crise”, enfatizou em entrevista ao GloboNews.
Para a especialista, Bolsonaro, ao invés de fazer esse tipo de discurso, “sem qualquer embasamento como ele acabou de fazer, era bom que ele estivesse trabalhando para fazer as medidas necessárias para atender a população vulnerável sobre as quais, eu e outros economistas, temos falado com insistência nas duas últimas semanas”.
“As pessoas vão ficar desassistidas durante muito tempo. Esse não é o momento de preciosismo em relação à dívida/PIB, preciosismo com déficit fiscal. Se tem um estado de calamidade declarada é exatamente para a gente fazer as medidas que têm que ser feitas.
“Essas medidas têm que atender não só as pessoas que recebem bolsa família, mas sobretudo os cerca de 36 milhões de desassistidos por qualquer programa social, além de dar muito recursos ao SUS”.
Mônica de Bolle parabenizou a ação dos governadores e prefeitos, “estão no caminho certo, fazendo o que o governo deveria estar fazendo, protegendo a população”, disse.
“O governo deveria estar articulando um pacote de assistência à população e à economia em geral. Vários países estão fazendo isso”.
A economista citou o pacote aprovado nos EUA de dois trilhões de dólares que inclui uma renda básica emergencial.
“Hoje está sendo aprovado aqui nos EUA, país onde eu moro, um pacote de dois trilhões de dólares que inclui uma renda básica emergencial, isto é o Partido Republicano fazendo uma renda básica emergencial para dar apoio aos mais vulneráveis. Um partido que sempre foi contrário a esse tipo de coisa, mas que hoje reconhece a absoluta necessidade de se fazer uma coisa desse tipo”.
“Tenho defendido o mesmo para o Brasil. Que se institua uma renda básica emergencial ampla para as pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade econômica, de precariedade econômica, que trabalham no setor informal, autônomas, que têm emprego mas não tem segurança suficiente, enfim toda uma rede social que precisa ser reforçada. O Brasil está neste momento perdendo um tempo precioso”.
Para Mônica de Bolle, o volume de gastos na economia no Brasil poderiam chegar até 10% do PIB, dado a situação de emergência.
“Se chegar a 10% do PIB, que seja. O país continua a existir ainda assim. Só que é essa conscientização que a gente tem que ter. Hoje o que tem que ser feito é salvar as pessoas e, obviamente, a economia também. As pessoas e a economia, nessa ordem”, completou.