
“Não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos. Não existe inovação, reindustrialização, crédito acessível. O que existe é a paralisia nos investimentos produtivos com sequelas para toda a sociedade”, afirma Ricardo Alban
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros (Selic) nos “estratosféricos” 15% ao ano “é injustificada e agrava sufoco da indústria”.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, alertou que “não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos. Não existe inovação, reindustrialização, crédito acessível. O que existe é a paralisia nos investimentos produtivos com sequelas para toda a sociedade”.
“Afinal, por que correr o risco de fazer investimento produtivo se é possível obter, sem esforço, um rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro?”, questionou Alban, após a decisão do Copom, na quarta-feira (17), ao cobrar uma política monetária mais favorável para quem produz.
A entidade estima que a taxa de juros real está hoje em 10,1% ao ano, mantendo o Brasil na segunda posição entre as maiores taxas de juros real do mundo, atrás apenas da Turquia.
A CNI avaliou que a decisão do BC “ignora os sinais claros de desaceleração da atividade econômica e queda da inflação, conjuntura que demanda urgência na redução de juros para evitar prejuízos maiores à economia e aos trabalhadores”.
“É essencial que o Banco Central inicie o necessário ciclo de cortes na Selic já a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em novembro, a penúltima de 2025”, cobrou a CNI, na nota.
A entidade destacou que as altas mensais do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vêm perdendo força mês a mês, desde fevereiro deste ano (1,31%); em março, (0,56%); em abril (0,43%); em maio e julho (0,26%), e em agosto (queda de -0,11%).
De acordo com a CNI, o esmorecimento do IPCA está atrelado “a fatores favoráveis ao arrefecimento da inflação dos preços de alimentos, em desaceleração por conta da apreciação do real frente ao dólar, e os preços de bens industriais, em desaceleração por conta da safra recorde”.
Além disso, destacou que “as expectativas de inflação para o final de 2025 têm sido revistas para baixo há 14 semanas seguidas, segundo o Relatório Focus, caindo de 5,50%, no fim de maio, para 4,83%, na segunda semana de setembro”.
A CNI também apontou que a atividade econômica mostra clara desaceleração. Conforme números do IBGE, o crescimento do PIB foi de 0,4% no segundo trimestre de 2025, o que é bem menor do que o observado no primeiro trimestre (1,3%).
“É importante ressaltar que, no segundo trimestre de 2025, todos os segmentos da indústria registraram queda no PIB, exceto a indústria extrativa. E vale destacar que a indústria de transformação e a de construção tiveram dois trimestres seguidos de retração”, ressaltou a CNI. “Para piorar, os números do começo do terceiro trimestre não são animadores e indicam continuidade da trajetória de desaquecimento da atividade. Em julho, o IBC-Br, indicador do Banco Central que serve como prévia do PIB, caiu 0,5%, com retração em todos os setores: agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%)”, completou.